Breve histórico da capelania militar evangélica no Brasil

Autor: Anderson Adriano Silva Faria

1. JOÃO FILSON SOREN, O PRIMEIRO CAPELÃO MILITAR EVANGÉLICO DO BRASIL.
João Filson Soren, brasileiro, pastor Batista, exerceu a presidência da Convenção Batista Brasileira por dez mandatos consecutivos. Presidiu a Aliança Batista Mundial (ABM) de 1960-1965. Nos 50 anos de existência da ABM, foi o primeiro Latino Americano a receber esta investidura. Pastoreou a Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro, por 50 anos. Recebeu o trabalho pastoral da igreja de seu pai, o rev. Francisco Fulgêncio Soren.  João Filson Soren, e seu pai trabalharam nesta igreja por quase todo século vinte, de 1902 a 1985.
O pastor João Filson Soren, faleceu no dia 2 de janeiro de 2002, um dia depois de comemorar o seu 67º aniversário de ordenação ao sagrado ministério, e um dia antes de comemorar o início de seu pastorado. O carioca João Filson Soren, morreu no Rio de Janeiro, com 93 anos de idade. Durante seu pastorado, o rev. Soren batizou 3.345 novos membros, cerca de 67 pessoas por ano.
O pastor João Filson Soren, foi o primeiro capelão militar evangélico do Exército Brasileiro, e que por ocasião da Segunda Guerra Mundial, serviu na Força Expedicionária Brasileira (FEB) entre 1944 e 1954, nesta época tinha 36 anos. Viveu quase um ano na Itália e recebeu mais de dez condecorações militares, inclusive a Cruz de Combate de 1º classe, a mais alta honraria do Exército Brasileiro.

1. Origem da Capelania Militar Evangélica (Protestante) no Brasil.
Sob o patrocínio da Confederação Evangélica do Brasil e por instrumento do seu Conselho de Relações Intereclesiástica e dos capelães evangélicos, é ministrada assistência religiosa no Exército […]. Nomeados oficialmente pela Confederação Evangélica do Brasil, os capelães são reconhecidos pelas autoridades e exercem o seu ministério sem distinção de credo ou denominação. Na maioria dos casos este trabalho era feito voluntariamente, inicialmente apenas o capelão da 1º Região Militar (1ºRA) recebia seus vencimentos do governo federal. De caráter rigorosamente interdenominacional, representa essa assistência uma das mais expressivas realizações da obra de cooperação e de unidade espiritual do Evangelho brasileiro. Dentre as muitas instituições beneficiadas pela valiosa obra pública realizada pelos capelães evangélicos, podem citar-se: a Região Militar do Leste e 1º Região Militar, Academia Militar das Agulhas Negras (Rezende, RJ), Escola de Sargentos das Armas (Três Corações, MG), Escola de Aprendizes de Marinheiro e 14º Batalhão de Caçadores […].

2. Capelania Militar Evangélica e a sua Atuação na FEB
Ao se organizar a Força Expedicionária Brasileira (FEB), que deveria participar das operações da 2º Guerra Mundial, foi instituída a Capelania Militar por Decreto de Lei n. º 6.535 de 26 de maio de 1944. Porém, a Capelania Militar Evangélica, só teve a sua formal instituição em 13 de julho de 1944 com a nomeação de dois capelães evangélicos: os pastores João Filson Soren, e Juvenal Ernesto da Silva. Soren foi designado para o 1º Regimento de Infantaria (Regimento Sampaio); Juvenal, para o 6º Regimento de Infantaria. Posteriormente ambos tiveram suas atividades acrescidas, cabendo ao capelão pastor Soren, atender ainda, ao 11º Regimento de Infantaria, e ao capelão pastor Juvenal, atender as unidades de Artilharia e Engenharia. Partiram para Itália no 2º escalão da FEB, em 22 de setembro de 1944. Os dois capelães só voltaram ao Brasil após o término do conflito. O pastor Juvenal Ernesto da Silva, chegou ao Rio de Janeiro em 18 de julho de 1945, acompanhando o 1º escalão de embarque; e em 22 de agosto, desse meo ano aportou no Rio de Janeiro o pastor João Filson Soren, que regressou com o 2º escalão.
Cerca de 600 soldados evangélicos integraram a FEB. Neste número não se acham computados os simpatizantes, os amigos do Evangelho e os eventuais assistentes ao culto evangélico protestante. O Capelão Soren preparou um hinário do expedicionário, intitulado “O Cantor Cristão do Soldado “. Embora o Ministério da Guerra se tivesse prontificado em fazê-lo, foi a Casa Publicadora Batista quem o fez em homenagem aos combatentes. Neste hinário, se tinha 101 hinos selecionados do Cantor Cristão, que era o hinário oficial da Igreja Batista na época. Os Militares Evangélicos iniciaram seus cultos no quartel do Regimento Sampaio, na Vila Militar logo que foram nomeados os capelães militares evangélicos, isto, já em agosto de 1944.
Foi organizado pelo pastor capelão Soren, o primeiro Côro Militar Evangélico do Brasil, tendo sido designado para dirigi-lo o sargento Júlio Andermann. No início eram 40 vozes, mas ao se apresentarem pela primeira vez na 1º Igreja Batista do Rio de Janeiro, o número já era de 70 vozes. Seu repertório todo era tirado do Cantor Cristão do Soldado, era executado a duas e a quatro partes. Era possuidor de belas e possantes vozes de baixo, cujo volume favorecia as execuções em campo aberto, com freqüência fazia-se ouvir em solos o sargento Júlio Andermann.
Quando as unidades se achavam aquarteladas, acampadas, acantonadas, bivacadas ou embarcadas, havia cultos gerais diários. No transcorre das operações de guerra, porém, sua celebração dependia da disponibilidade e das circunstâncias, realizando-se, quase sempre, em pequenos grupos reunidos no Posto de Comando (PC) dos pelotões e das companhias. Os cultos de domingo eram invariavelmente realizados pelo Capelão do Regimento.
O côro esteve parado durante as operações de guerra. Voltou a se apresentar após o fim da guerra, infelizmente sem dois de seus componentes, que tombaram em favor da Pátria. Eram eles: o sargento Ananias Holanda de Oliveria, morto em 20 de fevereiro de 1945, e o soldado Lélio Martins de Souza, morto em 12 de dezembro de 1944. Homens este, que certamente estão na Glória Eterna com a Trindade Santa. Enquanto o Regimento Sampaio esteve em serviço de ocupação em Piacenza, o seu Coral Evangélico ali cantou várias vezes nos cultos militares realizados na Igreja Metodista Wesleiana, local esta onde eram realizados os cultos desta igreja.
Mais tarde se apresentou quando o Regimento, acantonava na área de estacionamento em Francolise, próximo a Napólis, aguardando o regresso ao Brasil. Nesse local realizou-se a cerimonia de encerramento formal do serviço religioso da FEB em solo italiano, era domingo, 5 de agosto de 1945, nesta oportunidade a Coral Evangélico do Regimento Sampaio entoou pala primeira vez o Hino da Vitória, preparado pelo seu capelão, pastor João Soren.
Este hino foi cantado congregacionalmente dez anos mais tarde, em 8 de maio de 1955, no templo da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro, no culto de Ação de Graças pelo transcurso do 10º aniversário do fim da guerra, promovido pela Associação do Ex-Combatentes do Brasil. Dentre os hinos de O Cantor Cristão do Soldado, verificou-se a predileção, por parte dos expedicionários evangélicos, por: Firme nas Promessas, Um Pendão Real e Minha Pátria para Cristo.

3. Na Academia Militar das Agulhas Negras (A.M.A.N.).
Em 19 de abril de 1949, alguns acadêmicos evangélicos fundaram na A.M.A.N., a Associação de Cadetes Evangélicos, que foi reconhecido pelo comando. Destinava-se a providenciar a assistência religiosa aos jovens evangélicos que ali estudavam.
A Confederação Evangélica do Brasil, para efeito de oficialização de um trabalho que já existia, requereu, em 12 de setembro de 1949, a criação da Capelania Militar Evangélica dentro da Academia Militar, e indicou para o cargo de capelão o Pastor Amós Aníbal, que já vinha desempenhando essas funções desde o início do movimento.
Este pastor faleceu repentinamente em 1950, tendo sido substituído, em 1951, pelo pastor Adriel de Souza Motta que, ao assumir o pastorado da Igreja Metodista de Rezende, também se ocupou da Capelania Militar Evangélica da A.M.A.N.. Exerceu sua atividade ali até ser transferido para outra igreja Metodista. Foi capelão após a saída do pastor Adriel Motta, o pastor Messias Amaral dos Santos, seu capelão-assistente, o pastor Rubens Duarte De Albuquerque. A Associação de Cadetes Evangélicos não tardou em criar um coral, pois havia entusiasmo e boas vozes para tal. Desta forma belas apresentações deste grupo foram realizadas nos cultos e solenidades especiais evangélicas realizadas na Academia.

4. Na Escola de Sargentos das Armas (ESA)
Localizada em Três Corações, Minas Gerais, a Escola de Sargentos das Armas, é mantida pelo Ministério do Exército, destina-se a formação de sargentos nas armas de: Infantaria, Cavalaria, Artilharia e Engenharia.
O trabalho de capelania militar evangélica nesta unidade foi iniciada pelo pastor Mário Barbosa e oficializado, na época, mediante requerimento da Confederação Evangélica do Brasil. Era seu Capelão, no ano de 1954, o Pastor Joel César, da Igreja Presbiteriana do Brasil de Três Corações. Como sempre ocorreu nos cultos evangélicos, o hino congregacionais, que ocupavam lugar de relevo nos oficiais religiosos ali verificados, permitindo aos jovens sargentos evangélicos, uma participação direta na cerimônia, que podiam assim louvar a Deus com cânticos.

Capelães Distintos
Paul Tillich, nascido na Polônia, teólogo e filosofo, ordenado pastor luterano em 1914. Foi capelão do exército prussiano durante a 1º guerra mundial. Deu origem à escola de Frankfurt, fundador do socialismo religioso, opositor declarado do nazismo, exilado em 1933 nos Estados Unidos, lecionou na Universidade de Colúmbia e na Universidade de Harvord, morreu em 22 de outubro de 1965.
Em 1828, no Rio Grande, organiza-se a igreja de Campo Bom, pastoreada pelo Rev. F. C. Klingelhöffer, que em 1838, como capelão do exército legalista, morria num combate perto de Triunfo, a famosa Guerra dos Farrapos. A igreja de Campo Bom foi o primeiro templo Luterano do Brasil, em 1830. Assim soldados de língua alemã, engajados no exército legalista eram assistidos por capelães protestantes na guerra dos farrapos.

Bibliografia

BRAGA, Henriqueta Rosa Fernandes. Música Sacra
Evangélica no Brasil. Rio de Janeiro: Kosmos Editora, 1961.
RIBEIRO, Boanerges. Protestantismo no Brasil Monárquico. São Paulo: Pioneira, 1973. p.80.
GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. São Paulo: Vida Nova, 1994. p. 158.

1 Comentário

  1. Boa noite! Preciso saber o ano de publicação do Breve Histórico da Capelania, pretendo utiliza-lo como embasamento teórico em um artigo. Grato.

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*