Autor: Isaltino Gomes Coelho Filho
No livro A Igreja é Maior do Que Você pensa, Johnstone conta que viu, no saguão de uma igreja, voltada para as pessoas que saíam, uma faixa dizendo “Agora você está entrando em seu campo missionário”. Esta declaração lembrou-me outra, resposta de um pastor à pergunta: “Onde se reúne a sua igreja?”. Disse ele: “Em que dia da semana?”.
Na palavra de Johnstone, entendemos que missões é mais que enviar alguém a um determinado lugar ou encaminhar ofertas para juntas ou pessoas. Missões é a vivência de cada cristão, ao compreender que seu espaço residencial, estudantil, profissional, de lazer, seja qual for, é seu campo missionário. Na resposta do outro pastor, entendemos que a igreja não se reúne apenas para cultos, num prédio chamado “templo”. No Novo Testamento, templo e igreja são sempre gente, nunca um lugar. O culto mais vibrante e o serviço missionário mais expressivo são os do cotidiano das atividades. É a responsabilidade pessoal de cada filho de Deus com seu testemunho. É a igreja fora do prédio.
Um jovem se dizia chamado para o ministério. Seu pastor perguntou-lhe o que ele vinha fazendo pelo Senhor. O moço respondeu que por ora, nada. Depois, preparado e entrado no ministério, faria alguma coisa. O pastor replicou que ele não entendera direito. Ele já estava no ministério, pois ministério é serviço. Se alguém não serve a Deus agora, como e onde está, não deve pensar num possível serviço, no futuro. Se não serve agora, por que se preparar para o serviço? Se não faz agora o que pode fazer, algo está errado.
O conceito de serviço cristão de muitos é que ele deve ser feito por profissionais eclesiásticos. As pessoas vão à igreja, assistem o culto, o pastor as serve, ajuda-as a viverem suas vidas seculares e os pastores e missionários fazem a obra. Conceito errado, que piora quando alguns, até bondosos, dizem que precisam ajudar o pastor a fazer a obra. Esta é da igreja como um todo. Os pastores têm a incumbência de treinar e equipar a igreja para ela cumprir seu ministério. No boletim de uma igreja batista vi isto bem retratado: “Ministro da Igreja: todos os membros. Auxiliar dos ministros: o Pastor da Igreja”. Jesus deu pastores à igreja (Ef 4.11-13) para ela crescer, amadurecer e cumprir sua missão: evangelizar o mundo, difundir o evangelho e erguer bem alto o nome de Jesus. A missão é de todos.
Fui para o seminário com 19 anos de idade. Concluí o curso e sou pastor há 32 anos. Quando fui, discutíamos reestruturação denominacional. Caminho para a aposentadoria e discutimos o mesmo tema. Temos uma crença ingênua de que nossos problemas, lacunas e deficiências podem ser supridos com estruturas. Criamo-las, desmontamo-las e recriamo-las. Por vezes, cosmética pura. Mudamos rótulos. Creio que nossa maior necessidade não são esquemas. São pessoas. Nossos problemas não são estruturais, mas comportamentais. Necessitamos de uma mudança de comportamento. Em duas pontas. De alguns que, por vezes, se pensam donos da obra. Este não é um problema no Cambuí – menciono-o em nível geral. Gente que se sente “dona do pedaço”, não o larga, não abre mão, por pior que as coisas sigam. De outro lado, os que pensam não serem importantes, que há outros mais capazes, e que se satisfazem assistindo cultos. A obra é de todos, num sentido, o da responsabilidade. E de ninguém, noutro sentido, o de ter dono. É de Deus.
Precisamos de gente engajada, envolvida, participante, responsável. Que não domine nem se esconda. Que veja a obra como sua responsabilidade, embora pertencente a Deus. Sejam nossos olhos abertos para isto.
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