Uma nova reforma

Autor: Isaltino Gomes Coelho Filho

Uma nova reforma é o título de um livro de J. A . T. Robinson, edição da Moraes Editora, de Lisboa. Lançado em 1965 ( inglês), o livro veio na esteira dos debates da teologia da morte de Deus. Bafejada pelo existencialismo, esta corrente propunha a secularização do cristianismo. A nova reforma de que falo não é esta, a dessacralização do evangelho. É uma volta às origens, principalmente hermenêuticas, da Reforma. Um dos nossos maiores problemas, hoje, está na área de hermenêutica: como interpretar a Bíblia, a fé e a denominação.
Segundo Mondin (Antropologia teológica, Paulinas, 1979), há dois princípios na formação de uma corrente teológica, o arquitetônico e o hermenêutico. O arquitetônico é o conteúdo da revelação. A teologia deriva da revelação bíblica. Se não fosse assim, não teríamos uma corrente teológica, mas filosófica. Mondin cita o sistema de pensamento de Hegel. Os mistérios do cristianismo estão presentes nele, mas como foram dessacralizados, despidos de seu conteúdo sobrenatural, é um sistema filosófico e não teológico.
O princípio hermenêutico é o instrumento pelo qual se interpreta a revelação. Geralmente é de conteúdo filosófico. É que a teologia é a interpretação da revelação pela razão. Os dois princípios são necessários e se entendem bem à luz da palavra de Bruner, segundo a qual, para se entender a Palavra de Deus é necessário um ponto de encontro entre ela e a mente humana. A Palavra é o princípio arquitetônico. A mente humana é o princípio hermenêutico.
O catolicismo faz teologia usando como princípio hermenêutico a autoridade da Igreja. O pressuposto filosófico é que ela detém a Verdade. Para Agostinho, por exemplo, a Igreja Católica era o ponto culminante da história. Há suporte filosófico para a interpretação da Igreja Católica: ela tem a verdade e seu magistério a expressa. A Reforma tirou a base hermenêutica da Igreja e a pôs na Bíblia, interpretada pelo crente, regenerado pelo Espírito. Roma deixou de ter a palavra final em matéria de interpretação. Esta postura foi mudada pelo pentecostalismo e carismatismo, pulverizando a interpretação. Colocando a base não mais na Bíblia, mas no crente, estes intimizaram a hermenêutica, com sonhos e interpretações na base de “o Senhor revelou”. Toda a estrutura de uma denominação, seu conteúdo teológico e seu passado doutrinário são irrelevantes. O crente é a palavra final. A diversidade de interpretações, mesmo as mais absurdas, partem daqui. “O Espírito me falou” ou “Deus me revelou” são expressões comuns para legitimar teorias as mais esdrúxulas. O critério de interpretação não é mais Cristo. É o “Espírito”, entendendo-se assim a subjetividade do intérprete. É significativo que a Universal do Reino de Deus tenha substituído a cruz pela pomba. É o Espírito (subjetivo) e não mais Jesus (objetivo) o critério de interpretação. Não há como argumentar com quem tem uma relação especial com o Espírito que nós, “tradicionais e carnais”, não temos. A leitura de Benny Him, Hagin e os sermões de Valnice mostram isso. Estas pessoas alegam ter uma autoridade que elas não podem provar, mas que nós não podemos contestar. Hagin recebe visitas de Jesus. Outros têm revelações especiais de Deus. Nós “só” temos a Bíblia. A Palavra se subordinou à palavra. A subjetividade de sonhos, experiências e intuições se sobrepõe à exegese centenária e até milenar do evangelho. Assim, se “reinventa” o evangelho constantemente.
Há, em nosso cenário, três grandes vertentes em termos de teologia e de práxis: a recatolização, a rejudaização e a influência baixo-espírita. Cada uma delas mostra que as pessoas assumiram princípios hermenêuticos estranhos, nunca antes sustentados, recebidos por “revelação”, “iluminação” ou “capacitação especial”. Assim desfiguram o evangelho, fazendo uma salada religiosa que nada têm a ver com o ensino bíblico.

1. A RECATOLIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA DO EVANGELHO
Vê-se a recatolização no entendimento cada vez mais acentuado, de que temos um clero e um laicato. Preocupa-me ver, cada vez mais, as igrejas terem ministros formados e assalariados para tudo. Acho correto termos ministros de música, de educação religiosa, de missões, etc., em nossas igrejas. Milito na educação ministerial, sou presidente da ABIBET e não poderia pensar doutra maneira. Mas me preocupa a possibilidade de estarmos dizendo ao nosso povo que só pessoas formadas em seminários e remuneradas podem fazer a obra de Deus. Pode-se criar uma mentalidade daninha: os ministros fazem o trabalho e os crentes pagam a conta. A incidência do uso do termo “leigo” para os não consagrados aos ministérios é reveladora. Todos nós somos ministros, pois todos somos servos. E todos somos leigos, porque todos somos povo (é este o sentido da palavra “leigo”, alguém do povo). Não temos clero nem laicato. Somos todos ministros e somos todos povo. Mas cada vez mais as bases ministeriais são buscadas no Antigo Testamento e não no Novo. Usamos os termos do Novo com a conotação do Antigo. O pastor do NT passa a ter a conotação do sacerdote do AT. É o “ungido”, detentor de uma relação especial com Deus que os outros não têm. Só ele pode realizar certos atos litúrgicos, como o sacerdote do AT. Por exemplo, batismo e ceia só podem ser celebrados por ele. Assumimos isto como postura, mas não é uma exigência bíblica. No meio carismático isto é mais forte. Os pastores tornam a igreja dependente deles. Só eles têm a oração poderosa, a corrente de libertação só pode ser feita por eles e na igreja, só eles quebram as maldições, etc. O sentido teológico do sacerdote hebreu parece permear fortemente o sentido teológico do pastor neotestamentário. Este conceito convém ao pastor carismático. Ele se torna um homem acima dos outros, incontestável, líder que deve ser acatado. Tem uma autoridade espiritual que os outros não tem. O Antigo Testamento elitiza a liderança. O Novo Testamento democratiza. Para o carismático, o Novo Testamento, a mensagem da graça e a eclesiologia despida de objetos, palavras e gestual sagrados não são interessantes. Assim, ele se refugia no AT. Por isso há igrejas evangélicas com castiçais de sete braços e estrelas de Davi no lugar da cruz, bandeira de Israel, guardando festas judaicas, e até incensários em seus salões de cultos. Há evangélicos que parecem frustrados por não serem judeus. A liturgia pomposa do judaísmo é mais atraente e permite mais manobra ao líder que se põe acima dos outros.

2. A REJUDAIZAÇÃO, UM PRODUTO TANTO TEOLÓGICO QUANTO COMERCIAL
A rejudaização do evangelho tem um lado comercial e outro teológico. O comercial se vê nas propagandas para visita à “Terra Santa”. O judaísmo girava ao redor de três grandes verdades: um povo, uma terra e um Deus. No cristianismo há um povo, mas não mais como etnia. A Igreja é o novo povo de Deus, herdeira e sucessora de Israel, composta de “homens de toda tribo, e língua e povo e nação” (Ap 5.9). Há também um Deus, que se revelou em Jesus Cristo, sua palavra final (Hb 1.1-2). Mas não há uma terra santa. No cristianismo não há lugares e objetos santos. O prédio onde a Igreja se reúne e que alguns chamam, na linguagem do Antigo Testamento, de “santuário”, não é santuário nem morada de Deus. É salão de cultos. O Eterno não mora em prédios, mas em pessoas. Elas são o santuário (At 17.24, 1Co 3.16, 6.19 e Hb 3.6). Deus não está mais perto de alguém em Jerusalém que na floresta amazônica, nos condomínios, favelas e cortiços das grandes cidades. No cristianismo, santo não é o lugar. São as pessoas. Não é o chão. É o crente. E Deus pode ser encontrado em qualquer lugar. Não temos terra santa, e sim gente santa.
A propaganda gera uma teologia defeituosa. Pessoas vão à Israel para se batizar nas águas onde Jesus se batizou. Ora, o batismo é único, singular e irrepetível. Ele segue a conversão e mostra o engajamento da pessoa no propósito eterno de Deus. Uma pessoa que foi batizada, após conversão e profissão de fé, numa igreja bíblica, não se batiza no rio Jordão. Apenas toma um banho. E, sem o sentido filosófico do ser e do vir a ser de Heráclito, aquele não é o Jordão onde Jesus foi batizado porque as águas são outras. As moléculas de hidrogênio e oxigênio que compunham aquele Jordão podem estar hoje em alguma nuvem. Ou na bacia amazônica. Ou no mar. Até no Tietê. É mero sentimentalismo e não identificação com Jesus. É lamentável que pastores conservadores em teologia “batizem” crentes já batizados no Jordão. Isto é vulgarizar o batismo, tirando seu valor teológico.
Não sou contra turismo. Faça-o quem puder e regozije-se com a oportunidade. Sou contra o entortamento da teologia como apelo turístico. Temos visto pastores com sal do mar Morto, azeite do monte das Oliveiras (há alguma usina de beneficiamento de azeitonas lá?) e até crucifixos feitos da cruz de Jesus (pastores evangélicos, sim!). Há um fetichismo com terra santa, areia santa, água santa, sal santo, folha de oliveira santa, etc. No cristianismo as pessoas são santas, mas as coisas não. A rejudaização caminha paralelamente com a superstição e feitiçaria.
É parente da paganização.
Não estou tecendo uma colcha de retalhos. Tudo isto é produto de uma hermenêutica defeituosa, que não compreende as distinções entre os dois Testamentos, os critérios diferentes para interpretá-los, a pompa e liturgia do judaísmo em contraposição à desburocratização do cristianismo e que a palavra final de Deus foi dada em Jesus Cristo. É o NT que interpreta o AT e não o AT que interpreta o NT.

3. O FETICHISMO COMO PRODUTO DO NEOPENTECOSTALISMO
O neopentecostalismo (ou baixo-pentecostalismo) trouxe um problema sério. Derrubou o muro entre feitiçaria e evangelho. Já vi “tapete ungido” que chupa as enfermidades e pecados, água santa após a oração pastoral (como Alziro Zarur fazia nos anos sessentas), bênção de carteiras de dinheiro, envelope de pagamento e cartão de crédito, repreensão de maldição sobre carros e eletrodomésticos para que não tenham mais defeitos, etc. Um pastor apresentou na televisão o homossexualismo como maldição hereditária. É a mesma hermenêutica do psicólogo ou psiquiatra ateu que o justifica como hereditariedade genética. A responsabilidade pessoal do indivíduo se dilui na maldição ou nos genes. A ignorância do ensino global das Escrituras, incluindo a responsabilidade da pessoa, com a capacidade de tomar decisões, sendo responsável por elas, produz estas distorções. De novo um problema hermenêutico: não há hereditariedade espiritual no Novo Testamento. Ezequiel antecipava o evangelho ao escrever seu capítulo 18.
Em correntes de oração, leva-se uma foto da pessoa para ungi-la e ela deixar o pecado ou o vício. Se não pode levar a foto, leve uma muda de roupa. Vi isso na minha infância, no baixo espiritismo. Choca-me vê-las entre evangélicos. Surpreende-me o ibope dado ao diabo, que já teve até microfone de televisão na boca em programa evangélico. Só faltou dizer: “Agora, ao vivo, em cores, via satélite, o Diabo fala para todos”.
Boa parte dos evangélicos busca sensacionalismo e vive à cata de eventos. Um pastor que seja sério, expositor bíblico, conselheiro, amigo, mas não que faça pirotecnia no púlpito corre o risco de ser considerado ultrapassado. Busca-se o show man, o espetáculo, o fantasioso. Declarações levianas são feitas com ar de seriedade. Tempos atrás, o dono de uma seita que eu desconhecia, declarou numa revista evangélica que havia denominações demais e sugeriu a fusão dos batistas e presbiterianos. O ridículo da história é que a pessoa era contra o excesso de denominações, queria que as grandes se fundissem, e produziu mais uma, nanica.
Esta confusão hermenêutica gerou denominações exóticas: Igreja Evangélica Pentecostal Independente Peregrinos na Fé do Senhor Conforme Hebreus Capítulo 11, Igreja Pedra Angular O Anjo da Colheita na América Latina, Igreja Pentecostal A Chegada de Jesus Com Poder e Glória, etc.. Conheci uma Igreja Pocalipi. O nome intrigou-me. Não conseguia ver nexo nele, até entender que era Apocalipse, nome que seu pastor não conseguia ler corretamente. Como uma pessoa que não consegue ler a palavra “apocalipse” pode fazer uma interpretação doutrinária correta? Não se trata de elitismo. É minha perplexidade para compreender a facilidade com que se interpreta a Bíblia hoje. Qualquer pessoa o faz, desprovida de bom senso elementar, sob a desculpa “o Senhor revelou”. As bases hermenêuticas foram aniquiladas. O movimento evangélico está desfigurado, é palco de gente vaidosa que deseja fundar uma igreja, e nesta desfiguração, recebe todo tipo de heresias e tolices. Está calcado na subjetividade e não em verdades históricas.
Temos uma descaracterização doutrinária pelo neocatolicismo, neojudaísmo e pela entrada do baixo espiritismo que nos vem pelo baixo pentecostalismo. Que fazer? É aqui que entra a necessidade de uma nova Reforma, com algumas idéias que devem ser trabalhadas em nosso meio.

4. A NOVA REFORMA PROPRIAMENTE DITA
1) Precisamos de uma volta às Escrituras com estudo bíblico sério. A hermenêutica e a exegese criteriosa devem ser preferidas à pregação tópica e às ilustrações de reis, rainhas, mães morrendo e crianças atropeladas. Isto requer trabalho, mas a preguiça deve ser banida do nosso meio. Todas as denominações declaram a Bíblia como regra de fé e prática e depois formulam seus credos encaixando-a neles e dizendo o que pode ser descoberto nela. Nunca vi uma denominação evangélica negar a Bíblia. Todas a afirmam, mas usam-na para validar suas posições. Deve haver um estudo sério para rever nossas práticas à luz da Bíblia e não usá-la para legitimar nossas práticas. Isto requer que a herança teológica do passado seja buscada. Tenho me edificado com a leitura de grandes vultos do passado. Negar que Lutero, Calvino e teólogos posteriores, de grande conteúdo, tenham o que ensinar, é insensatez. A Igreja Católica tem o peso da Tradição. Temos ojeriza a este nome, mas precisamos resgatar a teologia do passado, com sua erudição e profundidade. E a livre interpretação (não o livre exame) da Bíblia precisa ter contornos mais bem definidos.
2) O doutrinamento das igrejas deve ser privilegiado. É falsa a dicotomia vida espiritual ou doutrina. As doutrinas bíblicas não são estéreis e sem vida. São fonte de vida. Preguei numa reunião jovem e, a seguir, deselegantemente, o líder do grupo disse: “Não me interesso por doutrina, só por Jesus”. Mas, que Jesus se tem, sem uma doutrina sólida sobre ele? O evangelho não é evento ou show , mas pressupõe conteúdo teológico. E este deve ser fio de prumo e não suporte para a repetição de modelos e esquemas denominacionais que sacralizamos e fora dos quais tudo está errado.
3) Precisamos de mais zelo ao encaminhar jovens aos seminários, ao criar seminários, ao formar currículos e conteúdo programáticos, e ao consagrar pastores ao ministério. Criticam-se os seminários, mas manda-se gente imatura para lá, na esperança de que ele a torne madura. O seminário não é casa de correção, mas lugar de estudo e de aprofundamento teológico e espiritual. Porque teologia e espiritualidade não são antitéticas. Entrar em um seminário deve ser visto com muita seriedade. E o seminário também não pode ser um curso técnico, tipo SENAC ou SENAI, ensinando operacionalidade. Deve ser um centro de reflexão.
4) Por último: precisamos de uma reforma eclesiológica. Muitas de nossas igrejas não estão crescendo como deveriam. Há pastores que querem ver seu ministério deslanchar e não conhecem muitos ministérios modelos. E não encontram alternativas litúrgicas, quando vêem que a nossa não atrai muito. Só conhecem a nossa e lhes dizem que desviar-se dela é ser pentecostal (em tempo: a liturgia da minha igreja é tradicional). No seminário me ensinaram Isaías 6 como modelo de liturgia. Não creio que o texto foi produzido com a finalidade de dar um modelo de ordem de culto para as igrejas ocidentais do século presente. Por que não uma liturgia baseada no Novo Testamento, mais precisamente em 1Coríntios 14.26, com a participação do povo e não apenas dos oficiais do culto? Por que não mais espontaneidade e menos formalismo? O culto não precisa ser monótono. O pastor jovem, idealista, querendo realização no ministério, não vai se mirar em ministérios estagnados. Vai olhar quem está fazendo algo marcante. Buscará referenciais positivos e se não os encontrar em nossa denominação, em nossa linha, mas em outros grupos, irá imitá-los. Nossos jovens pastores estão aprendendo mais sobre igrejas funcionais em congressos da SEPAL e da VINDE que em nossas ordens de pastores.
Isto não me agrada, mas caminhamos para uma época pós-denominacional. A maior parte dos crentes não está interessada em denominação. O termo se associou, na mente de muitos, à estrutura. O apelo ao denominacionalismo tem pouco resultado prático. As pessoas querem resultados. Ouço muito perguntas como estas: por que nossa editora se desmontou e a de outros grupos vai bem? Por que ainda não temos um programa de televisão batista enquanto outros grupos têm redes? Por que grupos que chegaram depois de nós nos ultrapassaram? Estas coisas fazem os crentes pensar se vale a pena enfatizar tanto a denominação, que tem sido mostrada mais como instituição do que como um aglomerado de igrejas locais. Não endosso o que está por trás das perguntas, mas elas são feitas!
Esta reforma deve examinar também nossas estruturas. São bíblicas? São funcionais e viabilizam a divulgação do evangelho ou atendem a segmentos que não querem perder patrimônio, influência e posições? As igrejas devem se adaptar ao que a estrutura lhes dá ou esta deve mudar e se ajustar a novos tempos e satisfazê-las? Infelizmente, as igrejas não socorreram a JUERP, como esperávamos. Presidente que era da Convenção do Amazonas, duas vezes enviei cartas às igrejas e falei ao Conselho. Não houve atendimento. Creio que não socorrerão nenhuma junta. Há uma exaustão de igrejas e pastores não ligados ao esquema estrutural com o que se chama denominação. Nossa reforma deve começar aqui: devemos ser mais bíblicos e menos programáticos e institucionais. A excessiva institucionalização do evangelho é responsável pela apatia de muitos com a denominação. E isto faz surgir os desvios doutrinários. E não adianta apertar em outros lados. Obreiros e igrejas querem funcionalidade e o progresso espiritual e não apenas institucional do reino. A Reforma desburocratizou a religião, na tentativa de acabar com a institucionalização da fé. Foi o que Jesus fez: ele desinstitucionalizou a religião. Hoje se vê a institucionalização da fé evangélica, descendente da Reforma. A Campanha Nacional de Evangelização de 65, na minha adolescência, mobilizou as igrejas. Institucionalizada, perdeu o vigor. Até para testemunhar já temos um dia no calendário.
Sou batista convicto. Um batista histórico (prefiro este termo a tradicional porque acho que diz mais, mas não rejeito ser tradicional) que ama sua denominação. Não a rejeito nem condeno. Minhas palavras não são desabridas, mas expressam o que vejo: desalento e desinteresse com a estrutura denominacional. Nosso povo quer espiritualidade e santidade de vida, mais que outra coisa. Necessitamos de uma teologia correta. Não apenas de doutrina correta sobre Espírito Santo e louvor, mas uma restauração de valores, conceitos e cosmovisão. Precisamos de ortodoxia, de ortopraxia, de ortolalia, de transparência de ações à luz da Bíblia.
Há heresias que nos ameaçam. Mas há outros perigos, entre eles o desinteresse de igrejas e pastores pela denominação. A causa disto parece-me ser a institucionalização como a que subjugou o cristianismo pré-Reforma, tornando-o mais uma empresa que agência espiritual. Por isso, necessitamos de uma nova Reforma. Que ponha o espiritual acima do material, do administrativo e do funcional. Que submeta tudo, e não apenas alguns aspectos doutrinários, ao crivo das Escrituras. O agir, o funcionar e o viver de nossa denominação, em todos os níveis, é bíblico ou foi secularizado? Buscamos mais Qualidade Total ou o poder do Espírito Santo? Prédios, coisas e regulamentos estão ocupando mais nossas mentes e nossa vida que a Palavra? Então, uma Reforma é necessária.

 

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