Autor: Watchman Nee
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo; que nos tem abençoado com toda sorte de bênçãos espiritual nas regiões celestiais em Cristo.” (Ef 1:3)
A Experiência de Derrota do Cristão
Assim que fomos salvos, nossos corações se encheram de gozo devido à graça de nosso Deus. Tínhamos grande esperança para as nossas vidas. Achávamos que daquele ponto em diante poderíamos calcar nossos pecados. Reconhecíamos que daquele momento em diante poderíamos andar em um caminho vitorioso. Nenhuma tentação poderia ser grande demais para que nós não vencêssemos. Nenhum problema poderia ser difícil demais para que não o resolvêssemos. O nosso futuro estava cheio de esperança gloriosa, porque pela primeira vez havíamos provado a paz e o gozo de termos os pecados perdoados. Nossa comunhão com Deus era doce e sem esforço. Estávamos verdadeiramente cheios de gozo; sentíamos que o céu estava próximo a nós. Parecia que nada nos era impossível. Criamos firmemente que dia após dia viveríamos vitoriosamente.
Infelizmente, essa bela condição não durou muito; e aquela gloriosa expectativa não se realizou. Os pecados que você imaginava já estarem vencidos, retornaram novamente. Pecados que outrora não conseguia tocar-lhe, agora estão de volta. O seu velho temperamento, orgulho e inveja erguem as suas cabeças horripilantes mais uma vez. Você lê muito a Palavra de Deus, mas não recebe ajuda. Você ora, mas perde aquele sentimento de intimidade que antes desfrutava. O seu zelo pelos perdidos também diminui e o seu amor se esfria. Talvez você seja capaz de lidar com alguns assuntos, mas descobre que alguns outros estão além de suas forças. Agora a sua nota diária é a derrota e não a vitória. De fato, na sua vida diária você experimenta mais derrotas que vitórias. Você percebe sua grande deficiência. Quando você se compara a Paulo, João, Pedro e a outros cristãos do primeiro século, vê quão diferentes eles eram de você. Você não consegue ajudar outras pessoas. Pode até contar-lhes as histórias de suas vitórias, mas não ousa dizer histórias de suas derrotas. Você sente que são curtos os seus dias de vitória, enquanto os de derrota são longos. Conseqüentemente, você vive triste. Tal é a experiência compartilhada por muitos cristãos.
Quando somos salvos, nós assumimos que, já que os nossos pecados foram perdoados, eles nunca retornarão. Acreditamos sinceramente que o gozo da paz que agora desfrutamos irá permanecer conosco para sempre. Quem, portanto, imaginaria que o pecado e a tentação poderiam retornar? Quem poderia sonhar que algum dia haveria mais tristezas do que o gozo nos aguardando? Contudo, quando a tentação, o orgulho, ou inveja, o mau-humor ou qualquer outra coisa realmente retorna, usualmente tomamos uma das duas atitudes: exercemos a nossa força ao extremo para suprimir o pecado, ou presumimos que é impossível vencê-lo. Quando esses pecados retornam, por um lado procuramos exercer muito esforço para que não transpareçam externamente: qualquer um de nós que for capaz de controlá-los ou suprimi-los, irá considerar-se vitorioso. Mas por outro lado, aqueles de nós que são derrotados, gastam os seus dias em derrota e vitória, vitória e derrota, pecando e arrependendo-se e arrependendo-se e pecando: é uma vida que continuamente anda em círculos, que só termina ao cairmos em profundo desespero. Portanto, se lograrmos controlar o pecado, simplesmente o suprimiremos por um período de tempo; ou se falharmos em suprimi-lo consideraremos que o pecado é inevitável, e cairemos em desespero.
No entanto, eu preciso perguntar-lhes na presença de Deus a quem eu sirvo: quando o Senhor Jesus foi até a cruz em nosso lugar. Ele planejou para o nosso futuro o tipo de experiência pela qual passamos tão freqüentemente? Quando estava sendo crucificado, vislumbrava Ele para nós uma vida de sucesso pela manhã e derrota à tarde? Não é a obra que Ele efetuou na cruz suficiente para habilitar-nos a servi-Lo em santidade e retidão? Será que o Senhor derramou o Seu sangue na cruz somente porque viu a penalidade do inferno, sem também ver a dor do pecar? Será que o sangue que Ele derramou na cruz salva-nos apenas do sofrimento futuro mais deixa para que carreguemos os sofrimentos de hoje?
Oh! Nesse momento não posso fazer outra coisa a não ser exclamar, Aleluia! Pois o nosso Senhor conquistou tudo no Calvário! Enquanto estava sobre a cruz, Ele pensou não apenas na penalidade do inferno, mas também na dor do pecado. Ele anteviu os sofrimentos devidos ao poder do pecado bem como os devidos à penalidade. Ele possui uma salvação que nos habilita a viver sobre a terra da mesma maneira que Ele também viveu. Em outras palavras, a obra de redenção de Cristo não apenas preparou um fundamento para que fossemos salvos, mas também providenciou um fundamento para que fossemos salvos de maneira plena. Somos bem capazes de viver de hoje em diante, diferentemente da maneira que vivemos agora. Exclamemos Aleluia, pois hoje há um evangelho de boas novas tanto para os santos como para os pecadores.
A Vida Cristã Como Ordenada por Deus
De acordo com a vontade de Deus, que tipo de vida um cristão deve viver? Não apenas os cristãos maduros, mas cada crente nascido de novo. Ao conhecer o tipo de vida que deve viver, o crente pode perceber sua grande deficiência. Vejamos varias passagens das Escrituras que descrevem as várias facetas dessa vida.
1) Uma vida que é livre de pecados
“Ela dará a luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, ele salvará o seu povo dos pecados deles.” (Mt 1:21). Tanto em Chefoo como em Pequim, alguns irmãos que disseram: “Anteriormente gostávamos de chamar o Senhor de Cristo, mas de hoje em diante diremos Jesus, nosso Salvador”. Por que o nome é Jesus? Porque esse nome significa que “Ele salvará o seu povo dos pecados deles”.
Você aceitou Jesus como seu Salvador, e recebeu a graça do perdão. Tudo isso é verdadeiro pelo que você pode agradecer e louvar a Deus. Mas afinal de contas, o que foi que Jesus fez por você? “Ele salvará o seu povo dos pecados deles” Isto foi ordenado por Deus e cumprido por Jesus. A pergunta agora é: você ainda está vivendo em pecados ou já os deixou? O seu antigo temperamento continua a ser explosivo, os seus antigos pensamentos continuam a lhe perturbar, e o seu orgulho e egoísmo permanecem inalterados? Em outras palavras, você ainda está amarrado pelos seus pecados? Ou você se libertou completamente deles?
Eu já utilizei a seguinte ilustração muitas vezes antes, mas utilizarei aqui mais uma vez. Um colete salva-vidas é diferente de um bote salva-vidas. Quando uma pessoa cai no mar, agarra-se ao colete salva-vidas, que lhe é lançado. Desta maneira ela não afunda, contudo não sai da água. Fica em uma condição que não é nem de vida nem de morte. O bote salva-vidas no entanto, é algo bem diferente. A pessoa que cai na água pode ser retirada da água e colocada no bote salva-vidas. De maneira similar a salvação de nosso Senhor não pode ser comparada a um colete salva-vidas, mas sim a um bote salva vidas. O Senhor não irá deixá-lo num estado de “nem vivo nem morto”; Ele irá, ao contrário, salvar o Seu povo de seu pecados, porque Ele não nos deixou em nossos pecados. Portanto, a salvação de que a Bíblia nos fala, é uma salvação que nos livra dos pecados. Entretanto, quantos de nós, ainda que verdadeiramente salvos, ainda continuam a viver em pecados! Pode a Bíblia ser invertida? Certamente que não. A Bíblia está correta, ao passo que a nossa experiência está errada.
2) Uma vida que mantém uma comunhão íntima com Deus.
“E nos suscitou plena e poderosa salvação na casa de Davi, seu servo… de conceder-nos que livres da mão de inimigos, o adorássemos sem temor, em santidade e justiça perante ele todos os nossos dias” (Lc 1:69, 74-75). Deus levantou um “cetro de salvação” na casa de Davi. Nós já possuímos este cetro de salvação. O que isso faz por nós, e qual é a extensão da libertação que Ele efetuou por nós? Ele nos libertou “da mão de inimigos”. Agora que fomos libertados das mãos de inimigos, como, então, devemos viver hoje? Será que vamos servi-Lo em retidão e santidade apenas esporadicamente? Graças e louvores sejam ao Senhor, pois Ele quer que O sirvamos “em santidade e justiça todos os nossos dias”. Enquanto vivermos, devemos servi-Lo em santidade e retidão. Esta é a vida ordenada por Deus.
No entanto, temos que reconhecer, vergonhosamente, que mesmo tendo sido libertados por Deus das mãos de nossos inimigos, não O temos servido em santidade e retidão todos os nossos dias. Se as palavras das Escrituras são verdadeiras, então a nossa experiência deve estar errada.
3) Uma vida que se satisfaz plenamente com o Senhor.
“Aquele, porém, que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede, para sempre; pelo contrário, a água que eu lhe der será uma fonte a jorrar para a vida eterna” (Jo 4:14). Quão preciosa é essa palavra! O nosso Senhor diz que um cristão especial receberá dEle uma graça especial para que nele haja uma fonte que jorre para a vida eterna. De maneira nenhuma. O nosso Senhor, diz: “aquele”! Além disso, Ele profere essas palavras para uma mulher samaritana! Ele lhe diz: Se você crer, terá essa água viva, que se tornará uma fonte a jorrar para a vida eterna.
O que é sede? É estar insatisfeito. Mas todo aquele que beber da água oferecida pelo Senhor jamais terá sede. Cada cristão pode conhecer não apenas satisfação, mas satisfação eterna, ele precisa conhecer mais. O que Deus deu nos faz satisfeitos para todo o sempre.
Ao andar pela rua principal da cidade, você sente sede? Quando passa em frente a uma loja de departamentos como a Wing On ou a Sincere, (Duas grandes lojas de departamento, naquela época, em Shangai.) você tem sede de alguma coisa? Talvez você imagine que se pudesse ter isso ou aquilo, a vida seria tão boa! Isso é sede. Quando você observa o seu colega de escola, você anseia por aquilo que ele possui? Ainda assim o Senhor declara: “Aquele, porém, que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede, para sempre; pelo contrário, a água que eu lhe der será uma fonte a jorrar para a vida eterna”. Esse é o tipo de vida que Ele dá, ainda que nossa experiência nos mostre algo diferente.
O nosso Senhor Jesus diz que possuí-Lo já é o bastante, mas nós dizemos que possuí-Lo ainda não é o bastante – ainda desejamos outras coisas para nos satisfazer. O que está errado – aquilo que o Senhor nos dá ou aquilo que experimentamos? Um dos dois tem de estar errado. Contudo o Senhor nunca emite um “cheque sem fundos”. Ele dá aquilo que disse que daria. A nossa experiência no passado é como se fôssemos “meio-salvos”. Por que Ele diz que todo aquele que nEle crê jamais terá sede? Porque algo acontece nessa pessoa. Dentro dela existe agora um novo desejo e uma nova satisfação.
Permita-me perguntar-lhe o seguinte: você vive diariamente em santidade e retidão? Há algo jorrando de você que pode saciar a sede de outras pessoas? Os chineses têm um provérbio – “Nada fazendo”; mas nós cristãos podemos dizer: “Nada pedindo”. Não pedimos nada mais porque estamos plenamente satisfeitos com o Senhor, Ele mesmo. Tem isso sido uma realidade para você? Se você ainda se sente insatisfeito, sua experiência de vida, sem dúvida, está errada.
4) Uma vida que é rica em influência.
“No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim como diz a escritura, do seu interior fluirão rios de água viva?” (Jô 7:37-38). Do interior de quem fluirão os rios de água viva? Não apenas daqueles assim chamados cristãos especiais – como os apóstolos Paulo, Pedro e João; mas também de todo aquele que crê – tais como você e eu. Isso leva as pessoas que entrarem em contato conosco a acharem satisfação e não mais ter sede.
Tenho uma amiga, cuja presença imediatamente nos convence da vulgaridade de se amar o mundo, da tolice de ser ambicioso, e da insensatez da cobiça. Ainda que você se sinta insatisfeito por algum motivo, ao entrar em contato com essa irmã, você se sente que já foi satisfeito pelo Senhor. Ou talvez você encontre satisfação em uma determinada coisa, no entanto, ao se encontrar com essa pessoa sente que aquilo, é na realidade, quase nada. Do interior do crente, diz Jesus, fluirão rios de água viva. Foi isso que o Senhor nos proporcionou, e deveria ser a experiência comum de todos os cristãos. Pois o que digo aqui não deve ser meramente a experiência de santos especiais, mas a experiência que todos os cristãos devem ter em comum.
Devemos observar se as pessoas não têm mais sede após entrarem em contato conosco! Ou será que continuam sedentos após terem estado conosco? Se quando as pessoas nos dizem que suas vidas são miseráveis, tristes e desfeitas, nós, em respostas reconhecemos o mesmo, então isso mostra que não somos rios de água viva, mas desertos estéreis que secam toda a umidade e matam as plantas. Tal condição prova que estamos errados. Deus, porém, nunca está errado.
5) Uma vida que é livre do poder do pecado
“Tendo Deus ressuscitado ao seu servo, enviou-o primeiramente a vós outros para vos abençoar, no sentido de que cada um se aparte das suas perversidades” (At 3:26). Esta é a mensagem que Pedro pregou no pórtico do Templo em Jerusalém. O Senhor Jesus faz as pessoas se apartarem de suas iniqüidades. A experiência mínima de um cristão, é ser libertado do pecado. Tudo o que ele reconhece ser pecado deve ser vencido. Não insisto em que tenhamos que conquistar os pecados que nem sabemos que existem, mas declaro que devemos vencer, através do nosso Senhor, todos os pecados de que temos conhecimento. Devemos vencer todos aqueles que nos têm emaranhado por muitos anos. A Bíblia diz: “Se alguém for surpreendido nalguma falta” (Gl 6:1a); todavia muito freqüentemente a nossa experiência como cristãos é que só vencemos ocasionalmente. Quão anormal é a nossa experiência!
“Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum. Como viveremos ainda no pecado, nós que para ele morremos?” (Rm 6:1-2). Nós, os que cremos no Senhor Jesus, já morremos para o pecado. Portanto, nenhum cristão deve continuar nele. Como sabemos que estamos mortos para o pecado? Paulo nos dá a resposta exatamente no versículo seguinte: “Ou, porventura, ignorais que todos os que fomos batizados na sua morte?” (v. 3). Em outras palavras, aqueles que foram batizados estão mortos para o pecado. Pois o batismo é na morte de Cristo Jesus: “Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida” (v. 4). Este é o tipo de vida que um cristão deve viver diariamente. Todos os que foram batizados devem andar em novidade de vida. Não são cristãos especiais que Paulo tem em vista aqui; ao contrário, são aqueles recém-batizados. Todos fomos batizados, portanto devemos andar em novidade de vida. Essa experiência é ordenada por Deus a todos os crentes.
“Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e, sim debaixo da graça” (Rm 6:14). Oh, como eu amo esse versículo! Permita-me perguntar-lhe: Quem é esse aqui que não está debaixo da lei mas debaixo da graça? É Andrew Murray? Ou Paulo? Ou Pedro ou João? Ou será que são todos os que creram que não estão debaixo da lei mas debaixo da graça? Quantos de vocês estão debaixo da graça hoje? Agradecemos e louvamos ao nosso Deus, todos nós estamos sob a graça, e nenhum de nós ainda está sob a lei!
As palavras que precedem esta afirmativa que acabamos de discutir aqui são, “o pecado não terá domínio sobre vós”. Aqui está declarado que o pecado não será o nosso senhor! Vitória não é a experiência de cristãos especiais, mas sim, uma experiência que todos os crentes podem compartilhar; porque todos que forão salvos estão sob a graça.
Logo que fui salvo, considerava esse versículo muito precioso. Naqueles dias eu confessa que tinha muitas vitórias sobre muitos pecados, e Deus foi verdadeiramente gracioso para comigo. Contudo, havia um pecado em particular que tinha domínio sobre mim, e alguns outros pecados freqüentemente retornavam para me perturbar uma vez e outra. Isto pode ser ilustrado pelo que aconteceu comigo certo dia, ao caminhar pela cidade. Encontrei-me com um certo irmão a quem cumprimentei balançando a cabeça. Momentos depois, ao sair de uma loja, encontrei-o uma vez mais. Mais uma vez balancei a minha cabeça. Atravessei em direção a uma outra rua, e ali, para o meu espanto, encontrei-o pela quarta vez! Depois, em outra rua eu o vi novamente. Em apenas um dia eu o encontrei cinco vezes, e cumprimentei-o balançando a cabeça. Não pode isso ilustrar a maneira como encontramos o pecado?
Não sabemos por que sempre encontramos especificamente esse ou aquele pecado, como se ele estivesse nos seguindo. No entanto, isso acontece. Alguns descobrem que o mau-humor os segue; alguns, o orgulho; alguns, a inveja; outros, a preguiça; outros, ainda, a mentira; alguns a depressão e a autocomiseração; alguns, a maldade; alguns, o egoísmo; outros, pensamentos impuros; ainda outros, paixões impuras. De fato, parece que todos temos um pecado especial que nos segue. Eu mesmo descobri alguns pecados que me seguiam de maneira poderosa e tenaz. Tive que reconhecer que o pecado realmente tinha domínio sobre mim. Finalmente confessei ao Senhor: ”Tu disseste que o pecado não dominaria sobre mim; portanto, eu concordo que a falha deva estar em mim e não na Tua Palavra”.
Mesmo que você possa estar vivendo uma vida derrotada, você sabe, no entanto, que essa não é a vida ordenada por Deus. Se o pecado ainda tem domínio sobre você, você deve entender claramente que não é isto que Deus planejou. Pois Sua palavra claramente diz: “o pecado não terá domínio sobre vós”.
“Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8:1). Em minha pregação tenho explicado a palavra “condenação” muitas vezes. Cerca de vinte anos atrás, em um velho manuscrito escavado na terra, foi explicado que essa palavra, na língua grega original, possuía dois significados: um civil e outro legal (e nesse último sentido, utiliza-se a palavra “condenação” em português). De acordo com a utilização civil, ela poderia ser traduzida como “falta de força”. Portanto, podemos traduzir legitimamente esse versículo da seguinte maneira: “Agora, pois, já nenhuma falta de força há para os que estão em Cristo Jesus”. Quão maravilhoso é isso! Deixe-me perguntar novamente, a quem pertence esse versículo? Somente a Wesley? Ou a Martinho Lutero? Ou a Hudson Taylor? O que as Escrituras nos dizem aqui? Ela diz que todos aqueles que estão em Cristo Jesus não mais estão sem forças. Quem são essas pessoas? São todos os cristãos – já que cada cristão está em Cristo, e ninguém que se encontra Nele está sem força.
“A lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da lei do pecado e da morte” (v. 2). Vou repetir cem vezes que não são aqueles santos especiais que estão livres da lei do pecado e da morte. Ao contrário, é verdadeiro que todo cristão é liberto da lei do pecado e da morte. Qual o significado de “estar sem força”? É o que é dito em Romanos 7: “o querer fazer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço” (v. 18b – 19). Em outras palavras, a ênfase principal em Romanos 7 indica que não possuo força, eu não posso fazê-lo. A história de muitos cristãos é marcada por um ciclo de resoluções e promessas quebradas. Contudo, damos graças e louvores ao Senhor porque a Sua Palavra inequivocadamente declara que nenhum cristão está, agora, sem força.
O que é lei? É algo que sempre se repete. Uma lei age sempre da mesma maneira e produz o mesmo resultado em qualquer lugar sob quaisquer circunstâncias. É um fenômeno constante, revela um hábito constante, e sempre termina com o mesmo efeito. Há, portanto, a força da gravidade no centro da Terra. Toda vez que você lança um objeto, aquele objeto é sempre atraído pela força gravitacional e cai. Essa força da gravidade é, portanto, uma lei universal.
Para alguns, então, a perda de paciência torna-se uma lei. Conseguem suportar a tentação uma ou duas vezes, mas na terceira vez em que são provocados, começam a ficar agitados, e na quarta vez perdem a paciência completamente. Não importa qual pessoa ou que coisa encontram. No início, podem agüentar uma provocação, mas irão explodir mais tarde. Assim, em cada ocasião que forem tentados a perder a paciência, sem exceção terminam com o mesmo resultado.
O orgulho, freqüentemente, age da mesma maneira. Você pode permanecer intocável pela primeira palavra que o louvarem, mas irá sentir o seu rosto começando a brilhar de orgulho ao ouvir a segunda e terceira palavra de elogio. Tudo o que passa pelo mesmo procedimento e produz o mesmo resultado constitui-se em uma lei. Em poucas palavras, nós pecamos até que o pecar se torne uma lei.
É necessário que se diga novamente que não são apenas aqueles cristãos especiais que são libertos da lei do pecado. Ao contrário, todo cristão, daqui para frente, não deve ficar sem força. As passagens das Escrituras citadas acima são fatos, não ordens. Elas devem, portanto, ser experimentadas por todos os cristãos. No entanto, quão triste é que a nossa experiência não está à altura da palavra de Deus.
6) Uma Vida que vence as circunstâncias.
“Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? (…) Em todas estas cousas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou” (Rm 8:35 – 37). Por meio do Senhor que nos amou, fomos feitos mais que vencedores em todas as coisas. Este é, de fato, o tipo de experiência que um cristão deveria possuir. Porém, a menor mudança no semblante de outro –sem falar em tribulação ou espada! – nos fará perder a consciência do amor de Cristo. No entanto, Paulo declara que em todas essas coisas, somos mais que vencedores.
Vitória deve ser a experiência normal de um cristão; derrota deve ser anormal. Pois, segundo a vontade de Deus, todo cristão deve ser mais do que vencedor em todos os tipos de ambiente. Quer seja tribulação ou angústia, ou perseguição ou fome ou nudez ou perigo ou espada, não apenas venceremos, mas seremos mais que vencedores! Qualquer aumento de dificuldades não fará diferença. O mundo pode considerar os cristãos como loucos. E que importa se formos considerados loucos! Por causa do amor de Cristo não importaremos com essas coisas, porque seremos mais do que vencedores sobre elas. E como ordenado por Deus, essa deve ser a experiência de todo cristão. Mas qual é a nossa experiência? É triste dizer que não temos vivido de maneira correta. Pois, com a menor tribulação que vem em nossa direção, gritamos e reclamamos do quanto temos suportado e sofrido. Porém, se vivermos corretamente, seremos mais do que vencedores em todas essas coisas.
“Graças, porém, a Deus, que em Cristo sempre nos conduz em triunfo, e, por meio de nós, manifesta em todo o lugar a fragrância do seu conhecimento” (II Co 2:14). A vida cristã não é uma vida que às vezes vence e às vezes é derrotada; não é uma vida que é derrotada pela manhã e que vence à tarde. Ela é sempre triunfante. Segundo o padrão Bíblico, deve ser considerado estranho se você não vence, e comum se você vence!
7) Uma vida que pratica o bem.
“Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2:10). Todos sabemos que este versículo é a continuação daqueles versículos tão conhecidos e preciosos: os versículos 8 e 9. O que é mencionado nos versículos precedentes, é que somos salvos pela graça; mas aqui nos é dito que somos Sua feitura, criados para as boas obras que Deus de antemão preparou para nós. Essa não é a descrição da experiência de alguns cristãos especiais; é, ao contrário, a experiência comum compartilhada por todos os cristãos – em outras palavras, Deus nos salva a todos para que todos pratiquemos o bem.
Você faz o bem de acordo com o que Deus ordenou? Ou você está praticando boas obras por um lado e por outro lado murmurando? Por exemplo, talvez você esteja limpando o chão, você fica imaginando porque somente você e um outro irmão estão fazendo aquilo. Por que os outros irmãos também não estão limpando o chão? Ao cogitar sobre assuntos assim, ou você fica orgulhoso de si mesmo, ou começa a murmurar contra os outros.
Isso não pode ser considerado como praticar boas obras. Todo cristão deve praticar o bem com o coração cheio de gozo, sem restrições ou reclamações, sem egoísmo, mas com o desejo de dar a sua vida pelas outras pessoas. Quão triste seria se apenas o melhor cristão pudesse praticar boas obras.
8) Uma vida que é cheia de luz.
“De novo lhes falava Jesus, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas, pelo contrário terá a luz da vida.” (Jo 8:12). Esta é a vida que Deus ordenou para os cristãos. Não que uma classe especial de cristãos ande na luz da vida, mas que todos os que seguem a Cristo não andem nas trevas, mas possam ter a luz da vida. Um cristão que é cheio de luz é um cristão normal; o que não possui luz é, sem dúvida, anormal.
9) Uma vida que é totalmente santificada.
“O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo, sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (I Ts 5:23). Essa é a oração do apóstolo Paulo pelos cristãos tessalonicenses. Já que ele orou, “santifique em tudo”, é evidente que é possível ser inteiramente santificado, bem como ser “conservados íntegros”. Pois Deus é capaz de nos santificar completamente e nos preservar sem mácula.
Todos esses assuntos mencionados acima, dizem respeito ao que o Senhor providenciou para os cristãos. A Sua salvação é tal que habilita todos os cristão a manterem comunhão ininterrupta com Deus, bem como a vencerem o pecado tão completamente a ponto de pisá-lo sob seus pés. Esta, então, é a vida ordenada pelo Senhor para todos nós. Não é teoria, mas é realmente um fato.
A Vida que Vence deve Experimentar a Salvação de Deus
Qual é a sua experiência hoje? Se sua experiência é diferente daquela descrita nas Escrituras, então você está necessitado de salvação plena. Ter sido salvo é um fato para você; mas você ainda não obteve a salvação em plenitude. Poderia eu; portanto, trazer-lhe boas novas? O que o Senhor Jesus alcançou na cruz não somente pode salvá-lo da penalidade do pecado, mas também pode libertá-lo da dor do pecado. Ele preparou uma salvação tão completa para nós, para que possamos tanto receber a salvação inicial, como viver diariamente em vitória.
O que é vitória? Vitória é, na realidade, uma faceta reparadora da salvação. É assim, porque no momento em que fomos salvos, algo estava faltando – mas não da parte de Deus; pois Ele nunca nos daria uma salvação que nos permitiria viver uma vida vagueante: Ele quer que tenhamos salvação plena. Mas por não sermos bem salvos, hoje necessitamos dessa faceta reparadora, que nada mais é do que a experiência da vitória.
Será que Deus nos salvaria e nos permitiria continuar a viver continuamente pecando e arrependendo? Podemos nós continuar pecando, tendo o Filho de Deus morrido por nós? Será possível que pelo fato de pecarmos antes de sermos salvos, não conseguimos evitar o pecado após termos sido salvos? Quão opostos são Deus e o pecado. Permitiria Deus que o pecado continuasse em nós? Nunca! Isso é odioso! Quer seja físico, psicológico ou de índole, pecado é pecado.
Digamos ao Senhor: “Senhor, eu Te louvo e Te agradeço, pois o que alcançastes na cruz me libertou do poder e da penalidade do pecado. Permita-me ver a minha inadequabilidade e faz-me buscar a vitória.” Se a nossa experiência não está de acordo com o que as Escrituras declaram, então realmente estamos necessitado de vitória. Não enganemos a nós mesmos, imaginando que pecar é inevitável para um cristão. Eu creio que nenhum pensamento magoa mais o Senhor do que esse tipo de atitude.
O que realmente achamos que a cruz de Cristo conquistou? Será que alcançou apenas um pouco para nós? Não mintamos a nós mesmos, Não nos gloriemos ao conseguirmos suprimir e controlar a nós mesmos, pois essa supressão e controle não se constituem em vitória. A Vitória de Cristo é destruir completamente o pecado. E louvado seja Deus por ter o Senhor pisado o pecado sob os Seus pés. Mas hoje, aqueles dentre nós que ainda não obtiveram comunhão ininterrupta com Deus, nem tiveram o poder para vencer o pecado, em verdade estão necessitados de vitória. Possa ser Deus gracioso para com cada um de nós.