Autor: Jonathan Menezes
Volta e meia ouvimos na igreja que a alegria deve ser a marca distintiva do crente. Mas muitas vezes isso se torna algo do tipo “kit-viagem para o país das maravilhas com Alice e o coelhinho”, ou quem sabe não seria uma espécie de “selo de qualidade cristã”: se você tem, tudo bem, mas se não tem, algo deve estar errado com sua fé. Quantas e quantas vezes cheguei até a me culpar por ser induzido a pensar desse modo nada realístico com que a igreja trata de alegria e felicidade hoje, nada diferindo inclusive da alegria ópio que o mundo pós-moderno tem proposto, do sorriso estampado no rosto, pensamento positivo, muito dinheiro no bolso e “saúde pra dar e vender”.
O culto evangélico, de modo geral, tem refletido fielmente essa realidade. Temos cultos para todos os gostos e tamanhos, afinal a demanda do mercado de “bens simbólicos” (que inclui os crentes) exige que as denominações se adequem à lógica do “quem dá mais leva” para não perder os seus para a “concorrência”. O individualismo de nossos cânticos tem desviado nossos olhares da realidade e da missão, transferindo-nos do mundo terrestre para o mundo celeste. Falam de uma alegria “energética”, como uma total ausência de angústias, dores e sofrimentos, e uma constante presença de paz interior e felicidade. Se não for assim, não pode ser a alegria de Cristo, como diz uma célebre frase que por aí tem sido disseminada: “Não estou em crise, estou em Cristo”. Para essa gente, somente todas as coisasa boas são as que cooperam para o bem dos que amam a Deus.
Não preciso contra-argumentar muito pra dizer que isso, apesar de muito comum, é uma tola subversão do Caminho de Jesus e de toda a bíblia. A oração do profeta Habacuque apresenta o que para mim é a idéia de Deus sobre a alegria: “Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; Todavia eu me alegrarei no SENHOR; exultarei no Deus da minha salvação” (Hc. 3:17-18). Observe que Habacuque não está aqui dando origem a nenhuma filosofia de confissão positiva, nem está dizendo seguramente coisa alguma a respeito do futuro, algo do tipo: “eu determino que a figueira vai florescer” ou “tenho certeza que Deus não vai deixar faltar”, e só por isso me alegro no Deus que me salvou. Não. Ele está dizendo que mesmo que as coisas piorem ainda mais, mesmo assim ele poderá se alegrar no seu Senhor.
Sem dúvida Habacuque seria um profeta impopular em nossos dias. Porque, em outras palavras, ele vem dizer que a alegria do Senhor não veio abolir a consternação, a dor ou as agonias da vida. Deus não nos ensina que para sermos felizes temos que suprimir a realidade, mas sim encará-la de frente, com coragem, confiança e a força que Ele supre. Os momentos de paz e alegria devem transcender as circunstancias, mostrando a soberania e a graça de Deus. E quem poderá acusar os filhos de Deus? Afinal, não é Deus quem os justifica? (Rm.8:33). Dir-se-á então que se eu passo por crises eu não tenho Cristo? Pura enganação meus irmãos, puro engodo espiritualista! Eu tenho crise sim, e são exatamente essas crises que me aproximam mais de Cristo, o Senhor Total da minha existência e razão primeira da minha alegria. Somente a Ele seja a Glória!
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