Repensando a religião

O grande desafio que a religião tem é de se superar, ou seja, tornar uma pós-vivência. Não há como viver na fonte, precisamos contornar os limites que aqui nos são impostos e nos estabelecermos após a fonte. A experiência humana não é formada apenas de uma faceta, mas se apresenta na multiformidade das situações que nos são apresentadas no cotidiano das nossas interações, por isso, viver após a fonte é se abastecer de outros afluentes para que não tenhamos uma visão unilateral. Não há como divagar sobre a necessidade da religião, pois esta exercita sobre nossa espiritualidade uma disciplina que nos faz está arrojados e nos voltarmos ao Sagrado. Entretanto, podemos discutir formas e maneiras com isso tem se realizado em nosso meio, pois ela não desempenha apenas um fator litúrgico ao ser, mas elabora os dogmas e os conceitos que normatiza e limita os indivíduos, fazendo que cada grupo se isole em seus quadrantes.

Nossos preconceitos, discriminações, desigualdades são formadas pelo absolutismo de nossa verdade. O diálogo perde voz e vez em nossas mesas, pois o anelo por conceitos fechados e imperiosos impossibilita qualquer tentativa de interação. Possivelmente, uma pergunta que nunca fizemos ou se a ensaiamos não nos detemos em suas implicações foi a seguinte: Onde está a fonte de nossa verdade? De onde provém a produção de nossos conceitos? Aqui é que me detenho com maior afinco para poder justificar a escrita de tal texto. A verdade ou as verdades são subprodutos de outras mentes que não as nossas, pois a maioria esmagadora das pessoas têem preguiça e medo de pensarem e, produzirem a partir de suas próprias experiências. Ecoa em nossos dias as vozes dos israelitas que convocados por Moisés, para que eles mesmo pudessem se achegar a Deus, não hesitam em fixar seu líder/libertador como o único mediador entre eles e o divino. Não quiseram, pois temeram exercer a faculdade do juízo e a liberdade da comunhão.

Criamos nossos legisladores a partir de nossas auto-intimidações. Cerceamos nossas gerações pelo impossibilidade de discutir e refazer caminhos. Minha grande preocupação é que sejamos sempre a projeção dos outros e nunca a autenticidade de nossos esforços. É assim que nasce os ditadores religiosos. Em nome de Deus se fez e faz atrocidades mil. Tudo isso por que permitimos o parasitismo de líderes oportunistas que descobriram que a fé é muito mais valiosa quando colocada nas bancas do comércio da alma do que quando é um produto para seus próprios consumos. Por isso, não é de se surpreender que notícias na internet já explorem a existência de “pastores ateus”. Estes pelo menos são mais sinceros, pois confessam que pessoas são negócios e Igrejas são paraísos fiscais, sabem que estão imunes a acusações, pois são os “ungidos do Senhor”. Enquanto uns noticiam a imunidade de Brasília e nossos políticos, os tetos de vidros de espessura duvidosa da religião, aproveitam os seus imperceptiveis trincados. Onde chegaremos? Minha sinceridade pode ser baseada em pessimismo, entretanto, não enxergo pessoas que queiram quebrar estruturas e desafiar gigantes com uma humilde funda. Não há pequenos com funda, pois grande parte dos que nos rodeiam se tornaram gigantes que ostentam seus escudos e espadas de última geração.

Confesso que é exigência a minha própria existência demolir nossas iconografias e a partir disso, conclamo a você que lê esse texto que faça coro comigo pela simplicidade e auteticidade da experiência do Evangelho em nossas vidas, mesmo que isso nos custe teologizar com martelo.

Tiago Sant’Ana Cezar.tiagosantanacezar@gmail.com . tiagosantanacezar.blogspot.com

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