Com intuito de alcançar crescimento numérico e financeiro, líderes religiosos do seguimento cristão protestante não estão medindo esforços e criatividade para tal fim.
Novos modelos, estilos e tendências estão dando uma nova “CARA” para a igreja evangélica no Brasil.
Esses novos moldes incluem promessas de curas divinas, libertação de vícios instantaneamente, cultos místicos embalados por rituais judaicos, desafios de fé que abarcam os interesses financeiros, alto grau de doutrinação massificada com base nos rituais do Antigo Testamento. Nomenclaturas, símbolos e ritos impulsionam as pessoas a crerem e cegamente, sem nenhuma possibilidade de questionamento se envolvem com tais práticas doando tempo, esforço físico, mental, familiar e é claro o alvo maior, o financeiro.
Desafios de amor ao próximo, de zelo e cuidado pelos menos favorecidos, promoção social não é alvo e é de pouca prática neste meio.
Sendo este um país com grandes carências sociais, políticas e econômicas, este tipo de apresentação de um evangelho que promete prosperidade, conquista e sucesso pelo simples ato de fé encontra um campo vasto e indivíduos ávidos por soluções imediatistas. Com isto a verdadeira proposta do Cristo, que nasce em uma manjedoura e se mistura aos pobres sem deles nada extorquir, pelo contrário, fica em segundo ou terceiro plano, isto quanto aparece em cena.
Sérios problemas decorrentes deste tipo de aplicação do evangelho são facilmente detectados não necessitando com isto ser nenhum especialista no campo sócio/político, ou seja, qualquer indivíduo com mínimo conhecimento bíblico e percepção social e política os detecta.
De uma fonte que sempre se extrai chegará o tempo de esgotamento, isto não é levado em consideração e sem comiseração nenhuma, pessoas são levadas a doar até mesmo tudo do pouco que tem em muitos casos, em nome de uma suposta promessa bíblica de imediata solução e promoção de bem estar.
Um problema sócio/psicológico nasce aqui, pois ao invés de suprir as falhas e falta social e interior do ser humano através da educação, doação, incentivos, cursos, treinamentos e suporte para o mercado de trabalho. No lugar do bom e preparado estudo das escrituras e do preparo espiritual e colocado uma esperança funesta, vazia e que na grande maioria dos casos realmente não passará de uma esperança, uma espera que nunca chegará a ver o prometido se cumprir. Isto tem levado muitos a uma espécie de desolação espiritual. Internalizando o fracasso, o insucesso acaba provocando desanimo, desconfiança e em casos mais graves depressão, o não alcançar das supostas promessas é uma falha de fé. Ora, se a vitória, chavão gospel, acontece é de todos e há um ovacionar dos líderes e instituições, caso contrário, o fracasso é culpa única e exclusiva do pobre desfavorecido de fé. Este é um jogo inescrupuloso e terrivelmente doentio e covarde onde o soldado ferido na batalha é facilmente abandonado e lhe é imputado culpa pelo insucesso.
Socialmente e psicologicamente destruído este indivíduo entra para a uma das mais novas estatísticas do meio religioso, os “desigrejados”. Muitos desses não culpam as instituições com suas falsas promessas, mas se revoltam contra o próprio Deus representado pelas mesmas.
Outro problema sócio/psicológico é a massificação. Massificação, doutrinação que muito se assemelha a uma lavagem cerebral. Massificação que elege políticos em nome de uma fé e denominação. Massificação que leva ao poder sujeitos que já se sentem eleitos pelo divino, muito próximo da idade das trevas e tão pernicioso quanto.
Grandes massas são mobilizadas para marchas denominadas “PARA JESUS”, porém em grande medida Jesus não se faz presente, não foi convidado, apenas empresta seu nome. Não há espaço para todos, não há espaço para os poderosos líderes religiosos, sejam, apóstolos, bispos, pastores e claro políticos e Jesus.
O comércio da fé, espetáculo da fé, show da fé é outro entrave entre fé genuína e fé tipo exploração. Nunca se vendeu tanto em nome da fé. Objetos que curam, libertam, restauram e prosperam são apresentados como solução para todo e qualquer problema. Este é mais um retrocesso na fé protestante que a remete novamente a idade medieval onde as indulgencias foram alvo de protesto e fortemente combatidas pelos reformadores.
Se por um lado muitos estão enriquecendo e fazendo fama, por outro o evangelho tem caído no descrédito sendo disseminado por mãos impuras e fraudulentas.
Hoje tudo ou quase tudo no meio gospel tem um preço. Da água ao show. De graça recebestes e de graça doai não é regra e sim uma longínqua exceção. Triste e cara realidade.
Abuso de poder e autoridade. Sim, abuso de poder e autoridade com base em uma escolha divina que elege líderes para um povo sedento. Povo este que deve sujeição, obediência irrestrita e em defesa desta autoridade deve dedicar todo esforço e submissão. É proibido questionar, pois este tipo de atitude é visto como ato de rebelião, duramente condenado chegando à excomunhão daquele que se atrever.
Enquanto os mantenedores as cegas destas obras vão a pé aos templos, as autoridades estão de um lado para outro em jatinhos particulares ministrando palestras motivacionais, empresariais como se o sucesso na fé resumisse apenas nas conquistas materiais, humanas.
O teor das mensagens, a promoção pessoal, o marketing, são instrumentos utilizados nas retóricas. Aliás, as retóricas estão cada vez mais bem preparadas e cheias de entusiasmos. Discursos no lugar do bom e sensato sermão.
Vendedores de ilusões, corruptos e formadores de uma geração extremamente dependente e viciada na busca do sucesso e na contra mão do evangelho da graça. Imperialismo e capitalismo em voga.
O deus exaltado neste meio é o deus da luta de classes em Marx, o resultado é o capital. É o deus morto em Nietzsche por se encontrar sem valor espiritual. É o deus criado pelo homem em Feuerbach, criado para seus próprios interesses. Neste sentido, o Deus bíblico de amor, compaixão, partilha e graça não se encontra.
É claro que isto não é regra, esta não é a totalidade da igreja cristã protestante, porém se não houver posicionamentos mais contundentes, se não houver um empenho maior a exceção logo poderá se tornar a regra e o protestantismo será engolido pelos inescrupulosos da fé.
É preciso urgentemente voltar ao evangelho do amor fraternal, do ágape apregoado por Cristo onde o próximo é o primeiro, onde o “eu” está sob a égide de Cristo. Voltar à graça que é de graça e ao projeto único de Cristo Jesus, a salvação, pois pela salvação a sociedade é alcançada e transformada. Voltar ao evangelho cristocêntrico onde o culto e a devoção alcancem o coração do criador, pois do mesmo é o culto e tudo que o envolve.
É preciso subir ao monte e novamente ouvir o famoso sermão da montanha que contempla o ser humano por completo sendo um verdadeiro manual de convivência, amor, fé e dedicação. É preciso ouvir a Paulo, apóstolo que investiu sua vida em uma mensagem celestial e convívio social em harmonia. Ouvir a João, apóstolo do amor e assim viver a plenitude do amor.
É preciso abandonar o tipo de fé como expõe: “J. W. Goethe, a fé constitui um capital doméstico e privado comparável ao que no plano público são as Caixas Econômicas, e as mutualidades às quais se recorre nos dias de aflição para satisfazer as necessidades”.
Faz-se necessário e com urgência abandonar o evangelho secularizado.
Flávio Martins Cardoso
Parabéns pelo excelente artigo. Os líderes das igrejas de hoje, de nada se diferenciam dos lideres religiosos da época de Jesus.A não ser pelos “coaches” gospel que são a febre do momento.