Quando uma criança sofre um abuso sexual

Autor: Autor Desconhecido

Eu acredito que uma das coisas mais difíceis de se enfrentar é o abuso sexual de uma criança, tanto como terapeuta como pai ou mãe; nem falar então, o que está sofrendo a criança. O efeito é muito devassador porque a criança aprende como são os “seres humanos” através das experiência que têm com estes seres humanos, em geral, familiares. Um dos fatos mais aterradores é o número de crianças que são abusadas por familiares ou conhecidos da família. A nossa tendência é de pensar que gente estranha agarra a criança desprotegida e faz isso. Mas as estatísticas não sustentam esta fantasia. A verdade é que geralmente é alguém da familia: pai, tio, irmão, avô, padrasto ou algum vizinho.
Tampouco é verdade que é apenas “curiosidade sexual” e que isso não deixa traumas. Eu tenho ouvido uma procissão de pessoas (homens e mulheres) que compartilham as lembranças de infância que choram ainda da dor desta violação que sofreram e os resultados disso na sua vida adulta. Ignorar os fatos não ajuda ninguém: o inimigo adora fincar seus ganchos nos segredos da nossa vida e usa suas mentiras para nos enganar e nos manipular. Ele sussurra coisas do tipo: “Ninguém vai gostar de você por causa disso.” Você é suja(o).” É tua culpa – você fez algo para merecer este tipo de tratamento” e assim por diante…
O que fazer quando nos damos conta que uma criança foi abusada sexualmente? A criança pode sofrer muito, mas se a situação for bem manejada, também pode se recuperar e viver uma vida tranqüila.
Fale com calma com a criança. Não a assuste mais ainda. Não queremos re-traumatizá-la pelas nossas ações ou atitudes. Pergunte o que aconteceu, assegurando-a que você quer ajudá-la e por isso precisa dos fatos. É importante que ela entenda que não vai ser castigada por contar, especialmente levando em consideração que o perpetrador muitas vezes ameaça a criança com castigos se ela contar a verdade. É parte do enredo…
Acredite no que ela diz. A criança não tem para que mentir sobre uma coisa assim. Como mãe ou pai, pergunte o suficiente para entender o que aconteceu e busque ajuda profissional: um pediatra que tenha experiência em lidar com crianças e um terapeuta infantil. Há terapeutas que as vezes têm uma boneca(o) com os órgaos genitais onde a criança pode mostrar o que foi que lhe aconteceu em vez de contar. É possível que a criança não tenha as devidas palavras no seu vocabulário para explicar o que aconteceu e mostrando na boneca lhe facilite a conversa.
Quem sabe o mais doloroso para a criança pode ser a reação dos pais: a mãe que não acredita que o marido fez isso com a filha(o); ou uma reação rude, de fúria em relação ao que aconteceu, mas que a criança entende que é contra ela; “inspeções corporais” nas parte privadas da criança que são feitas sem sensibilidade ao que está sofrendo a criança. Já ouvi pessoas que disseram que o que aconteceu depois foi pior do que o abuso sexual.
Assegure a criança que a culpa não é sua. E não é. Uma criança nunca pode ser responsabilizada pelo abuso sexual perpetrado por um adulto contra ela. Não há NADA neste mundo que possa justificar algo assim. As vezes pensam que poderiam ter feito algo para evitá-lo, mas não é verdade.
Permita que a criança fale sobre isso sempre que quiser. Por ser tão doloroso para os pais, a tendência é querer evitar tocar no assunto. Mas permita que a criança fale, porque faz parte do seu processo de recuperação. Se ela precisa chorar, deixe que chorar: o “veneno” das lembranças sai pelas lágrimas.
Uma das coisas difíceis de lidar na recuperação do abuso sexual é o fato de emoções ambivalentes. As vezes a única atenção que a criança recebe de algum adulta é através do abuso sexual; então ela “agüenta” essa parte por receber a outra. Também acontece que a criança pode sentir algum prazer durante a experiência de abuso sexual. Isso é normal. Quando Deus criou nossos corpos, fez que com certas partes respondessem ao toque erótico, não importando de quem vinham e de que forma. Já ouvi muitas pessoas morrerem de vergonha e culpa ao confessar que pensavam que não tinha sido abuso sexual porque tinham sentido prazer.
Outro mito é que porque não houve penetração, não houve abuso. Qualquer toque indevido é abuso. Conheço casos de mulheres onde algum familiar lhe passavam a mão nas pernas ou nos órgãos genitais ou nos seios, e pensavam, “Bom, não foi abuso porque não houve penetração.” Mas os sentimentos de se sentirem abusadas, violentadas ou sujas estão presentes, e coloriram toda a sua forma de relacionar com o mundo a partir de então.
Se a pessoa que cometeu o abuso mora em casa, é IMPRESCINDÍVEL que sejam separados. Isso significa que os pais talvez tenham que se separar, ou tenham que separar os filhos, especialmente quando se trata de casos de adolescentes. Com crianças pequenas, elas não tem defesa contra um adulto. Precisam que os adultos a protejam. As vezes se sentem culpadas porque “papai não mora mais em casa”, mas precisam entender que ele está fora porque ela precisa de proteção, e ele precisa de tratamento. Lamentavelmente, o índice de reincidência para pedofílicos (adultos que sentem atração sexual por crianças) é muito alto. Por mais que prometa que não vão voltar a fazer isso, as estatísticas e a prática ensinam o contrario.
Nos Estados Unidos onde estive desenvolvendo a pratica clinica, é obrigatório por lei informar as autoridades quando há uma suspeita de abuso de crianças, quer abuso físico ou sexual. O não informar as autoridades implica em perder o direito da pratica clínica se for descoberto. O Departamento de Serviços Sociais faz uma investigação e, se comprovam os fatos, as crianças são encaminhadas a tratamento e o/a perpetrador/a são acusados e processados criminalmente. Com a Lei de Megan, também é obrigatório avisar aos vizinhos quando um comprovado perpetrador infantil vai morar em qualquer lugar, para que os pais possam saber que tem que cuidar seus filhos.
Busque tratamento adequado. A psicoterapia pode ajudar muito. Oração também. Oração pela “cura das lembranças” feita de forma responsável e íntegra também pode ser muito positivo. Uma das formas de ajuda que surgiu nos últimos dez anos se chama EMDR – Eye Movement Desensitization and Re-processing (desensibilização e re-processamento através de movimentos ocultares). A tese é que quando somos traumatizados, essa lembrança, em vez de ser processada normalmente durante o sono como são as nossas lembranças diárias, não consegue ser “digerida” e fica na inconsciência até a nível neurológico. Ao imitar os movimentos oculares (ou aplicar a estimulação bilateral) enquanto a pessoa pensa na lembrança, o processamento começa de novo e a pessoa consegue finalmente digerir o fato e arquivá-lo no computador da memória.
Os resultados têm sido impressionantes e há mais de 20 000 clínicos treinados nos Estados Unidos. Tendo tido a experiência pessoal de lidar com os pacientes com este tipo de tratamento, tenho visto melhoras imediatas e impressionantes. Já existem profissionais capacitados no Brasil nessa técnica. (Escreva-nos sobre indicações.)
Finalmente, evite o abuso sexual dos seus filhos. Ensinem a eles que há partes dos seus corpos que são “íntimos” o que significa, “não toque”. Pergunte a seus filhos de tempos em tempos, mesmo quando são pequenos se alguém os tocou de forma indevida. Ensinem pelo exemplo que há liberdade e confiança para falar dessas coisas. Há livros que podem ajudar a instruir crianças, mesmo com 3 ou 4 anos, a se protegerem. Se a criança sabe que este tipo de toque não é apropriado, pode reclamar ou fazer um “fiasco” grande suficiente para espantar o perpetrador em potencial que precisa do segredo para poder agir; ou buscar a ajuda de um adulto de confiança.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*