Autor: Jonathan Menezes
É engraçada (e triste, ao mesmo tempo) a maneira como tentamos esconder nossa real personalidade de nós mesmos, que dirá das pessoas. Fingimos não conhecer esse “outro eu” que está muito mais perto do que imaginamos. Preferimos suprimir os conflitos, evitar o confronto, para manter o conforto. Assim, há sempre negócios pendentes a se resolver consigo mesmo. “Bater um papo”, com esse outro eu, ajudaria, mas como é doloroso ter que tocar nos “intocáveis”, não é mesmo? Essas feridas, cobertas de escamas, jamais cicatrizam porque nunca foram devidamente diagnosticadas.
A abertura para o outro jamais acontecerá sem uma real abertura para si mesmo. O autoconhecimento é uma das disciplinas essenciais à sanidade, pois gera efetivas lutas contra nossas hostilidades interiores, das quais preferimos não falar, nem enxergar. Criamos, assim, um mito – como o daquele filme, A Vila – em torno daqueles sobre quem não podemos falar. E isso se torna uma voz, produzida por nossos mecanismos de defesa, que diz: “não toque, jamais toque nisto”, parecendo-se com o aviso de uma mãe ao seu filho para que não bote o dedo na tomada a fim de não ser eletrocutado. Mas, sem choque, em certo sentido, não há o renascimento de uma nova energia, assim como, sem a tristeza, a exultação perde seu valor e, sem o fracasso, não há prazer no êxito.
Aqueles (as) que insistirem em manter ocultas suas próprias dores, não as conhecendo, nem as aceitando, jamais poderão alcançar a cura. Nosso Deus, apesar de silencioso em muitas vezes, nunca omite seu amor e cuidado por nós, mesmo sabendo tão bem de nossas contradições. Mas é difícil experimentar de um amor tão terno e incondicional, se não conseguimos ser sinceros com Ele. Ousemos enfrentar essa realidade e aprender a orar como o salmista: “Um abismo chama o outro abismo… Contudo, Senhor, durante o dia me acompanha a sua misericórdia e, de noite, está comigo o teu cântico… A Ele, meu auxílio, Deus meu” (Sl 42). Quero me conhecer melhor, para te conhecer, Senhor.
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