A Posição do Anglicanismo sobre o homossexualismo: Uma resposta ao Rev Mario Ribas

Autor: Miguel Uchoa
É importante que o debate e a exposição de idéias seja legitimo e tenha seu lugar garantido numa sociedade democrática. Por isso, venho aqui colocar minhas observações quanto ao artigo escrito pelo Rev. Mario Ribas.
Respeitando a opinião do autor, gostaria de fazer alguns esclarecimentos que creio estiveram ausentes no artigo do reverendo da Diocese Anglicana de São Paulo. Para facilitar a leitura e o raciocínio vou enumerar os pontos uma vez que apenas pretendo me deter naquilo que entendo ficou pouco esclarecido.

1.A afirmação do Rev. Ribas de que a declaração dos primazes da comunhão anglicana deixou “ subtendido”, nas palavras do mesmo, que a benção a pessoas do mesmo sexo poderia ser dada de maneira privada como resposta pastoral. È uma afirmação pessoal do reverendo e não tem qualquer fundamento se nos basearmos no texto da declaração e não nas observações do Rev Ribas. O texto esta disponível a qualquer pessoa na pagina da comunhão anglicana. A pratica foi rejeitada e o Revê Ribas tem razão, por falta de consenso, pois dos 38 primazes da Comunhão anglicana não mais do que 7 teriam posições duvidosas a este respeito.

2.Os casos citados pelo Reverendo na Inglaterra , no Canadá e nos Estados Unidos, estão causando a maior crise jamais enfrentada na Comunhão Anglicana. A idéias de que vivemos um momento de simples ajuste não é bem verdade. A indicação do revê Jones na Inglaterra foi suspensa e hoje sabemos que não foi por uma simples renuncia ou ato de grandeza do mesmo, mas pela pressão da maioria ortodoxa evangélica, com a participação da rainha da Inglaterra e do próprio Arcebispo de Cantuária.
O caso do Canadá e dos EUA estão gerando crise nestas igrejas e possivelmente nos próximos meses algo muito grave acontecerá e comprometerá a Unidade da Comunhão Anglicana .

3.A Igreja Anglicana é uma comunhão de igrejas nacionais e trans-nacionais e tem em comum não um dogma, é bem verdade, porém, mais que isso, possui ou possuía a chamada comunhão que ao longo de séculos foi preservada pelo respeito mútuo e pela ausência de decisões individuais e localizadas que quebrassem este estado de comunhão. Os instrumentos de comunhão e unidade sempre foram conhecidos como sendo pelo menos 4 a saber
A Conferência de Lambeth e o Arcebispo de Cantuária. Encontro que ocorre a cada 10 anos e que afirmam a posição da maioria da comunhão anglicana e que sempre foi respeitada até recentemente.
A reunião dos Primazes, encontro de todos os bispos presidentes da Comunhão anglicana, que não legisla, mas também da direção e pretende manter a comunhão da Igreja
O quadrilátero de Chicago Lambeth, que afirma os credos históricos, o episcopado como símbolo de unidade, os dois sacramentos do Batismo e da Ceia do Senhor e as Sagradas Escrituras.
O Conselho Consultivo Anglicano, reunião de representantes leigos e clericais, que tratam dos assuntos mais amplos que envolvem a igreja.
As decisões tomadas isoladamente pela diocese de New Westminster Canadá e New Humpshire EUA contrariaram todos os instrumentos de Unidade da Comunhão anglicana.
A Conferência de Lambeth , por maioria esmagadora rejeitou a normalidade da prática da homossexual entre os cristãos. Afirmou a sexualidade como benção dentro do casamento e a união heterossexual como padrão escriturístico. Resolução 1.10 Lambeth 98. Esta mesma conferência condenou a homofobia e recomendou mais estudos na área.
O reverendo Ribas acentua a recomendação de estudos, mas omite a RESOLUÇÃO da conferência .
O arcebispo de Cantuária , aconselhou a igreja americana a não seguir em frente na sua decisão de homologar a eleição do Bispo Robinson e junto com os primazes rejeitou a posição da diocese de New Westminster.
O quadrilátero de Chicago-Lambeth apresenta o episcopado como símbolo de unidade, e tudo que ele não tem sido é exatamente isso no caso dos EUA e do Canadá. As decisões destes bispos estão levando a igreja anglicana a uma grande possibilidade de cisma.
O conselho Consultivo Anglicano, não recomendou as posições desta igrejas quanto ao assunto.

4.O reverendo Ribas cita uma carta pastoral que foi emitida pelos bispos brasileiros da época (1977) , dizendo que os bispos não condenam a prática da homossexualidade e depois afirmando que a igreja incentiva as relações fiéis e monogâmicas. Participei do Sínodo de 1977 na qualidade de delegado da Diocese de Recife e fui eu mesmo que questionei aquela “Carta Pastoral” sugerindo que ela fosse colocada em discussão pelo plenário daquele sínodo. Isso causou inquietações , pois nunca uma carta pastoral dos bispos havia sido discutida, os bispos concordaram desde que não houvesse modificação. A carta foi considerada como a opinião dos bispos e não como posição da igreja . A igreja brasileira não tem nenhuma posição canônica que autorize esta prática e seu povo não pensa como os bispos que redigiram aquela carta.

5.É no mínimo equivocada a firmação do Rev. Ribas quando afirma que esta é a posição da maioria das províncias anglicanas. O debate é lícito, mas fazer afirmações deste tipo não é honesto. A maioria esmagadora das 38 províncias anglicanas rejeita a normalidade da prática homossexual. Isso esta claro a partir da conferência de Lambeth e a partir das declarações que tem sido feitas nos dias de hoje, quando muitas províncias e dioceses já declararam-se sem comunhão com estas igrejas cismáticas dos EUA e Canadá

6.O Arcebispo de Cantuária , após a decisão dos EUA em homologar a eleição de um bispo declaradamente Gay, convocou uma reunião emergencial de todos os primazes da comunhão anglicana para o mês de Outubro. Lá serão avaliadas as posições e muito se ouvirá desta reunião; Os bispos e líderes ortodoxos evangélicos, carismáticos e anglo católicos credais dos EUA, estarão se reunindo em Plano Texas também em outubro para avaliar e decidir o futuro das mais de 20 dioceses que não se alinham com as posições cismáticas da igreja americana. Líderes da América do Sul estarão reunidos em Córdoba Argentina também em Outubro onde entre outros assuntos, discutirão este difícil momento que vive a comunhão anglicana, ou pelo menos algumas de suas igrejas filiadas.

7.A grande realidade é que hoje a comunhão anglicana é um organismo vivo, atuante e fiel às Sagradas Escrituras. A Comunhão anglicana hoje é de maioria esmagadora: negra, cinzenta, pobre, ortodoxa em termos teológicos e doutrinários. Somos a igreja que mais avança na África e em partes da Ásia. Na América Latina as igrejas evangélicas são as que mais crescem , na Inglaterra os evangélicos são hoje os que fazem o balanço e ainda conseguem , pelo seu dinamismo e crescimento , equilibrar suas entradas, com a evasão das igrejas liberais.

8.As posições da igreja Americana e Canadense, não representam nem de perto o pensamento da igreja anglicana como um todo. Isso deve ficar muito claro. A maioria da Comunhão anglicana admite a homossexualidade como desvio do padrão escriturístico e portanto um pecado aos molhos do criador, Acolhe pessoas de qualquer sexo e orientação, mas sempre apresentando o padrão da criação como heterossexual. “ homem e mulher os criou…”
Apesar de respeitar as opiniões pessoais do Rev. Ribas e de com direito discordar delas, faço um apelo para que as posições pessoais sejam distintas das posições institucionais e que o jogo de palavras nem sempre bem colocadas, não venha a confundir a opinião pública.

O autor é Reverendo pastor da Diocese Anglicana de Recife

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