Apocalipse – Cartas às Igrejas – Parte I – Estudo 3

Autor: Lincoln A. A. Oliveira
Apocalipse 2

Introdução

As cartas às sete igrejas (capítulos 2 e 3) é a parte mais bem conhecida do Apocalipse, basicamente por ser o trecho do livro de mais fácil compreensão. As igrejas em questão eram igrejas reais e tudo indica que o autor não pretendia ser apenas genérico colocando, nessas cartas, profecias concernentes a vários períodos da historia eclesiástica. O autor considerava a onda crescente de perseguição que assolava ou assolaria aquelas igrejas. Ele conhecia as necessidades das pessoas que efetivamente as freqüentavam.

Como vimos em estudo anterior, o número sete sugere a idéia de compleição ou perfeição. Ele é a soma de três, que simboliza o divino (pai, mãe e filho) com o quatro, que traz a idéia de mundo no sentido físico (os pontos cardeais, são quatro: Norte, Sul, Leste e Oeste). Portanto a mensagem às sete igrejas da Ásia Menor, a saber, Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardo, Filadélfia e Laodicéia, igrejas históricas, reais e conhecidas, transcendem a essas igrejas. Ela se destina às demais igrejas da Ásia Menor e de outras regiões. Ela se destina também às demais igrejas que vieram depois daquelas, incluindo as nossas igrejas atuais. Como a natureza humana é a mesma ao longo do tempo, com seus anseios, fraquezas e pecados, e a História evolui em ciclos, o conteúdo dessas cartas se mostra atual também para as igrejas e para os crentes de hoje.

Características Gerais das Cartas

Todas as sete cartas vão apresentar elementos comuns:

Cada carta é endereçada ao “anjo” da igreja (seu pastor);

Há a identificação do remetente (Cristo). Este remetente revela possuir profundo conhecimento de cada igreja, louva a igreja naquilo que ela tem de bom e demonstra seu desagrado pelo que ela tem de negativo;

Há uma parte final de aconselhamento e a promessa para os que permanecerem firmes e fiéis.

A Carta à Igreja de Éfeso – Fiel mas em Falta (Ap. 2:1-7)

Ao tempo da carta, Éfeso era uma grande e rica cidade, com várias camadas sociais, ricos, pobres, letrados e analfabetos. Era uma cidade culta, abastada e corrompida. O ponto positivo da igreja, elogiado na carta, era a fidelidade no trabalho cristão e na doutrina. Com seu olhar perspicaz, o autor da Carta, porém, observa um ponto fraco na igreja de Éfeso: “Tenho, porém contra ti que deixaste o teu primeiro amor”. Parece que a igreja, apesar de atuante e firme na doutrina, estava deixando de lado o verdadeiro motivo ou espírito do serviço Cristão: o amor. É possível que estivessem mais presos a um ativismo e a um formalismo doutrinário do que a uma verdadeira resposta, em amor, à ação e ao comando do Espírito de Deus.

A recomendação que Cristo faz à igreja de Éfeso pode ser resumida em três verbos: lembrar, arrepender-se e voltar. Lembrar-se da alegria e entusiasmo de antes, e da força de ações calcadas em amor fraternal autêntico. Arrepender-se de um serviço feito sem amor, por mera tradição e voltar ao primeiro amor. Cristo afirma que se eles não voltassem ao seu primeiro amor, estariam perdendo o direito de existir como igreja. Cristo promete à igreja de Éfeso que aquele “… que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida…” Neste contexto, Deus está afirmando que aquele que lhe for fiel, Ele lhe concederá alimento e sustento. Ele nos atende em todas as nossas necessidades, mas espera que façamos a nossa parte, sendo fiéis e vitoriosos, não aquém nem além de nossas forças, mas conforme as forças que tivermos.

Carta à Igreja de Esmirna – Os Santos Sofredores (Ap 2:8-11)

A História nos fala de perseguições em Esmirna. Seu possível pastor, Policarpo, foi martirizado e os cristãos daquele lugar haviam perdido todos os seus bens materiais, confiscados por Roma. Cristo tece palavras de louvor e conforto aqueles crentes. Ele conhecia a tribulação deles e sua pobreza. A despeito disso, Cristo afirma que, mesmo perdendo bens, eles eram “ricos” de caráter. Ele conhecia a “blasfêmia” dos judeus, referência aqueles que haviam escapado dos confiscos por cederem à adoração da imagem do imperador. É interessante notar que o Senhor não promete tirá-los das dificuldades e apertos. Naquelas circunstâncias, tais provações seriam a forma de enrijecer-lhes o caráter. É uma forma diferente da vitória apregoada pelos valores do reino deste mundo. Ou seja, às vezes uma derrota material corresponde a uma vitória espiritual.

5. Carta à Igreja de Pérgamo – No Quartel General do Inferno (Ap 2:12-17)

Cristo elogia Pérgamo quanto à sua fidelidade em meio às provações. Aquela cidade abrigava o centro de culto ao imperador e muitos dos crentes de Pérgamo foram martirizados em praça pública. Dentro da igreja, entretanto haviam membros que esposavam doutrinas heréticas que incluíam adoração de imagens e o cumprimento de deveres ditos espirituais em troca de benefícios materiais. Alguns desses cristãos aconselhavam que valia à pena aderir ao culto ao imperador para poder escapar às perseguições. Cristo, por outro lado, aconselha à igreja para que se arrependa desta sua atitude sob pena do Senhor entrar pessoalmente em guerra contra ela, combatendo-a com a “espada de sua boca”. Ao que for fiel, o Senhor Jesus apresenta uma promessa dupla: “dar-lhe-ei a comer do maná escondido”, (Cristo o sustentará espiritualmente) e “Eu lhe darei uma pedra branca, e na pedra, um novo nome escrito”. A cultura de Pérgamo fazia vários usos da pedra branca. Ela poderia ser entregue aquele que era absolvido em um processo judicial; era também concedida ao escravo liberto (a pedra era a prova de sua nova cidadania como livre); era conferida, como medalha, ao vencedor de corridas ou de lutas; era concedida ao guerreiro, quando voltava vencedor. Por isso, parece clara a analogia da pedra branca do tempo de Pérgamo com o prêmio espiritual que Cristo oferece. “Eu lhe darei uma pedra branca, e na pedra, um novo nome escrito”, diz ele.

A Carta à Igreja de Tiatira – À Espera da Estrela (Ap 2: 18-29)

Cristo elogia os crentes de Tiatira pelo amor deles (o que não estava ocorrendo em Éfeso). Louva-os também pelo progresso em suas obras. Na aparência, portanto, trata-se de uma igreja sem problemas. Tiatira, porém, estava ligada a Pérgamo por uma boa estrada. A mesma heresia que assolava Pérgamo, estava presente em Tiatira. Parece que havia uma mulher na igreja que liderava o afastamento dos crentes das convicções do Evangelho e os liderava para as heresias. Ela é designada como Jezabel. Esse nome talvez seja simbólico por causa do seu mal caráter (referência à personagem encontrada no livro de Oséias). Aos vitoriosos, o Senhor promete não sobrecarregá-los mais do que as obrigações que eles já têm. Ele promete ao vencedor, a “Estrela da Manhã”, sua direção e liderança na hora escura das tribulações, perplexidades e provações.

No próximo estudo estaremos vendo as cartas às demais igrejas.

Veja próximo estudo: -Apocalipse: Cartas às Igrejas – Parte II – Estudo 4

lincoln@pibrj.org.br
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