Religião, votos e sacrifícios

Autor: Jonathan Menezes
Não pode haver abominação maior, escárnio mais tenebroso aos olhos de Deus que a devoção e sacrifícios externos a Ele de um lado, aliados a um vazio e uma escuridão interna decorrentes de um coração maligno e idólatra. Religião, pura religiosidade!
“Bandeira do inferno” (como denominou Glenio Paranaguá); emissária de Satanás enviada para incutir na mente dos crentes um falso senso de pureza e autojustificação, levando-os ao patamar do orgulho e beirando a intolerância.
Afinal, uma reparação exterior é sempre mais simples e atraente que a árdua missão de “reformar” o interior.
O povo de Israel, no tempo do profeta Jeremias, havia deixado de dar ouvidos à voz do Senhor e de andar conforme suas ordenanças, outrora estipuladas na aliança firmada com seus pais, aliança que se encontrava visivelmente violada. Duas acusações vieram à tona aqui: dureza de coração e idolatria (reverência a outros deuses). Jeremias, assim, exorta de maneira bem específica: “Que direito tem na minha casa a minha amada, ela que cometeu desonras? Acaso, ó amada, votos e carnes sacrificadas poderão afastar de ti o mal?” (Jr. 11:15).
Prestemos atenção em duas palavras que se destacam neste texto: direito e sacrifício. Pela antiga aliança, a nação de Israel passaria a ser “povo de Deus” por “direito” contraído, pelo que foi eleita por Deus a fim de ser povo santo, não obstante ser o “menor” dentre todos os demais povos, fato aparentemente esquecido.
Destarte, seus sacrifícios perante Deus eram puros, agradáveis e redentores por si só, assim se cria. Veja só, quanto mérito e quanta nobreza em jogo! Deus parecia estar fatigado diante de tanta balbuciação e tolice. Afinal, holocaustos passaram a ter maior importância e a ser tão suficientes quanto compaixão e misericórdia.
Jesus, porém, veio e enfraqueceu tanto o direito como o sacrifício, no sentido aqui exposto. A cruz de Cristo elimina qualquer mérito ou participação humana em alcançar sua própria redenção. Religião, votos e sacrifícios deram lugar à fé, à graça e ao amor, amor Divino, eterno e suficiente. Nas palavras de William James, nosso “pequeno ego convulsivo” foi anulado, e, segundo diz ainda uma canção de João Alexandre, “Deus não habita mais em templos feitos por mãos de homens”, e “não será jamais enclausurado na escuridão de quem ainda tem um coração de pedra”.

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