Autor: José Fontoura
Se todos ponderassem o valor das palavras, menos falariam contribuindo assim para o franco entendimento dentre as famílias, as sociedades e os povos. Quantas vezes a desarmonia entre estes se deve a palavras desnecessárias! Se nós, como filhos de Deus, pensarmos no mal que uma palavra pode causar, aprenderemos a pensar três vezes antes de falar.
Ora, uma palavra, depois de proferida, pode de boca em boca percorrer o mundo inteiro. Uma só palavra pode fazer tanto mal que muitas não possam descrever. Enquanto que uma granada tem raio de acção limitado, rebenta uma vez só e num só lugar, a palavra, sem limite de tempo nem de espaço, segue, deixando atrás de si famílias e sociedades em desordem. Por uma palavra de comando, exércitos entram em luta, juncando de cadáveres o terreno alagado no sangue, que nunca seria derramado se a palavra não fosse dada.
Uma só palavra pode dar origem aos grandes sofrimentos morais que roubam a saúde das suas vítimas e as levam à sepultura. Enfim, há, com origem na palavra, uma infinidade de coisas indescritíveis, mas todas podem ser evitadas se refrearmos a nossa língua. “Vede quão grande bosque um pequeno fogo incendeia. A língua também é um fogo; como um mundo de iniquidade, a língua está posta entre os nossos membros, e contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, e é inflamada pelo inferno” (Tg 3:5-6).
Quando Jesus, referindo-se aos Seus, disse: “Vós sois o sal da terra”, manifestou o desejo de que nós, como Seus remidos, deviamos ser elementos preservadores neste mundo de corrupção. Mas nós, confessemo-lo sinceramente, temos dito muitas palavras inúteis e algumas vezes prejudiciais. Por isso, tenhamos cuidado, que “a morte e a vida estão no poder da língua; e aquele que a ama comerá do seu fruto” (Pv 18:21). Como seria bom se pudéssemos pesar, medir, e contar as palavras que proferimos Mas, para que a vontade do Senhor seja feita em nós e por nós, atentemos no que Ele diz: “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um” (Cl 4:6).
Como sabemos, pelas nossas palavras o pecador perdido pode conhecer e aceitar Jesus Como seu Salvador, mas é se falarmos o que d’Ele temos aprendido; senão, deixá-lo-emos perdido para sempre. Tenhamos o cuidado de não nos tornar loquazes, pois quando o crente fala muito e com o desejo de se tornar engraçado, pode dizer aquilo que o entristeceria se o ouvisse a outrem. To memos o excelente conselho do Senhor: “Todo o homem, seja pronto para ouvir, tardio para falar, porque na multidão de palavras não falta transgressão, mas o que modera os seus lábios é prudente (Pv 10:19; Tg 1:19).
Nós, pela graça de Deus, podemos evitar palavrões, mas, se nos descuidarmos, continuaremos a dizer as palavrinhas que o mundo só entende com malícia. Bom é evitar o mal, mas não mostrar a sua aparência é sensatez. “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem (Ef 4:29).
Nos, como crentes, não nos devemos ressentir pelas ofensas que nos sejam feitas. O cristão ofendido deve assemelhar a ofensa a um bocado de lama que cai num fato; tira-se muito melhor quando estiver seca. Façamos assim, irmãos, e com oração de fé e amor roguemos ao Senhor que mostre ao nosso ofensor o que ele fez, antes que lhe digamos alguma coisa, e vê tomar a iniciativa para a reconciliação.
Para sermos o que Deus quer que sejamos aqui no inundo, aprendamos d’Aquele cujas palavras são palavras puras, como prata refinada em forno de barro, purificada sete vezes (Sl 12:6), e de quem o mundo deu testemunho, dizendo: “Nunca homem algum falou assim como este Homem” (Jo 7:46). E, quando formos provados por amor do Evangelho, olhemos para Jesus “o Qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-Se Aquele que julga justamente” (I Pe 2:23).
Que nós, quando falarmos, possamos dizer como os nossos irmãos do Velho Testamento: “põe, Senhor, uma guarda à minha boca: guarda a porta dos meus lábios”.