A Batalha pela Igualdade no Coração da Fé

A Batalha pela Igualdade no Coração da Fé
A Batalha pela Igualdade no Coração da Fé

Vamos estudar sobre A Batalha pela Igualdade no Coração da Fé. Ler os Textos Bíblicos Centrais: Josué 24:1-2a, 14-18; João 6:60-69; Efésios 5:21-31

1. Efésios: Contexto e Controvérsias da Carta Apostólica

Uma Mensagem para Além de Éfeso

Tudo indica que a Carta aos Efésios não foi destinada exclusivamente à comunidade de Éfeso, mas sim a diversas comunidades na região da Frígia.

Por muito tempo, Paulo foi considerado seu autor, mas hoje há fortes indícios de que o texto reflete a situação da igreja por volta dos anos 90 d.C., um período significativamente posterior à atuação de Paulo (anos 50-60 d.C.).

O Silêncio Feminino e a Hierarquia Emergente

Um detalhe marcante é a ausência explícita de nomes de mulheres nesta carta, um contraste notável com outras cartas paulinas. Isso sugere um possível afastamento das mulheres de posições de liderança nas comunidades cristãs naquele período.

Da Graça à Nova Ordem Social

A carta aos Efésios, desde o início, enfatiza a salvação pela graça de Deus e a consequente necessidade de um “novo modo de vida”, que não segue “o modo de pensar deste mundo” (Efésios 2:2). Isso remete à confissão batismal de Gálatas 3:28, que garantia a participação plena de todos na comunidade, superando as hierarquias discriminatórias de gregos/judeus, homens/mulheres, escravos/livres. As primeiras comunidades cristãs revolucionaram as relações sociais e familiares.

Após falar da reconciliação trazida por Jesus na cruz e da edificação baseada na unidade (Efésios 2:19ss.), o autor clama pela prática do amor como critério fundamental para os relacionamentos. Contudo, há uma mudança sutil na compreensão da comunidade como corpo de Cristo. Se, na visão paulina, todos os membros juntos eram igualmente responsáveis pelo funcionamento da igreja, aqui o crescimento e a edificação passam a emanar “da cabeça, que é Cristo” (Efésios 4:16). Isso aponta para uma fragmentação e hierarquização, onde a “cabeça” (o homem) passa a assumir um papel principal na liderança.

2. O Código Doméstico: Um Retrocesso à Igualdade

A Contradição da Submissão

O texto que estamos analisando faz parte do chamado código doméstico (Efésios 5:21-6:9). Este código contradiz a teologia e a práxis inicial de igualdade do Evangelho, ao introduzir regras que regulamentam o comportamento dos membros da casa cristã sob o dever de submissão dos socialmente desiguais: mulheres, crianças e escravos.

O Ideal de Jesus vs. a Estrutura Patriarcal

O movimento de Jesus e as primeiras comunidades cristãs foram uma boa nova justamente por introduzirem novas formas de relacionamento na família, comunidade e sociedade. O código doméstico de Efésios 5:21-34, no entanto, representa a inserção de estruturas hierárquicas na comunidade cristã, incentivando as mulheres a retornar a seus lugares subalternos e a serem obedientes a seus maridos.

Submissão Feminina e Amor Patriarcal

O texto de Efésios 5:21-31 começa convocando todos à submissão mútua. Contudo, na sequência, exige a sujeição das mulheres aos seus maridos, justificando-a pela eclesiologia: assim como Cristo é a cabeça da Igreja e esta lhe é submissa, o marido seria a cabeça da mulher. A mulher torna-se o paradigma da eclesiologia (imagem da Igreja), e o homem, da cristologia (imagem de Cristo). Essa justificativa teológica reforça a tradição social da submissão feminina, onde o homem detém a autoridade e o papel de liderança.

Aos maridos, a incumbência é clara: amar suas esposas (mencionado três vezes: v. 25, 28, 33). Exige-se também que cuidem e nutram suas mulheres, assim como Cristo cuida da Igreja. Contudo, essas exortações não alteram as relações hierárquicas. Conflitos e divisões são abordados com base na submissão das categorias sociais desiguais (mulheres) e no amor patriarcal de quem detém a vantagem (homens). Gálatas 3:28 e o código doméstico de Efésios representam, portanto, duas formas antagônicas de entender e viver o Evangelho.

3. As Mulheres nas Cartas Paulinas: Uma Liderança Esquecida

Protagonistas da Missão Primitiva

Nosso objetivo é resgatar o papel e a participação das mulheres na igreja primitiva, focando nas cartas paulinas. As mulheres foram não apenas presentes no movimento de Jesus, mas também instrumentos cruciais para sua continuidade e expansão no mundo grego. Atos 6:1-8:3 e 11:20s. revelam que a missão entre os gentios não foi iniciada por Paulo, mas por um grupo que incluía mulheres.

Lideranças Feminas em Destaque

Na protocomunidade de Jerusalém, Maria, mãe de João Marcos, é mencionada pelo nome (Atos 12:12-17), indicando sua importância como líder. Nas cartas paulinas, mulheres são frequentemente chamadas de “colaboradoras” de Paulo – um número muito maior do que homens descritos como “auxiliares”. Mulheres como Prisca (cooperadora), Febe (diácona e prostátis), Júnia (apóstola), Maria, Trifena, Trifosa e Pérside (que “labutaram” muito) são reconhecidas por seu trabalho de evangelização e ensino (Romanos 16:6,12).

Filipenses 4:2-3 menciona Evódia e Síntique, que trabalharam “lado a lado” com Paulo, e o apóstolo temia que o conflito entre elas prejudicasse a missão. O casal Prisca e Áquila é um exemplo de parceria missionária, atuando de forma independente de Paulo. Prisca, em particular, é uma eminente missionária e fundadora de igrejas domésticas, como em Corinto e Roma. As igrejas domésticas, onde o cristianismo primitivo celebrava a Ceia do Senhor e pregava as boas-novas, contaram com a fundamental contribuição de mulheres como Ninfa (Colossenses 4:15) e Lídia (Atos 16:15). A liderança de Febe é caracterizada por títulos que designam mestres, missionárias e profetas.

4. Desafios Contemporâneos e a Releitura Libertadora

As Sequência do Código Doméstico Hoje

As realidades e consequências de Efésios 5:21-32 não nos são desconhecidas. A proposta do autor de Efésios de solucionar conflitos conjugais através do “silêncio das esposas” e da “piedade e amorosidade” do marido é profundamente prejudicial, especialmente em um contexto de violência contra a mulher. Exigir submissão de quem sofre maus-tratos e mais amor do agressor é contraditório.

O Patriarcado na Vida Diária

Essa lógica patriarcal se reflete em inúmeras experiências femininas: a mulher que deve se contentar com o básico provido pelo marido, sem questionar as finanças; a expectativa de “agradar o marido em tudo”, inclusive na quantidade de filhos ou relações sexuais, sob a premissa de que “poderia ser pior”. Até mesmo em brincadeiras de criança, meninas são ensinadas a ceder, enquanto meninos exercem poder e são admirados por isso. Essas recomendações trazem sequelas profundas para as mulheres.

Escolhendo o Caminho da Libertação

Os textos de João 6:60-69 e, sobretudo, Josué 24:14-18 são cruciais para nossa pregação. Eles nos ajudam a clarear a posição a assumir: o caminho da submissão ou o caminho que conduz à libertação. Não há como conjugar submissão com amor; não há como servir a dois senhores.

Com base na participação plena das mulheres nas comunidades cristãs primitivas e na hermenêutica da “imaginação criativa” (Fiorenza), sugiro que o texto de Efésios seja recontado com uma perspectiva libertadora:

“Mulheres, sejam libertas! Tenham autoridade, assim como as discípulas de Jesus tiveram. Na família cristã, todas e todos têm direitos e deveres iguais. O relacionamento hierárquico de senhor e servo, marido e mulher, foi substituído por relações igualitárias, e por isso, a igualdade deve prevalecer. Submissão e obediência não mais existem. Façam uso desta liberdade.”

“Maridos, respeitem as mulheres! Superem o orgulho. Valores como a superioridade não fazem mais parte do relacionamento entre homens e mulheres. Deus mesmo os substituiu, quando inverteu as relações sociais, apresentando-se como amigo. Não sigam mais a ideologia patriarcal que lhes impõe submeter outras pessoas, principalmente suas mulheres. Valorizem-se. Amem a si próprios: seu corpo, seu ser. Estendam esse bem-estar àquelas e àqueles que os cercam. Façam isto e serão felizes.”

Bibliografia
FIORENZA, Elisabeth S. As origens cristãs a partir da mulher: uma nova
hermenêutica. São Paulo: Paulinas, 1992.
REIMER, Ivoni R. O Belo, as feras e o novo tempo. Petrópolis: Vozes;
CEBI: São Leopoldo, 2000.
–. Women in the Acts of the Apostles: a feminist liberation perspective.
Minneapolis: Fortress, 1995.
SCHOTTROFF, Luise. Mulheres no Novo Testamento: exegese numa
perspectiva feminista. São Paulo: Paulinas, 1995.
STRÖHER, Marga J. Casa igualitária e casa patriarcal: espaços e perspectivas
diferentes de vivência cristã. São Leopoldo: IEPG-EST, 1998.

Autora: Rosane Pletsch

Visite o site www.sermao.com.br

Ler: Reformadoras: mulheres que influenciaram a Reforma e ajudaram a mudar a igreja e o mundo

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