Autor: Carlos Siqueira
Na tentativa de perceber a realidade de uma fé que não se baseia em Deus e sim na necessidade humana do Deus ventre. Tentaremos inferir na espiritualidade ateísta impregnada no cristianismo, onde encontramos o homem como centro, destituindo Deus de sua glória e honra, sem com isto se manifestar como tal.
Alguns grupos sem perceber estão colocando as escrituras de lado e partindo para os escritos de seus ícones, como se isto fosse um complemento ao que certamente Deus não deixou incompleto. Onde falam de Deus com os lábios, mas arraigados em uma teologia, que encontra no prazer ou na dor a sistemática de seus adeptos e o referencial distante da pessoa de Jesus cristo, mas no caráter de seus fundadores, lideres e integrantes.
Percebemos em alguns grupos nascidos antes do cristianismo, as mesmas características de outros da atualidade, que infelizmente estão saindo do meio de nós, pois certamente nunca foram dos nossos, mas que se asseveram ser dos nossos.
A humanidade está carente de referenciais. Somos pessoas impulsionadas a admirar lideranças fortes, seguindo os seus ideais, quer seja na vida espiritual ou secular. Somos homens que necessitam se espelhar em outros para de uma maneira visionária objetivarmos um presente e em conseqüência um futuro melhor. Na vida espiritual vamos além, somos discípulos de quem nos levará para a eternidade, portanto sempre haverá iluminados e em certos casos alguns loucos que encontrarão adeptos para as suas loucuras. Portanto quando observamos o surgimento de algum grupo separatista, fundamentalista e em certos casos posicionado como ortodoxo, encontrando base em algum livro ou experiência religiosa, percebemos que de alguma maneira alguém digno de referência, se torna seu expoente, cativando a admiração de alguns, para com isto se criar uma espécie de mito, com sua própria literatura, normas e regras. Enfim estamos diante de uma religião formada em função da existência de alguém encarado como muito especial.
Encarando o cristianismo podemos afirmar que Jesus cristo é nosso maior exemplo, pois deixou a sua glória com o Pai e veio viver a sua divindade como homem entre os mortais. Alguém assim é digno de admiração, pois não precisava passar pelo que passou, abandonou todas as riquezas do universo, para habitar neste corpo limitado que possuímos e viver o anonimato até os trinta anos, quando se manifestou como o verbo encarnado.
Jesus enfermou pela humanidade caída, para com o seu sacrifício na cruz tornar o homem perdido reconciliado com o seu criador. Ele se esvaziou de si mesmo, para que em sua humilhação, o ser humano pudesse ser exaltado aos céus no advento da ressurreição. É complicado não se render a tão nobre caráter quando se entende a profundidade de sua abnegação. Mas isto não é base para convencer ninguém a segui-lo, pois a fé é um dom de Deus e é um mistério ao homem a sua propriedade. Portanto a mesma base que encontramos de refutação para as seitas ou para o ateísmo, se torna o nosso aguilhão, pois alguém em algum momento, movido por uma convincente retórica, levanta complexos ideológicos que exaltam a sua fé, a sua ideologia e o seu líder iluminado quer seja por uma divindade ou por seu pensamento superior e com isto se vê como superior ao cristianismo.
O cristianismo que designo por Zen é aquele onde os conceitos da fé são substituídos pela legalidade das obras humanas, encontrando uma maneira de excluir a obediência a Jesus cristo, na solução das carências ligadas a dor, prazer e alegria.
Acredito que quando aprendermos a lidar de maneira madura, com os nossos medos, poderemos perceber que nem tudo aquilo que atribuímos ao pecado, ao diabo e ao mundo encontra neles o grande vilão, mas no ser que desaprendeu a olhar para as possibilidades da insatisfação reinante, ser conseqüência de uma alma que tem em si um vazio que necessita de algo dimensionado apenas à rendição total, àquele que soprou em nós o fôlego de vida.
Somos seres em conflito entre o prazer e a dor. Desejamos o prazer, mas este quase nunca é destituído de dor, pois o sofrimento causado pelo desejo, reflexo de nossa natureza caída, percebe lampejos de uma realidade superior, aprisionado a uma dimensão que apenas na glória poderemos superar. Enfim estamos vivendo em um mundo inferior, pois o pecado está em nós, mas enxergamos lampejos da idéia de Deus em nós, pois fomos criados para sermos a sua imagem e semelhança, sendo assim embora aquém percebemos o além, sem com isto poder interpretá-lo.
Como é complicado o desejo, pois ele coloca em evidência a nossa real necessidade. Podemos viver uma vida de comportamento ilibado, mas encontramos nos desejos incontrolados, em sua natividade, as mais estranhas situações, que viveremos quer acordados, quer em sonhos, quer no ato de sua consumação, quer na sua constante castração.
Os extremos do legalismo e da libertinagem estarão norteando este tipo de teologia zen, pois a mesma por não saber lidar com a sensualidade, libido, sexo, paixão, estará sempre nos mosteiros existenciais ou geográficos, persuadida que a ausência do desejo, elimina o prazer que certamente é encarado como a fonte de todos os males da humanidade. Em algumas culturas percebemos a castração do clitóris feminino na tentativa de diminuir a prostituição, crendo que o mal está na mulher que se entrega sexualmente a qualquer homem, quando na realidade o problema da prostituição está ligado a moral humana que está depravada, pois o problema do mal está no coração e não na genitália, que foi criada para o prazer, pois Deus assim viu que era bom, se o homem estivesse submetido aos limites do Éden, quanto à árvore da vida.
Enfim, ao eliminar a fonte do prazer que é o desejo, se ilude que se tem o controle da alma que sofre entre a carne e o espírito entre a obediência e a desobediência, entre a luz e as trevas, entre a sinceridade e a hipocrisia.
Acredito que o amadurecimento acontece quando admitimos o desejo e principalmente a dor em senti-lo, pois o mesmo com dor é conseqüência da sua superioridade em relação a nós e para sermos senhores da nossa vontade foi que cristo nos libertou. Apenas quem é livre por Jesus cristo pode dizer não para aquilo que mais deseja. O pecado não terá domínio sobre nós, pois não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça. Querer eliminar a dor através da eliminação do desejo também é eliminar o prazer, que também pode ser conseqüência de alegria que não nos submete à culpa, pois é fruto da vida em abundância que cristo nos promete.
A teologia zen é atraente, pois nos submete a métodos de autocontrole que nos torna em algumas situações senhores dos nossos desejos, contudo o caminho que nos faz conquistá-lo é controlado pelo nosso coração, que certamente é enganoso e perverso e sempre nos submeterá ao assédio da cobiça dos olhos e da soberba da vida, que cedo ou tarde libertará a alma, cativa ao desejo de liberdade irrestrita, que infelizmente desde o Éden, o homem insiste em desrespeitar.
O sofrimento é universal e foi causado pelo pecado que agora é um estado mal da alma. Tentar eliminar o desejo, entendendo ser ele o causador dos descaminhos humanos é desconhecer a nova criação proposta por Deus para a humanidade, mas para isto se faz necessário meditar em algo que vai além de palavras que possuam poderes mágicos de purificar a alma aflita, é necessário ser alcançado pela palavra do Deus vivo, que nos convida a meditar em uma dimensão que transcendo o Logus, pois ela além de viva, produz vida em todos que por ela são alcançados, pois foram purificados para o seu entendimento em obediência a Jesus Cristo, que deixa claro, ser o caminho a verdade e a vida, eliminando outros caminhos a uma dimensão superior.
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