Antes que caia o véu…

Autor: José de Souza Barbosa Junior

A Bíblia nos relata histórias interessantes. Uma delas fala de Moisés,e o véu que ele foi obrigado a colocar para que o povo não se ofuscasse com tamanha glória que brilhava em seu rosto. Mas o mais interessante do relato não está em Êxodo, mas sim em 2 Coríntios, quando Paulo nos chama a atenção para um fato interessantíssimo. Diz o seguinte o texto: “E não somos como Moisés, que punha um véu sobre a face, para que os filhos de Israel não atentassem na terminação do que se desvanecia.” (2 Cor 3.13)

O que há de interessante nisso? Vamos pensar um pouco…

A ânsia de se esconder que glórias passadas já não brilham tanto é um dos maiores males da humanidade, e principalmente em nossas igrejas. Gente que vive do passado,e como diz o velho adágio: “quem vive de passado é museu”. Gente que sempre se lembra e faz os outros lembrarem dos “milhares” que ganhou para Jesus no passado… dos tempos idos que não voltam mais… e se esquecem de que a vida é hoje… que é preciso viver cada dia.

Paulo, em mais um de seus grandes momentos diz: “Esquecendo-me das coisas que para trás ficam, prossigo para o alvo…” Esquecer-se das coisas passadas, e principalmente quando são boas não é tarefa fácil. Faz parte da vaidade humana ser reconhecido por aquilo que já se foi, ou pior, aquilo que se pensa ter sido. A vaidade humana é perigosa… mexe com coisas que não estamos acostumados a mexer, mexe com brios, mexe com emoções, com a alma.

Gente vaidosa é gente mesquinha. Quem precisa se esconder atrás de um véu, principalmente quando não se tem mais o que esconder é doente, é gente má. Não má intencionalmente, mas gente que precisa melhorar… e muito. Vaidade é ir de encontro ao ser natural, é a legitimação do não ser, a usurpação deliberada da personalidade humana em prol de um sentimento mesquinho, tacanho. É a negação do indivíduo, o detrimento do ser gente, do ser alguém, e mais, o ser nova criatura, gente que nasceu de novo.

Vaidade das vaidades… tudo é vaidade, já dizia o sábio… entre os próprios discípulos havia quem queria ser mais do que era. O pedido da mãe de Tiago e João para que os filhos se assentassem ao lado do mestre na glória demonstra isso. A luta por ser o maior, ou o mais bem posicionado é fruto da vaidade humana, gente que quer o véu, quando esse já não é mais necessário.

A vaidade de ser o melhor invade nossos arraiais de forma constrangedora. Pentecostais se valem de ser os mais espirituais, protestantes históricos gabam-se de seu lastro histórico, uns valem-se de suas vestimentas, as mais santas, outros de seu modo de vestir “normal”, afinal não são alienados, dizem eles. Nessa guerra de vaidades quem perde é o Reino, é a obra.

Uma música de Guilherme Kerr, diz:

“de onde vem tanta presunção
de ser mais santo de ser capaz
de agradar a Deus, crente nota dez,
superior acima dos fiéis?
Pobre esse entendimento que não vem do céu,
Fraco discernimento, frágil, falso véu…”

É isso mesmo… falso véu… como aquele que Moisés usava. Já não precisava mais, já não havia mais glória, mas lá estava ele, de véu, carregando em si mesmo a triste lembrança do que havia sido e já não era mais. Pobre Moisés… depois de experimentar coisas grandiosas da parte de Deus, precisar se esconder atrás de um pedaço de pano, roto, sujo, velho, tentando esconder um brilho que não existia.

Assim caminhamos muitos de nós, com véus que não retiramos e nem deixamos que alguém retire, pois como viveremos sem essa pseudo-glória? Ela nos é vital, sem ela morremos, deixamos de ser os maiorais.

As pessoas nos veriam como somos realmente, sem máscara, sem véu, sem “maquiagem”. E é bem melhor fazer isso (deixar que as pessoas nos vejam como somos) antes, bem antes… muito antes que caia o véu!

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