Autor: Autor Desconhecido
Quem poderia imaginar que Wellington Emanuel de Almeida, um adolescente cristão, filho de pastor e educado em lar evangélico fosse descobrir as drogas na juventude? E o mais chocante, que isso ocorreria ao cumprir o serviço militar. Seus pais viam nas forças armadas mais uma escola de vida, pois elas são conhecidas por disciplinar e formar caráter. Porém, quem desconfiaria que, por trás daqueles uniformes militares, encontravam-se más influências que conduziriam o jovem ao vício e à destruição?
Neste relato, Wellington, hoje com 27 anos, conta como foi o seu descaminho pelo vício e a forma pela qual foi resgatado por Jesus. Ele também destaca a importância dos centros de recuperação de viciados e da evangelização nesses locais. Wellington é mais do que um caso de jovem liberto do vício; é alguém que encontrou o Caminho, a Verdade e a Vida: o Senhor Jesus.
Fale um pouco sobre sua família.
Fui criado em um lar cristão. Minha família era exemplar. Meu pai, sempre correto e dedicado a Deus, é pastor de outra denominação e me criou na Palavra, dentro da comunidade cristã, tanto que, aos 16 anos, eu fazia parte da mocidade da igreja onde ele pastoreava. Lembro-me de passar algumas noites no monte, orando com ele e buscando ao Senhor. Ele sempre se esforçou para que eu pudesse concluir meus estudos, porém, era uma pessoa muito dura, pouco flexível em relação à fé, e religioso demais. Mesmo assim, sou-lhe grato e acho que ele foi guiado pelo Espírito, porque, se tivesse “passado a mão” sobre minha cabeça, minha vida teria sido pior… Para mim, ele foi rigoroso nos momentos certos.
Meu pai tinha uma preocupação muito grande em me criar à luz da Palavra, a fim de que eu não me desviasse. Fui muito cobrado por ser filho de reverendo, pois a verdade é que a maioria das pessoas julga que filho de pastor é “pastorzinho”. Tudo isso gerou uma pressão sobre mim, a qual influiu no meu afastamento. Sempre que os outros erravam, era admissível, entretanto, quando eu errava, era motivo de espanto.
Acredita que era convertido de fato?
Quando criança, sentia a igreja como uma tarefa e, para uma criança, toda obrigação, em princípio, é desagradável. Sabia que, durante o culto, tinha de ficar sentado quieto, principalmente por ser filho de pastor. Por outro lado, achava muito bonito quando o meu pai pregava e dizia que desejava ser como ele.
Mais tarde, na adolescência, é bem provável que ainda não era convertido de fato. Preocupava-me em saber se, algum dia seria escolhido para ser pastor a exemplo de meu pai. Certa ocasião, alguém profetizou que eu continuaria o ministério dele. Aceitei essa profecia e esforcei-me em prol disso, o que criou em mim uma grande vontade de santificar-me. Contudo, o desejo de realizar as mesmas coisas que outros jovens, significava um apelo forte para mim. Por isso, entrei em conflito, parecido com o que diz Paulo em Romanos 7.15:
Porque o que faço, não o aprovo, pois o que quero, isso não faço; mas o que aborreço, isso faço ou em Romanos 7:20: Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Minha fé e a vida na igreja começaram a “esfriar”. Eu, que freqüentava a igreja cinco vezes por semana, comecei a ir somente aos domingos. Na verdade, ainda não me tinha encontrado com o Senhor Jesus.
Como começou a desviar-se?
Quando ingressei nas forças armadas, em 1993, afastei-me totalmente de Deus. Como diz Jó 14.1, O homem, nascido da mulher, é de bem poucos dias e cheio de inquietação. Foi essa ansiedade que me levou a realmente querer conhecer as coisas do mundo. Senti fascínio pelo cigarro, pelo álcool, pelos bailes funk, samba, prostituição e, finalmente, pelas drogas. Anteriormente, eu já ouvia alguns grupos de samba, por isso, minha perdição começou ao envolver-me com uma turma de pagode do quartel, a qual se reunia em bares. Nas rodas de samba ali formadas, havia bebida, conversas pornográficas, cigarro e mulheres, conhecidas dos soldados, ou simples freqüentadoras do local.
Bebia perto de casa e a pressão da comunidade foi maior, porque meus erros, como filho de pastor, ficavam em evidência. Sentia-me muito mal com isso e duplamente culpado, porque meu pecado atingia o ministério de meu pai.
Quando passou a consumir drogas?
Em 1994, nas rodas de samba usávamos o lança-perfume e também a maconha, a princípio como relaxante. Experimentei, mais não gostei, porém, notei que a maconha já fazia parte daqueles encontros. Certa ocasião, um colega me chamou em um canto e me ofereceu cocaína. Fiquei receoso, porque já ouvira falar muito mal acerca dessa droga, mas, senti curiosidade de experimentá-la. Afinal, todos ali cheiravam, com o pretexto de cortar o efeito do álcool. Viciei-me e, às sextas-feiras, sequer voltava para casa: subia o morro e lá me drogava durante todo o fim de semana. Nessas ocasiões, para os meus familiares, eu dizia que estava em missão militar. Consumia todo o meu pagamento no vício e furtava objetos em casa para comprar drogas. Roubei o vídeo, a TV, o telefone sem fio e os aparelhos de som, além de tirar todo o dinheiro da conta bancária de meu pai com o cartão magnético.
Como sua família reagiu quando descobriu o seu vício?
Minha mãe se desesperou. Meus irmãos esperavam o pior: a minha morte. Meu pai orou por mim, ele me chamava e me exortava com a Palavra – Ela doía muito em meu coração, mas eu não tinha força para livrar-me do vício. Certa vez, cheguei muito drogado à minha casa, eu parecia uma caveira, de tanto cheirar. Então meu pai me levou para a frente de um espelho e disse: “Olhe bem para seu rosto. Veja o que está fazendo com a imagem e semelhança de Deus!”. Jamais me esqueci daquilo.
Muitas vezes, presenciei meu pai chorando, amargurado, acreditando que havia esgotado todos os esforços. Em 1999, quando ele me expulsou de casa pela primeira vez, disse-me: “Filho, eu usei todos os meus recursos. Agora, só o que posso fazer é uma oração”. Orou comigo e me mandou para a rua. Desse modo, envolvi-me mais com o vício, chegando a consumir cinco gramas de cocaína por noite.
As forças armadas tomaram conhecimento de seu vício?
Sim, a polícia secreta da força a qual eu pertencia descobriu que eu usava cocaína e o comando ordenou minha baixa no início de 1998.
O Espírito Santo me tocava e incomodava, já que a Palavra de Deus é viva e eficaz (Hb 4.12). Sabia que estava errado e no caminho da morte, mas Deus me deu o livramento real de tudo aquilo. Vários colegas daquele meio foram mortos ou estão presos. Muitos precisaram ser presos para aceitar Jesus, mas eu só precisei do centro de recuperação para chegar a conclusão de que Cristo é o Caminho.
Como ocorreu a sua primeira internação no centro de recuperação de viciados?
Quando meu pai me expulsou de casa, morei em um abrigo de mendigos, em Nova Iguaçu, RJ. Nesse abrigo, havia muitos idosos, por isso, eu não conseguia dormir, devido aos seus gritos de dor. Isso me levou a uma reflexão da minha vida. Então, pensei: “Estou destruído! Como cheguei a esse ponto tão rápido, com apenas 25 anos?”.
Depois daquela instituição, fui levado por uma assistente social a um centro de recuperação de viciados secular, o qual encarava dependência química como doença incurável, com tratamento apenas psicológico, não espiritual. Após dois meses, obtive alta, mas tive uma recaída – hoje sei que precisava de libertação, pois Cristo Jesus tomou sobre Si nossas enfermidades (Is 53:4). Voltei para casa, mas também ao convívio dos comparsas de vício. Depois de dois dias no morro, drogando-me, ao chegar à minha casa, encontrei minha mala pronta. Meu pai me deu dez reais e me disse: “Vá embora e só nos procure quando tiver realmente mudado”.
Obedeci, mas, dormi fortemente abraçado à Bíblia, na casa de máquinas do prédio onde morava. Creio que, nesse momento, comecei a me reatar com Deus. Cheguei a dormir em vagão de trem, marquise e ônibus, até que fui encontrado novamente por aquela mesma assistente social.
O que de fato foi responsável pela sua transformação?
Em setembro 1999, a assistente social me levou para o Movimento Cristo Vive e Reina, em Nova Iguaçu (RJ), o MOCRIVER, onde meu espírito foi curado. Minha libertação ocorreu dentro de dois meses, mas somente depois de onze meses internado, de tanto ouvir a Palavra, Ela atingiu meu coração. Converti-me de fato, fui batizado pelo Espírito Santo e passei a ajudar o Pr. Guaracy Machado, com testemunhos, louvor e pregação, e a apoiar novos internos.
Em sua opinião, os jovens viciados devem procurar somente tratamento espiritual, ou espiritual aliado ao psicológico?
Sei que algumas instituições unem os dois fatores, mas, no MOCRIVER, o tratamento é só espiritual. Por isso, prefiro crer no que está na Bíblia: Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará (Jo 8.32). Fui liberto pelo conhecimento da Palavra e pela fé.
O que é mais importante a ser dito para os jovens que convivem com as drogas?
O diabo veio a roubar, matar e destruir (Jo 10.10). Ele mata mesmo, porque vi muitos morrerem. Aconselho aos jovens envolvidos com drogas a refletir nesse testemunho, pois tive a oportunidade de chegar ao centro de recuperação e aceitar Jesus, mas muitos não a tiveram. Os jovens devem pensar sobre esse problema, porque, no começo, tudo parece muito bom mas depois, os usuários de drogas tornam-se dependentes e escravos de Satanás. Um escravo faz tudo o que seu senhor manda: mata, rouba e destrói.
O que a família deve fazer ao suspeitar que um membro pode estar drogando-se?
Vigiar e orar, como a Bíblia diz. Isso consiste, no caso, em observar bem o comportamento de seus filhos, ser realista e, se necessário, tomar atitudes drásticas, mesmo que doa. Mais vale um “não” no momento certo do que um “sim” que estrague uma vida, pois, não é prudente “passar a mão pela cabeça” deles. Em alguns casos, é importante a internação.
Conte como você conheceu sua esposa?
Tornei-me ajudante de cozinha do centro de recuperação de viciados e conheci Angélica, na época, obreira e secretária do pastor, o qual também ajudava na cozinha. Fui promovido a cozinheiro chefe, quando comecei a trabalhar diretamente com ela. Ao perceber que havia carinho entre nós, então, propus-lhe que orássemos sobre o assunto. Assim, confirmamos nosso amor, e noivamos. Após sete meses, casamos-nos no centro de recuperação, em cerimônia celebrada pelo meu pai.
Qual foi a importância de Carta Viva no direcionamento de sua vida cristã?
Tive contato com a Igreja Internacional da Graça de Deus por meio da Carta Viva, na ocasião em que estava ainda internado no MOCRIVER, pois lá não é permitido assistir à TV. Carta Viva foi o veículo que Deus usou para me chamar para a obra. Assim como eu, muitos devem ter sido tocados por ela e muitos ainda serão, com certeza. Graças a Deus, por meio dessa revista e da sede da Igreja em Madureira (RJ), de onde sou obreiro e seminarista da Academia Teológica da Graça de Deus (AGRADE), vou seguir o ministério de pregador. Farei mais cursos para me capacitar cada vez mais no ministério da Palavra, transmitindo minha experiência para as pessoas perdidas, principalmente jovens que estejam no cativeiro do vício de Satanás. Ao saber de minhas intenções, meu pai continua chorando muito, mas de alegria.
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