Acerca de como muitos pastores se sentem

Autor: Caio Fábio
Recebo e-mails de centenas de pastores.
Falam comigo com toda a liberdade de coração, pois sabem que não os julgo, apenas ouço e dou minha opinião quando solicitada. Fora questões de natureza existencial, psicológica, conjugal, familiar e até no que tange a tendência sexual—o que mais aparece é o sentir dos pastores em relação ao ministério!
Como se sentem os pastores que me escrevem?

1. Alguns estão procurando “novos pacotes” de entretenimento para manter a competição de animação com as igrejas concorrentes. Sempre tem alguém me perguntando “formulas” de crescimento.

Resposta: Nos últimos 30 anos o fenômeno vem acontecendo. Quando iniciei o ministério isso não existia. Cada um sabia no que cria e se comportava de acordo com suas convicções. Quem mudava, mudava dentro do conjunto de suas próprias percepções. Mas sempre tinha a ver com o conteúdo e, sobretudo, com uma alegria em fé. De 1985 em diante é que surgiram os pacotes mais sedutores. E como os pastores já não eram mais os mesmos—digo: na busca de conteúdos bíblicos—, o que sobrou foi o desejo de adaptação “para não perder a onda”.

2. Alguns admitem que não tem o que dizer. Compreenderam “algo” da mensagem do Evangelho, mas admitem que pregam muitas vezes apenas a “tendência do momento”.

Resposta: Quem não tem o que dizer tem que ter o que oferecer como entretenimento espiritual para quem saiu de casa. Daí os cantores e cantoras terem ganhado tanto espaço. E mais: uma igreja terá tanto mais “visitantes” para animar os cultos, tanto menos seu pastor tenha para dizer.

3. Alguns estão cansados de não poder ser gente. Representam o papel do serem acima do bem e do mal—mas sabem que não é verdade!

Resposta: Sugiro a leitura de uma entrevista que está neste site. O tema é o Esgotamento do pastor. Lá digo o que julgo essencial.

4. Alguns sabem que não crêem no que a denominação ensina. Discernem que se trata, muitas vezes, apenas de “doutrinas de homens”, que nada tem do Evangelho. Mas assumem que se tornaram empregados da instituição e que seu papel é presidir o clube da fé da maneira mais cristã possível.

Resposta: Infelizmente não dá para negar a relação que existe entre liberdade ministerial e dependência financeira. O problema não começou agora. Hoje o que está havendo é que há muito mais gente com coragem de confessar. Minha sugestão é que se faça o seguinte: dê-se o melhor do coração para a fazer gestão do inevitável, e, enquanto isto, não se perca a possibilidade de desenvolver alguma forma de comunhão informal com cristãos mais experientes e abertos. Nesse espaço o coração respira melhor. Dizer mais que isto só se eu pudesse oferecer um emprego para todos os que estão se sentindo assim. E eu não estou aqui para aumentar o peso e a angustia de ninguém.

5. Alguns confessam que seu desejo de crescimento e sucesso ministerial foi apenas motivado pela vontade de ter poder.

Resposta: Sempre houve essa motivação. O que diferencia o que havia antes pelo que há agora é o pudor: antes quem assim desejava escondia melhor. Hoje se trata de algo expresso até como “virtude”.

6. Alguns falam abertamente de como a questão passa primordialmente pelo dinheiro e como se sentem “avaliados” na “missão” pelo sucesso financeiro do ministério.

Resposta: Quem se sente assim, em geral, pertence a “Igrejas Históricas”. Quem está nos movimentos independentes sofrem de um outro mal: fazem qualquer coisa para atrair gente e aumentar a receita, pois, nesse caso, eles são os chefes de si mesmos. Nesse caso, são “esses” outros pastores que avaliam o colega pelos resultados: igreja grande e rica sempre tem assento nos primeiros bancos do Conselho de Pastores.

7. Alguns estão perdidos sem saber para onde ir. São de Jesus, mas não conseguem ver esperança no Cristianismo.

Resposta: Tenho falado com muitos pastores que perderam o “romance” com a “igreja”. O que digo a eles é que é a melhor hora para se iniciar um caso de amor com a Igreja. A “igreja” é quase sempre prédio e instituição. A Igreja é gente, encontro, carinho, solidariedade e amizade—e isto a gente só encontra no caminho e olhando bem dentro do olho!

8. Alguns declaram que o amor pela pregação acabou. Descobriram que o que tinham não era verdadeiro. Servia para os outros, mas não para eles—e com isto não confessam falta de fé no Evangelho, mas na mensagem que tomou conta—como obrigação de ofício—o púlpito das igrejas.

Resposta: Essa é a crise de quem descobriu que ter doutrina não tem nada a ver com discernir a Palavra. É boa essa crise. Mergulhe no estudo livre e aberto da Bíblia. Leia coisas paralelas que o ajudem a se posicionar apenas no contexto histórico. Mas ouse interpretar. Ouse entender. Ouse aplicar com fé e bom senso o que a Palavra diz no dia Chamado Hoje.

9. Alguns lamentam muito que não tenham tido a chance de ter “outra alternativa” de sobrevivência financeira fora da igreja. Sentem-se encurralados e servindo em cansaço—não em esperança!

Resposta: Nesse caso eu acho que não sendo uma crise, mas uma convicção, sempre dá tempo de mudar de ofício—ou de “fazer tendas” a fim de pregar de graça.

10. Alguns expressam a total falta de vontade de estudar a Palavra e de crescer nela. Dizem que não funciona. Igreja que cresce tem animador de circo, não profeta.

Resposta: Não creio. É verdade que crescimento nunca foi critério para avaliar a verdade de nada. Se esse fosse o critério, sem dúvida, teríamos que dizer no mínimo duas coisas: a primeira é que o Cristianismo nada tem com a primazia de qualquer verdade—afinal, há outras religiões maiores e em maior crescimento; a segunda é que Jesus teria sido um fracassado—afinal, esse nunca foi seu ponto alto durante o ministério. Muitas vezes é a verdade que não deixa haver “explosões” de crescimento. Outras vezes é a dureza do coração dos ouvintes. Outras vezes é a chatice de quem fala. Outras vezes é apenas o “tempo”, as circunstâncias. Enfim, as razões são inumeráveis. Mas o Evangelho verdadeiro—de Graça e Verdade—sempre encontrará seus filhos. E a unção de Deus nunca será negada.

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