A Relevância dos Manuscritos do Mar Morto

Autor: Luiz Sayão

Os primeiros Manuscritos do Mar Morto (MMM) foram achados por acaso numa caverna, nas encostas rochosas do deserto da Judéia, em março de 1947, por um pastor beduíno que procurava uma cabra perdida. Foram achados jarros com manuscritos de diversos livros sagrados de uma comunidade de judeus essênios. Posteriormente, várias outros manuscritos foram encontrados em outras cavernas. O material encontrado, datado desde o III séc. aC até o ano 68 AD, estava em Cunrã, em Wadi Murabba’t, em Wadi Daliyeh, em Massada e nas cavernas de Nahal Hever e Se’elim. O histórico dos achados pode ser aqui resumido:

Em Cunrã. O material estava em 11 cavernas (ou grutas). Na Caverna 1 (1Q) foram achados o Grande Manuscrito de Isaías (1QIs), a Ordem da Comunidade, Hinos de Gratidão, a Ordem da Guerra dos Filhos da Luz (comentário de Habacuque) até 1947. Em 1949 foram achados cerca de outros 70 fragmentos. Nas Cavernas 2, 5, 6, 7, 8, 9 e 10 havia apenas fragmentos de mais de 130 manuscritos. Em 1952 a Caverna 3 trouxe a surpresa do achado do grande manuscrito de cobre, com uma lista dos tesouros do templo e de seus lugares. Na Caverna 4 foram encontrados em 1952 cerca de 400 manuscritos, sendo 100 deles manuscritos bíblicos. Com exceção de Ester, todos os livros do AT estavam representados, além de haver também muito material apócrifo e pseudepigráfico. Em 1956 a Caverna 11 mostrou rica em material bem preservado. Entre os manuscritos achou-se o livro de Salmos, o livro de Jó em aramaico, Levítico (na escrita antiga) e muitos fragmentos. Em 1967 foi achado o Manuscrito do Templo (o mais extenso de todos).

Em Wadi Murabba’at. A 17 km ao sul de Cumrã, duas cavernas revelaram seus achados em 1951-52. Além dos manuscritos ligados ao exército do Bar Kochba, foi encontrado um manuscritos com o texto dos doze profetas menores quase idêntico ao que conhecíamos.

Em Wadi Daliyeh. Nesse local perto de Jericó, não foi encontrado nada tão relevante. Destacam-se alguns papiros samaritanos (em escrita antiga) entre os cerca de 40 manuscritos achados em 1962-64.

Em Massada. Em 1963-65, foi achado um manuscrito de Eclesiástico em hebraico e fragmentos de Salmos, Levítico, Gênesis, e o Manuscrito dos Cânticos do Sacrifício do Sabath.

Em Nahal Hever e Se’elim. Nessas cavernas ao sul de En-Gedi havia muito material sobre Bar Kochba e alguns manuscritos bíblicos. Destaca-se a tradução grega dos Profetas Menores. Foram achados entre 1952-1961.

Antes da descoberta dos MMM, a mais antiga cópia hebraica do AT era o texto Ben Asher, arquivado em Leningrado e datado de 1008 AD. Esse é o Texto Massorético padrão, base da Bíblia Hebraica de Kittel, e da Biblia Hebraica Stuttgartensia. Portanto, os manuscritos bíblicos achados são pelo menos mil anos mais antigos do que o Texto Massorético tradicional. A verdade é que os Manuscritos do Mar Morto contêm manuscritos bíblicos bem preservados, manuscritos bíblicos diferentes (ou corrompidos) e material religioso próprio da comunidade local. Deve ser lembrado que o normal é esperar um manuscrito corrompido (especialmente com mil de diferença de outro). Todavia, o número de manuscritos muito próximos ao Texto Massorético é surpreendente e revela uma preservação de texto sem precedentes na história. Alguns manuscritos, porém, possuem semelhanças maiores com a Septuaginta. Isso tem enriquecido muito o campo da crítica textual, e deu maior valor à versão grega do AT. Além disso, os MMM têm sido úteis aos estudiosos na solução de difíceis problemas de tradução de passagens obscuras do AT.

As versões bíblicas publicadas antes de 1947 não contam com toda essa riqueza dos MMM. Felizmente, algumas versões contemporâneas da Bíblia têm considerado essas descobertas extraordinárias na tradução do AT. Em português já existem várias versões que interagem com os MMM: A Bíblia de Jerusalém, a Tradução Ecumênica da Bíblia e Nova Versão Internacional são alguns exemplos. O exame atencioso de suas notas revelará esse fato.

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Luiz Sayão é mestre em Hebraico pela USP e editor acadêmico de Edições Vida Nova. Foi coordenador geral da Bíblia NVI para a Língua Portuguesa.

1 Comentário

  1. nada é por acaso tudo tem a sua hora ainda mais se for a palavra de nosso Pai nosso Deus

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