Anjos, Óleos e Mordomia Cristã

Autor: Daniela Moraes




Reflexões sobre uma teologia pagã-esotérica da posse: um apelo missionário
     
Ele é o dono de tudo. Ele mesmo já afrimou nas Escrituras Sagradas que d´Ele é a terra, o ouro e a prata. Disso já sabemos. Sabemos que tudo que temos aqui é efêmero. Passará como nós. Podemos ver na Palavra de Deus o tom da majestade divina, Ele cria, governa e sustenta todas as coisas. Numa maravilhosa desmonstração de Sua glória, ele se apresenta como o Soberano dos Reis da Terra. Essa afirmação da soberania é algo relativamente clara e simples de se admitir. Não há muita controvérsia sobre isso.

No entanto, é curioso notar que, no imaginário coletivo evangélico, nós venhamos perceber variações tão destoantes de absolutos bíblicos tão evidentes. Nas nossas "melhores Igrejas" vemos todos os dias cenas bastantes curiosas sobre a questão da posse e dos bens materiais. É comum vermos gente pedindo a Deus (alguns exigindo…) que envie anjos para guardarem suas casas, carros, bicicletas, motos, computadores, telefone celular, e um monte de coisas e objetos. A lista á imensa. Vemos ainda gente pedindo a pastores e "homens de Deus" para ungirem os mesmos objetos da nossa lista acima e eles próprios.

Eu realmente acredito na unção. E acredito que Deus pode usar óleos e anjos conforme o conselho da Sua vontade para nos abençoar e guardar. Ele é poderoso e a Palavra de Deus nos revela essa realidade. Contudo, há uma certa confusão, penso eu, quanto ao objeto da fé. Quanto ao foco que se escolhe hoje em dia para um assunto até mesmo meio fora de moda: a doutrina bíblica da mordomia.

Nada nos pertence além das nossas próprias escolhas. A Bíblia nos diz que somos peregrinos em terra estranha. O apego exagerado as coisas e bens materiais não revela a glória de Deus e se mostra inútil, talvez, ridículo.

Deus deu aos anjos algumas funções distintas: adorá-Lo, anunciar sua vontade (como Gabriel fez em relação a Jesus) e proteger os santos. Protejer os santos, não aquilo que os santos estão tendo a oportunidade de ter, de possuir. Os Anjos são especialistas em pessoas e são com eles também que Deus se preocupa. Gente. Foi por pessoas Ele deu seu único filho (Jo. 3:16), não por objetos, ainda que Ele mesmo tenho nos abençoado com eles. O óleo ungido, que temos em Êxodo 40:9, por exemplo, ungia (consagrava) objetos para o serviço exclusivo do templo. Mas sua mais importante atribuição era ungir os reis e profetas e os enfermos (Tg. 5:14).

Sem querer entrar em questões exegéticas, acredito que algo interessante quando observamos esta realidade é ver que há ainda no nosso meio, infelizmente, há um apego enorme pelas coisas, pela posse de uma forma geral. Os bens materiais ainda exercem um fascínio tal, que até ungimos com óleo uma casa nova na esperança de que ela não seja roubada ou dure para sempre. Nos parecemos como aquela criança que agarra o brinquedo novo e dá birra quando alguém pede para ver.

Se o ladrão sai correndo pela rua depois de roubar seu celular, é mais fácil que o anjo o guarde de acidentes, do que proteja seu celular. Ele, o ladrão, possivelmente não vai se machucar quando o carro encostar nele, mas seu telefone, sinto muito, pode acabar voando longe e quebrar em mil pedaços (cuidado com suas orações!).

Oramos para que Deus envie um anjo pra guardar nosso carro e nos livrar de roubo. E ai do ladrão que tocar nele. E aquele carro novinho amassado, que pena. Deus não vai mandar um raio em cima do ladrão, mas vai atraí-lo ao Seu amor. Vai discipliná-lo, claro, Ele é justo, mas Seu carro vai continuar amassado! Isso porque Jesus veio ao mundo para salvar pecadores. Deus ama pessoas. Não podemos ser egoístas a ponto de desconsiderar essa verdade tão clara. E os ladrões que vemos nas escrituras experimentaram o amor de Deus de uma maneira muito especial.

Deus deu seu Filho por pessoas e nos chamou a amar as pessoas e usar as coisas. Não o contrário. Somos chamados a ser uma bênção na vidas das pessoas. A amá-las e ensinar todo conselho de Deus até que se pareçam com Seu filho (Rm. 8:29). Nossos bens são para a glória de Deus e Seu serviço. E ninguém pode servir a Deus se não estiver servindo pessoas. E tudo aquilo que Ele nos dá e nós retemos para nós mesmos, perde sua essencia e identidade. Ele nos dá para Sua glória e nossa alegria. A nossa alegria está na vontade de Deus.

Se olharmos apenas para nós mesmos, nos perderemos. Não fomos feitos para isso. E Ele é sabio e soberano, nós dá, e pode tirar se quiser.

A Teologia da Prosperidade (será que podemos chamar isso de teologia? coitada da teologia…) é um cristianimo convertido a um capitalismo consumista e ao mesmo tempo prostrado diante de Mamon, em serviço de culto. É uma distorção termenda da Palavra de Deus que sutilmente tem afastado muitos D’Ele e dos Seus valores eternos. Quando nos apegamos ao que pensamos ter, dificilmente nos dispomos a compartilhar, a dar. E a essência da Missão (Mc.16:15; Mc. 10:45) é essa compartilhar, servir ao outro. Bem mais aventurado é dar do que receber.

Tudo que por nós é retido, deixa de ser uma bênção e passa a ser objeto de culto. Perde a essência. A Igreja de Jesus precisa colocar seu coração no Reino. E o Reino de Deus são nossos relacionamentos. Relacionamentos que conduzem, curam, edificam, consolam mutuamente e acalentam o coração e a alma. Os bens materiais sempre serão ferramentas que nos ajudaram na maravilhosa tarefa de fazer com que o Reino venha e Sua glória encha a terra.

Essa compreensão equivocada, pagã-esotérica, sobre a mordomia, é de grande ajuda para se firmar valores destoantes da Palavra de Deus e do proposito divino para a Igreja. Como temos nos envolvido com as coisas deste mundo! Poderíamos honrar a Deus com nossos bens e com nossa vida e sermos uma benção para as nações da terra se nos dispuséssemos a abrir mão das coisas efêmeras que o mundo oferece.

Deus tem um profundo amor por você. Ele te guarda, te proteje. Sua vida vale muito, muito mais do que tudo aquilo que você pode ter. Ele não quer te ver prostrado diante do mundo, da posse e do poder. Mamon não é Deus, dinheiro não é Deus, carro do ano não é Deus, casa nova (ou velha), relógio Rolex, laptops, nada disso. Se alguma coisa dessas pode te tirar o sono, te fazer entrar em crise ou ficar morrendo de medo de perder, tome cuidado. Acredito que não há problema de a gente orar por aquilo que Deus nos dá, até mesmo ungir se for o caso. Certamente Deus pode usar até mesmo de anjos para abençoá-los, mas nossos valores não podem migrar para eles. Quando isso acontece nos tornamos idólatras.

Anjos e Óleos são instrumentos de Deus para o cumprimento da Sua vontade: ver todos povos diante d´Ele, cheios do conhecimento de Cristo e do Espírito, glorificando Seu nome e anunciando-O em vida de Adoração.

Quais tem sido suas escolhas e atitudes, ó hóspede do tempo? Por onde andará o nosso coração? Dele é a prata, d´Ele é o ouro.

Daniela Moraes – dmoraes@jocum.org.br

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