As Bases Constitutivas da Natureza Missionária de Israel

Autor: Jário Carlos da Silva Jr
Gênesis 12:1-3.

INTRODUÇÃO

A vontade soberana de Deus, fez com que Paulo, um filho de Abraão, fizesse conhecido o Evangelho entre os gregos, cumprindo assim a dívida missionária, desde Gn 12 creditada à Abraão e seus filhos. É importante notar igualmente que já na época de Paulo todo Judeu fiel orava pela manhã e entre as muitas BERACHOTs pronunciadas estava aquela que dizia: BARUCH ATÁ ADONAI ELUHEINU MÉLECH HAOLAM SHELÓ ASSANI GOI. Aqui, vale ressaltar, que o sentido da Berachah que pronunciavam não era racial, mas religioso. Portanto, poderíamos traduzir GOI, literalmente “gentio”, como “idólatra”. É assim que até hoje o Sidur Judaico o traduz.

Tal desenvolvimento da piedade judaica neste período unido a algumas passagens má interpretadas dos Evangelhos tem feito com que muitos entendam o Israel de então como portador de um nacionalismo antiestrangeirista e assim exagerem ao ressaltarem a culpa missionária de Israel naqueles dias. O fato é que mesmo naqueles dias o processo missionário em Israel não havia estancado. A prova disso é que as bases missionárias fornecidas pelo texto que lemos ainda vigoravam no Israel dos dias de Jesus e da Igreja Primitiva. A única diferença era que a base última, na qual todo o alicerce repousava havia sido rejeitada por aqueles que o próprio salmo reconhece como “construtures”. Por isso, Deus levantou novos construtores que assumiram a velha responsabilidade missionária de Israel.

* Tudo isto deve nos fazer temer e entender que a questão não se resume ao Fazer Missionário dos Escolhidos, mas ao Perceber os Sinais dos Tempos em que o Espírito de Deus move e renova este Fazer Missionário. Um povo que obedecia a sua vocação missionária, mas que não mais discernia a voz dAquele que o vocacionara; um povo que cantava ADONAI ROÍ, mas que não mais conhecia a voz do Seu pastor. O problema não estava com a Ação Missionária, mas com a Comunhão Diária do povo com Deus. Daí, nossa preocupação com um discurso missionário que acentua a nossa tarefa missionária, sem mesmo ter consciência da Natureza Missionária do Povo de Deus. É a popularizada idéia de que ao Povo de Deus compete o fazer missões, e só. Neste sentido é que precisamos, à luz do Israel de Deus, aprender que bases constitutivas, da nossa própria Natureza Missionária como Povo de Deus hoje. Neste texto estão presentes, pelo menos, três momentos de tempo orientadores:

1. O Antes Atualizado, quando antes de todas as coisas Israel é escolhido para atualizar tal eleição por meio de um vida de santidade.
2. O Agora Ordenado, quando a benção de Deus para as nações se visualiza à medida que Israel é benção em meio aos povos.
3. O Amanhã Profetizado, quando os povos se converterão e se submeterão à Soberania de Deus exercida através do Seu povo.

I. A Exigência de Separação dentre os Povos ( O ANTES ATUALIZADO )

Ênfase do texto: “Sai…” – LÊCH – HALACH (raiz) – Imperativo (modo)
IDÉIA: Um processo desencadeado de modo inegociável.

I.1 – Sair, por que?
A ELEIÇÃO DIVINA: à parte de qualquer discriminação e de razões caprichosas, tal separação nasceu no coração de Deus, e portanto, possui razões que desconhecemos:

“Eu sei que Deus me escolheu por razões que desconheço porque eu não vejo em mim nenhuma razão para que Ele me escolhesse”. Charles Spurgeon

Amei a Jacó e aborrecí a Esaú – Gn 25:23 (primeiro livro do V.T.) – Ml 1:2 (último livro do V.T.)- Rm 9:12s (o coração da Teologia do N.T.)

I.2 – Sair, para que?
A REVELAÇÃO DA SANTIDADE DIVINA: à parte de qualquer mistério insondável do coração de Deus, local onde nasce tal separação, agora se revela nitidamente a sua razão conhecida: separação dentre os povos para a santidade.

“Em virtude de sua eleição…é Israel o ‘povo santo’. Essa santidade primariamente dom de Deus, é… tarefa ,no sentido de Israel ter de comprovar-se como santo” “Há várias proibições…que remontam, em última análise, à intenção de preservar Israel de práticas contrárias à sua fé e, assim, conservá-lo santo. Se não quiser renunciar a si mesmo e, assim, perder sua missão, deverá Israel manter-se fiel…a seu modo de existir todo diferente”. Notker Füglister

Vós me sereis um reino sacerdotal e um povo santo – Êx 19:6 (Comissão de Israel)- I Ped 2:9 (Inclusão dos Gentios) – Apoc 5:9-10 (Conclusão da História)

II. A Existência em Função dos Povos ( O AGORA ORDENADO )

Ênfase do texto: “Sê (tu uma) Benção” – VEHIEH – HAIAH (raiz) – Imperativo (modo)
OBS: O pronome da 2a. Pess. Sing. (TU) e o artigo indefinido (UMA), não aparecem no Hebraico.

IDÉIA: Uma ordem destinada à Natureza e não simplesmente às atividades de Abraão e do povo que dele procedesse.

“Israel existe para as nações…a separação dentre os povos é necessariamente também uma separação para os povos…a eleição feita por Deus não representa um fim em si…ela aconteceu com vistas a um fim de ordem superior…ao qual o povo eleito tem de corresponder”. Notker Füglist er

1. Um ponto de exclamação e interrogação para os povos:

Profecia de Moisés – Dt 4: 6
Profecia de Isaías – Is 61: 9
Profecia de Ezequiel – Ez 39: 21-23
Israel “presta o serviço de sinal luminoso”. J. Schreiner

2. Um santuário a favor dos povos:
Santuário através do Santuário: Promessa a ser crida na sua construção – Êx 25:8 e II Cn 7 Visão a ser obtida na sua utilização – Is 6. Profecia a ser cumprida no dia final – Zc 14: 6-9

Israel é “O Santuário que presencializa Iahwéh, no meio do mundo, entre os povos” N. Füglister

3. Um divisor de águas no meio dos povos. Gn 12:3

BENÇÃO – abençoarei os que desejarem a tua benção – Gn 3:15 – “porei inimizade”. Êx 17:16 – “Guerra do Senhor contra Amaleque”

MALDIÇÃO – amaldiçoarei os que desejarem a tua maldição

III. A Convergência pela Conversão dos Povos ( O AMANHÃ PROFETIZADO )

Ênfase do texto: “…em ti serão benditas todas as famílias da terra”
NIVREHU – Niphal (Grau que denota a ação passiva) – MISHPEHOT – referência explícita à celular mater da sociedade

IDÉIA: repete-se a idéia de desejo, só que agora o sujeito da ação não são os ímpios que desejam benção ou maldição sobre Israel, mas o Senhor que em Israel abençoa as famílias de toda a terra que desejarem a benção concedida a e através de Abraão, a e através de Israel, a e através de Seu povo.

1. Antecipação histórica:

1.1. Através da Participação no Culto do templo. I Rs 8: 41-43
1.2. Através da Submissão à Cidade de Jerusalém. Sl 87: 1-4
1.3. Através da Aceitação do Ministério dos Profetas

1.3.1. CHAMADO ÀS NAÇÕES – Ez 2:3; Jr 1:10
1.3.2. ORÁCULOS ÀS NAÇÒES – Is 13-23; Ez 25-32

Comentando a abertura missionária ocorrida em Israel, alguns autores dizem:
“comunidade que se esforçava por comprovar e purificar a sua fé, abria amplamente suas portas para os que, entre os gentios, temiam a Deus e se lhe queriam agregar; surgem idéias missionárias no intuito de propagar a comunidade pela conquista de indivíduos, sem levar em consideração a sua pertença étnica”. Eichrodt

Deus abre aos povos “a possibilidade de aceitá-los como membros na sua Aliança com o povo de Israel…, se aceitarem a tradição…e a constituição da Aliança…e tomarem partido por Iahwéh”, pois “o juramento pelo nome de Iahwéh vale como profissão de fé em Iahwéh”. Weiser

2. Concretização escatológica;
Is 25: 6; 60: 1-5 (Ap 21: 23-26); Is. 45:14 e 22-23 (Fl 2:9-11)

“Na hora da consumação do mundo, sucede a concorrência dos gentios. Peregrinam ao monte de Deus. É esta uma ideação segura do A .T.” . G. von Rad

“Os profetas descrevem em cinco traçados a escatológica peregrinação dos povos: a) É introduzida pela epifania de Deus. Sua Glória se manifesta ao mundo. b) Ressoa o apelo de Deus. c) À ordem divina, sucede a caminhada dos gentios. d) Termina no santuário universal. E) Doravante os gentios pertencem ao Povo de Deus. Participam do banquete de Deus sobre o monte universal”. J. Jeremias

“Dessa forma, se tornará o monte Sião dos tempos finais, como lugar da presença de Deus no meio de seu povo a romper todos os limites em sacramento da presença divina a abranger e renovar o mundo”. Füglister

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O autor é pastor presbiteriano,de Recife – PE, concluinte do mestrado em teologia com ênfase em exegese do VT, pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper do Instituto Presbiteriano Maackenzie-SP, e professor do Seminário Pentecostal do Nordeste e da Faculdade de Caruaru-PE.

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