Autor: Autor Desconhecido
Pastores segmentam rituais evangélicos para atender ao perfil dos diversos grupos: de gays a surfistas. Tem até aula de inglês no templo.
O grupo de estudantes vai à igreja para aprender a falar com Deus em inglês. Num templo decorado com a bandeira do arco-íris, os gays ouvem do pastor que ser homossexual não é pecado.
Em outro culto, os jovens cantam hinos religiosos em ritmo de reggae. Os ricos se reúnem em igrejas nos bairros mais nobres do País.
Enquanto mantêm o fôlego e continuam em crescimento, as igrejas evangélicas mostram o que parece ser mais uma tendência: a segmentação do rebanho. Elas identificam determinados grupos e procuram adaptar suas pregações e seus ritos para atendê-los.
Para o sociólogo Ricardo Mariano, autor do livro Neopentecostais: Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil (Ed. Loyola), é a lógica mundana capitalista sendo aplicada à espiritualidade da religião.
“A segmentação faz muito sentido na situação atual do País, de grande concorrência entre os grupos religiosos. É uma questão de sobrevivência no mercado.”
O templo que vira sala de aula de inglês fica no Núcleo Bandeirante, no Distrito Federal. É a Igreja Cristã Evangélica do Brasil, cujos cultos são conduzidos pelo pastor Robson Pereira, um ex-professor de inglês.
No primeiro sábado de cada mês, ele retoma suas velhas lições e usa um retroprojetor para ensinar gramática, vocabulário, pronúncia e a palavra de Deus.
“Muitas pessoas acompanham o culto sem pretensões espirituais, com o objetivo único de simplesmente treinar o inglês. Mas, de alguma forma, acabam levando os ensinamentos da Bíblia para casa.”
Em São Paulo, os gays encontram lugar para louvar Deus sem preconceito em pelo menos duas igrejas. A Acalando pretende realizar uma cerimônia coletiva de união gay este mês, com assinatura em livro de relacionamentos estáveis homossexuais, devidamente registrada em cartório. Na Para Todos cuja marca é a Bíblia com um arco-íris, os cultos ocorrem aos domingos no Largo do Arouche, um reduto gay de São Paulo.
Autoritarismo
“A religião antes era muito autoritária. Na Idade Média, por exemplo, o fiel não tinha alternativa senão adaptar-se à religião. A autoridade do papa continua absoluta para os católicos”, compara Ivone Lima Ferreira Botelho, diretora acadêmica do seminário evangélico Faculdade Latino-Americana de Teologia Integral. Para ela, a especialização das igrejas é reflexo da pós-modernidade. “Hoje o que vale é a flexibilidade. Você escolhe a igreja que quiser.”
Nas noites de quinta-feira, em São Paulo, centenas de jovens vão ao templo Bola de Neve (foto) ouvir a pregação do pastor, que usa jeans e tênis.
Diante do púlpito em forma de prancha de surfe, ele mistura piadas e palavras de louvor. “Gosto da forma como ele passa as mensagens. É mais clara, direta, fácil de entender”, diz Rodrigo Torres, 23 anos.
Por causa do nível social dos fiéis, a igreja neopentecostal Sara Nossa Terra ganhou o apelido de igreja dos ricos.
Seus principais templos ficam em bairros que estão entre os mais caros de São Paulo, Rio e Brasília. “É mais fácil transmitir a mensagem de Deus quando os fiéis são homogêneos”, explica o fundador da igreja, bispo Rodovalho.
Para o professor da Universidade de São Paulo (USP) Antônio Flávio Pierucci, especialista em Sociologia da Religião, não existe a possibilidade sociológica de um grupo se manter especializado por muito tempo.
“Essa seria apenas uma estratégia para se viabilizar e depois conquistar novos fiéis. Ninguém quer minoria para sempre.”
Autor: Jornal do Commércio – Recife, 28 de agosto de 2005
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