A verdade sobre os Livros Apócrifos do Novo Testamento

Autor: Gevan Oliveira
Uma resposta à matéria “Jesus na boca do povo – O Cristo dos textos rejeitados pela Igreja toma o lugar do Messias dos Evangelhos” (Revista Época Edição 202 01/04/2002)

“Jesus…, um misterioso e celestial ET disfarçado de humano”. A frase em destaque foi publicada pela revista Época na edição nº 202 de 01/04/2002. Uma das mais respeitadas publicações da imprensa nacional, a Época procura numa tentativa frustrada e recheada de argumentos ocos, conjecturar como seria o cristianismo se os livros canônicos fossem substituídos pelos apócrifos.

Lamentavelmente, a falta de conhecimento teológico do colega jornalista ou sua necessidade de produzir algo vendável, o faz trilhar por caminhos já percorridos por outros aventureiros da “arte” que buscam fama e dinheiro criando invencionisses a partir de declarações expeculativas dos livros apócrifos.

A exemplo do cineasta Martin Scorsese, de A Última Tentação de Cristo, que, baseado no livro do escrito grego Nikos Kazantzakis, apresenta Jesus como um freqüentador de prostíbulo, demente e esquizofrênico sexual. Um Cristo que vive sonhando aventuras sexuais com inúmeras mulheres, entre elas as irmãs de Lázaro e a própria Maria Madalena.

Ou ainda o Jesus líder de uma seita de homossexuais, segundo o livro Corpus Christi de Terrence McNally. Ou mesmo como o best seller internacional de 1992, Holy Bloond Holy Grail (O santo Sangue o Santo Graal) que especula que Jesus se casou com Maria Madalena e juntos tiveram seis filhos.

Impressionante como as viagens alucinógenas sobre a figura de Jesus sempre permeiam a sua sexualidade !!! Acho que Freud, para isto, tem a resposta… Na verdade, esse é o único caminho que sobrou para se tentar pegá-Lo em algum fraude.

Quem se arrisca julgar ou interpretar Jesus sobre outra visão acaba abortando obras bizarras, como a do semita John Allegro. No livro The Sacred Mushroom and the Cross (O Cogumelo Sagrado e a Cruz) o infame diz que Jesus não é uma pessoa histórica, mas uma espécie de nome em código aludindo ao uso de uma droga alucinógena feita com o cogumelo de cabeça vermelha, Amanita Muscaria.

Já os escritores do Novo Testamento eram supostamente membros de um antigo culto da fertilidade que colocaram seus segredos num elaborado criptograma, o próprio Novo Testamento.

Nessa visão de Alegro, temos que admitir, nem os apócrifo são tão competentes.
O escritor do Novo Testamento, o erudito inglês, R.T. France em seu livro The Evidence for Jesus de 1986, diz o seguinte sobre as novidades sobre o Jesus Histórico:

“Todas essas reconstruções de Jesus têm necessariamente em comum um extremo ceticismo com relação à evidência principal relativa à Ele, os evangelhos canônicos, que são considerados como uma distorção deliberada da verdade , à fim de oferecer à adoração cristã um Jesus adequado.

Em vez disso, eles procuram insinuações de “evidência suprimida”, e dão o lugar central a detalhes históricos incidentais e a tradições apócrifas tardias conhecidos dos eruditos bíblicos tradicionais, mas que tem sido geralmente considerados como periféricos na melhor das hipóteses e, em muitos casos, bem pouco confiáveis.

credulidade com a qual é aceita esta “evidência suprimida”, que recebe um lugar de honra na reconstrução do verdadeiro Jesus, é ainda mais notável quando contrastada como excessivo ceticismo mostrado em relação aos evangelhos”

Trazer à tona o que dizem os livros apócrifos sobre o Jesus da história na intenção de fazer uma releitura ou de negar os livros canônicos, é uma profunda perda de tempo. Não pelo fato de estes são os únicos considerados inspirados por Deus, mas pelo simples fato de que os apócrifos não se sustentam em suas narrativas e nem podem ser comparados com os escritos das testemunhas oculares e seguidoras fiéis de Jesus e do cristianismo.

A acusação de que os apócrifos foram escritos por pessoas humildes e por isso não foram aceitos, é prova da falta de informação (ou má fé) do escritor. Gostaria de lembrar ao colega que os apóstolos Pedro e João, autores de 7 dos 27 livros do Novo Testamento, eram rudes pescadores.

Outro detalhe crucial: a afirmação de que os livros rejeitados pela igreja foram escritos por pessoas que conviveram com Ele também não procede, uma vez que seus registros datam a partir do século 1º.

Mas o que realmente são os livros apócrifos
Honestamente, o que os céticos questionam é a veracidade do cânon neo-testamentário. Porque somente eles contêm a verdade de Jesus? Esta é a pergunta chave.

A indagação só vem à tona por pura ignorância histórica e teológica. O termo “apócrifo” vem do grego e significa coisas ocultas. Quando se fala em apócrifo, normalmente, se faz alusão aos catorze ou quinze livros do Velho Testamento (VT), mas no caso da matéria em questão, o autor se reporta aos escritos do Novo Testamento (NT).

Assim como no caso do VT, os apócrifos do NT também não são aceitos devido a sua autoridade e autenticidade duvidosas. Mas como, então, os livros chegaram à seleção que conhecemos hoje? Quem deu o veredito?

A resposta: o Canôn. Esta palavra é uma transliteração de um termo grego com o sentido principal de bastão ou regra. Nos primórdios da igreja cristã, teve o sentido de regra de fé, mais tarde, representaria a lista dos livros neo-testamentários.

O Cânon do NT não surgiu arbitrariamente do dia para a noite. Os livros de história registram que em 393 a.D. o Concílio da Igreja da época, denominado de O Sínodo de Hippo, listou os 27 livros que compõem o NT, e quatro anos mais tarde, a decisão foi reafirmada no Terceiro Sínodo de Cartago.

Contudo, e é aqui que se encontra o cerne da questão, o que a igreja fez foi apenas conferir uma autoridade que os livros já possuíam. Muitos anos antes da reunião dos concílios, os presbíteros das igrejas locais do 1º século colecionavam, avaliavam e decidiam quais dos escritos de seus dias tinham a autoridade dos apóstolos.

Como declara um dos mais importantes apologetas do nosso século, autor de prestigiados livros sobre a historicidade de Jesus, o inglês, Josh MacDowell, os registros que mereciam mais atenção eram exatamente aqueles que continham relatos e atos de Jesus. “O Cristo, para eles, tinha a mesma conotação divina atribuída a autoridades importantes do Velho Testamento, como a dos profetas. Isto porque Ele era considerado e aceito como o Messias de Deus, daí a opção”.

Outro fator de grande relevância diz respeito à data em que os documentos foram escritos. Os que fazem parte hoje do Cânon foram produzidos antes do fim do primeiro século, como afirmam alguns pesquisadores, entre eles, o renomado arqueólogo bíblico William Albright em seu livro Recent Discoveries in Bible Lands “Já podemos dizer enfaticamente, que não há mais nenhuma base sólida para datar qualquer livro do Novo Testamento depois de 80 a.D.” A única dúvida paira sobre o livro de apocalipse, que outros historiadores acreditam ter sido escrito por volta do ano 95 a.D.

Este fato, segundo os estudiosos da história bíblica, possibilitou àqueles que selecionavam os textos o acesso a testemunhas oculares. Dessa forma, eles poderiam, oralmente, conferir a veracidade do que havia sido escrito. À medida em que os apóstolos iam morrendo, a necessidade de se preservar seus relatos fazia com que suas epístolas fossem valorizadas ainda mais.

Quanto mais antigo fosse o escrito, menos confiança e mais cautela havia para se avaliar sua autenticidade. O interessante é que praticamente todos os escritos apócrifos são reconhecidos historicamente como sendo do primeiro, segundo e até do 3º século, outros ainda de quase mil após: O Evangelho de Tomé (140 a.D); Evangelho para os Hebreus (cerca de 170 a.D.); O Tratado da Ressureição (meados ou fim do 2º século); Evangelho de Pedro (200 a.D.); O Evangelho de Filipe (século 3º a.D) Evangelho Pseudo-Mateus (séculos 8º ou 9º a.D.).

Dessa forma, por terem sido escrito muito tarde oferecem pouca, ou nenhuma evidência histórica confiável de Jesus. Além disso, detalhes em desacordo com os preceitos cristãos são facilmente encontrados nesses livros.

Como é o caso do Evangelho de Pedro. Aparentemente baseado nos evangelhos canônicos, sua narrativa é condenada por apresentar detalhes que se arranjam para satisfazer ao propósito do autor. Além de ser doceta (conceito herético de que o corpo de Jesus não era de carne e sangue reais), ele também argumenta fortemente a favor da inocência de Pilatos e culpa apenas os judeus pela crucificação.

Já o Evagelho de Tomé, foi condenado pelos eruditos por conter claras evidências de gnosticismo (uma tentativa de explicar todas a coisas pela razão), o que é uma afronta à fé genuína cristã.

Muitas outras contradições e tiros no escuro sobre Jesus são disparados pelos apócrifos que parecem ter atingido alguns predestinados a duvidar do Jesus histórico.

Mas não quero terminar argumentando a favor da história, afinal de contas, “A canonicidade é determinada ou fixada autoritariamente por Deus, sendo, simplesmente descoberta pelo homem” (Norman Geiler e William Nix – A General Introduction to the Bible, 1986).

Gevan Oliveira é Jornalista e evangélico Batista há 18 anos
gdoliveira@sfiec.org.br

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