E Ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo (Efésios 4.11-13).
O apóstolo Paulo ao escrever sua carta a igreja de Éfeso fornece uma lista contendo cinco ministérios: apóstolo, profetas, evangelistas, pastores e mestres. Evidentemente, Paulo não está preocupado em apresentar uma lista completa de ministérios aos irmãos de Éfeso, como podemos verificar, por meio de uma comparação, com sua primeira epístola aos irmãos de Corinto (1 Co 12.28).
Embora muitos usam este texto, como pretexto, para oficializar seu “cargo” ou seu “título”, Paulo está mais preocupado em mostrar os dons que foram dados por Cristo para edificação da Igreja, por isso dons ministeriais, isto é, possuem o fim de servir, dons estes que evidentemente seriam desempenhados por alguns irmãos.
Segundo Francis Foulkes, “o apóstolo não está pensando nos ministros de Cristo em seus ofícios, mas sim em seus dons espirituais específicos e suas tarefas…”.
Compreenda o que está acontecendo… Paulo, o apóstolo, escreve para a Igreja de Éfeso orientando-os em vários assuntos a respeito da fé, e, em um determinado momento de sua carta, ele afirma a esta igreja que Cristo Jesus concedeu homens capacitados com determinados dons para ajudá-los na edificação da mesma.
No Novo Testamento a palavra “igreja” não aparece com o sentido de prédio ou uma instituição, mas como “corpo”, como algo que possui vida. Paulo escreve sua lista de ministros com essa visão de igreja orgânica, igreja o Corpo de Cristo.
Podemos concluir diante das palavras do próprio apóstolo Paulo que para ele o apóstolo, profeta, evangelista, pastor e mestre não são apenas uma pessoa que possui um cargo numa instituição. Paulo compreende estas pessoas como pessoas separadas por Cristo, para servirem os demais membros de Sua Igreja, de forma que elas sejam capacitadas a exercerem o chamado ministerial delas.
O que gostaria de destacar é que Paulo está dizendo que para o aperfeiçoamento dos santos, da igreja ou da comunidade é necessário a ação destes ministros ou cinco ministérios. Eles foram dados por Cristo com esse fim, portanto podemos afirmar que são imprescindíveis para um desenvolvimento correto da Igreja de Cristo.
Uma vez que Paulo demonstrou que estes dons foram concedidos à Igreja por Cristo, ele preocupou-se em justificar a razão pela qual Cristo instituiu essas figuras na nova comunidade que se formava. “Com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.12).
Em nossos dias, e principalmente na instituição da qual faço parte, não temos o ofício para apóstolo, profeta, evangelista e mestres bem definido. O que acaba ocorrendo é que o pastor precisa possuir ou trabalhar nestes cinco ministérios.
Não defendo a existência de apóstolos e profetas como houveram no início da igreja. O que estou apresentando é que estes ministérios são essenciais para a edificação da Igreja de Cristo, pois foi o próprio Cristo que os deu para este fim. Estes ministério possuíam um valor de serviço para a igreja. Qual era o serviço prestado através destes dons? Qual o valor de serviço prestado por cada um destes ministérios?
• Apóstolos No grego, “apóstolo” significa mensageiro; enviado; delegado. Há um conceito errado quanto à função apostólica hoje. Chamam a alguns de apóstolos por causa de seu tempo de serviço na causa de Cristo ou por destaque em liderança pastoral.
Os apóstolos eram homens enviados para lançar os fundamentos dados por Jesus Cristo. Os fundamentos já foram lançados, a Bíblia já está completa, portanto, hoje não temos mais apóstolos com a autoridade dos tempos bíblicos.
Contudo acredito que ainda hoje ainda temos homens lançando os fundamentos para a plantação de uma nova igreja. Estes homens são apóstolos, no sentido do serviço prestado a Igreja de Cristo.
• Profetas O ministério profético tinha um destaque notável na Igreja Primitiva. Cabia-lhe a função especial, através do Espírito Santo, de edificar, exortar e consolar (1 Co 14.3). Não significa apenas pregar ou ensinar a Palavra de Deus, mas a missão de receber diretamente do Espírito Santo, pelo dom da profecia, a habilidade de transmitir a Palavra do Senhor. O próprio significado da palavra “profeta” quer dizer “aquele que fala por outro”.
A característica do exercício profético marcado pelo edificar, exortar e consolar não era propriamente o de ensinar a Palavra, mas de apontar erros, direções e novos caminhos em nome do Senhor Jesus.
O ministério profético como era no início da igreja, assim como o dos apóstolos, já não se faz mais presentes, uma vez que a Bíblia é a revelação máxima de Deus para os homens. O que Deus queria revelar já foi revelado.
Olhando para o serviço prestado pelo profeta à Igreja, eu diria que ele era o homem que trazia a visão de Deus para a igreja, ele apontava caminhos e dava direcionamento, neste aspecto, o profeta tinha o espírito de liderança, era o líder da igreja.
• Evangelistas Este é outro ministério, cuja função é a de levar as Boas Novas de Cristo, o Salvador. Seu trabalho não é no meio do povo de Deus, mas fora da igreja. É o que sai em busca dos perdidos e os traz à casa do Pai celestial. O que não impede que o evangelista possa às vezes ministrar na casa de Deus.
E um ministério tão importante quanto os demais, sem nada diminuir ou aumentar aquele que o exerce. E uma posição específica no corpo de Cristo, não obedece a uma ordem hierárquica, nem tampouco é uma posição inferior à de pastor.
• Pastores O ministério pastoral inclui outros títulos que representam a mesma função de pastor, tais como ancião, presbítero e bispo. Todos esses nomes têm o mesmo significado em relação ao ministério pastoral. É o ministério mais desejado na atualidade, e isto se dá mais pela função atual de um pastor na igreja, que é o de exercer liderança sobre um povo em local fixo. Entretanto, o real significado de pastor, no grego, é “guardador de ovelhas”. O exemplo mais claro desse significado está na identificação que Jesus fez acerca de si mesmo como “o bom Pastor que dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10.11). Em outros textos do Novo Testamento, como Hebreus 13.20 e 1 Pedro 2.25; 5.4, os escritores identificam Cristo como o exemplo do verdadeiro pastor. Podemos afirmar que o verdadeiro pastor é aquele que cuida das ovelhas. Sua função era a de não permitir que elas se perdessem, adoecessem, passassem fome ou sede. Caso isso viesse acontecer que fossem assistidas por ele. Em outras palavras, eram pastores locais, cujo trabalho era o de alimentar o rebanho, protegê-los dos falsos ensinos, conservá-los na sã doutrina, orientar os crentes na vida diária e conduzir as reuniões com “ordem e decência” (At 20.28; 1 Co 14.40; Tt 1.9,1 l; Tg 5.14; 1 Pe5.2; 2Pe2.11).
• Mestres É um ministério de extremo valor, mas pouco reconhecido, ou, então, prejudicado pelo sistema de governo de nossas igrejas, que, por não reconhecerem a importância de tal ministério, obrigam o “mestre” a pastorear. É como obrigar um lavrador a fazer o trabalho do alfaiate.
Igrejas sem mestres são igrejas fracas espiritualmente. Por isso, deve-se reconhecer a importância e a necessidade do ministério do ensino. E através do ensino sadio e racional, inspirado pelo Espírito Santo, que a igreja se justifica contra as falsas doutrinas e se fortifica contra os ataques espirituais de Satanás. Os mestres são homens separados por Cristo para o ensino. Estes ensinam além dos pastores. Ensinam com profundidade e simplicidade.
A igreja não pode viver somente do serviço do pastor, ela precisa dos demais serviços. Estes serviços, dons dado por Jesus, nada tem a ver com posições hierárquicas. Paulo está ensinando a igreja de Éfeso a respeito dos serviços necessário para a edificação de seus membros.
Podemos concluir que a igreja para ser edificada segundo a vontade Jesus Cristo, conforme descreve Paulo neste texto, deve servir aos seus membros, desde o início de sua fundação ou plantação com
• Fundamentos sólidos – serviço apostólico
• Visão correta para a igreja – serviço profético
• Ganhando almas – serviço evangelístico
• Cuidando das almas ganhas – serviço pastoral
• Ensinando para maturidade – serviço do mestre
Como já disse anteriormente nossas igrejas não possuem ou não oficializa esses ministérios, isso devido a uma perspectiva histórica dos mesmos.
O único ministério que temos oficialmente em nossas igrejas é o do pastor. Contudo na falta de oficialização dos demais, os pastores têm assumido ou exercido serviços nos demais campos ministeriais.
O serviço apostólico é normalmente realizado através de nossos missionários e alguns pastores-missionários. Estes abrem campos e lançam fundamentos para uma futura comunidade ou igreja.
Cobra-se hoje dos pastores também o exercício profético, no sentido de liderarem e trazer a igreja o “sonho” de Deus para o grupo local. O pastor-líder deve comunicar a visão de Deus para a igreja, dando a ela direção em que deve caminhar.
O evangelismo na igreja é muitas vezes lembrado pelos pastores-missionários. Alguns pastores-evangelistas atuam de maneira mais forte neste campo, entretanto acabam falhando em outras áreas. Os membros dotados por Cristo do dom evangelístico acabam sendo direcionados aos seminários, onde na verdade seu dom é enfraquecido pela visão pastoral dos seminários.
Os pastores em sua grande maioria tem tido dificuldade em exercer o seu dom pastoral, pelo fato de ter que ser pastor-apóstolo, pastor-profeta, pastor-evangelista e pastor-mestre.
Como está o ensino de nossas igrejas? Qual a culpa da ausência de mestres? Qual a ênfase de nossas igrejas quanto ao ministério?
Jesus deu cinco dons para servir a igreja. Um só homem com certeza não conseguirá atuar nestes cincos serviços ao mesmo tempo com eficiência. Talvez dois ou três, e, olha lá!
O que fazermos? Devemos contratar em nossas igrejas um colégio de pastores que possam nos suprir nos cinco ministérios. Em outras palavras devemos ter pastores-apóstolos, pastores-profetas, pastores-evangelistas, pastores-pastores e pastores-mestres.
Considerando todos os ministérios dentro do oficio pastoral passo a mencionar apenas “pastor”, tendo em vista um pastor em cada área ministerial.
A igreja é edificada através destes cinco dons. Por meio destes cinco dons a igreja se fortalecerá na comunhão, no serviço ministerial de seus membros, na maturidade dos membros e na evangelização. Esta maturidade da igreja em todas as dimensões de sua vida irá gerar uma adoração verdadeira a Deus.
Uma vez que Paulo demonstrou que estes dons ministeriais foram concedidos à Igreja por Cristo, ele preocupou-se em justificar a razão pela qual Cristo instituiu essas figuras na nova comunidade que se formava. “Com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.12).
No entendimento de Paulo, estes homens eram separados por Deus, no meio de tantos que fazem parte do corpo, para aperfeiçoar os santos (os demais membros do corpo).
A palavra aperfeiçoar (katartismos) tem que ser destacada nesse texto, pois muitos pastores têm trabalhado apenas para manter os santos como estão, não buscando aperfeiçoá-los na graça que lhes foi concedida por Deus. Não trabalham para levá-los a um aperfeiçoamento, isto é, a um desenvolvimento de sua salvação (Fp 2.12). Paulo está dizendo que o pastor não recebeu autoridade de Cristo para apenas manter o rebanho como está nem para usufruir da gordura e da lã de suas ovelhas. Para Paulo é indiscutível que o pastor tenha que levar os santos ao aperfeiçoamento, ao desenvolvimento de sua salvação.
Os santos precisam aprender como viver sua nova vida em Cristo, como desfrutar da liberdade que Cristo lhes deu, em meio a um mundo tenebroso, envolto pelos poderes malignos, repleto de falsas religiões e ciladas que levam a destruição àqueles que se deixarem ser envolvidos por ele. Os santos precisam aprender a lidar com um sistema que os cerca que é, por tantas vezes, injusto, opressor e alienador. Cabe a esses homens, que receberam de Deus o dom, aperfeiçoar os santos para viverem livres no mundo que constantemente os busca aprisionar.
Esse aperfeiçoamento busca levar os santos a desempenharem seu serviço. “Com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço” (Ef 4.12). O pastor visa desenvolver ou aperfeiçoar os santos em sua fé com a finalidade de que eles desempenhem o serviço que lhes foi outorgado por Cristo. Os santos são aperfeiçoados para, com o pastor, pastorear o mundo.
Jesus viveu para libertar as pessoas do pecado e de suas conseqüências; sua práxis pastoral visa libertar o individuo de si mesmo e deste mundo opressor. Não nos esqueçamos de que essa libertação visa todas as dimensões da vida.
Diante disso, temos que Jesus liberta as pessoas de si mesmas e do mundo que as oprime – entre as pessoas que Jesus liberta, ele escolhe algumas para pastores – Esses pastores trabalham na Igreja ou no Corpo de Cristo como administradores ou gerenciadores do corpo, levando os demais membros a um aperfeiçoamento do seu serviço.
O resultado desse aperfeiçoamento é que a Igreja deve se transformar numa agente libertadora do mundo como Cristo o foi. As pessoas libertas pelo poder de Jesus manifestado agora através da Igreja, a ela se unem e dão continuidade à existência da Igreja. Esse é um círculo que terá seu fim somente com a parousia (segunda vinda de Cristo).
Nesse contexto o pastor tem a função de aperfeiçoar, treinar, administrar os dons da Igreja para que toda a Igreja (todos os membros) desempenhe sua missão libertadora.
No funcionamento pleno desse círculo é que se concretiza “a edificação do corpo de Cristo”. Para que essa edificação venha a acontecer, para que a Igreja alcance sua maturidade (Ef 4.13), ela precisa do pastor treinando-a para ser agente transformadora (libertadora) do mundo.
Paulo, por meio desse texto, dá uma importância fundamental aos pastores, a esses homens que receberam do Senhor Jesus poder para pastorear.
O pastor, conforme o texto, serve para aperfeiçoar a Igreja para sua missão e em conseqüência para edificá-la.
“Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.13). A palavra todos inclui nestes versos o pastor também.
O poder pastoral exercido sobre a igreja a conduz à maturidade, incluindo o próprio pastor. Não há na igreja de Cristo, quem não precise aprender, quem não precise se submeter em amor ao outro. É precisamente na unidade promovida quando todos estão na busca do aperfeiçoamento, do desenvolvimento que todos chegamos a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus.
Para Paulo, o poder do pastor é um poder dado por Cristo para o aperfeiçoamento dos santos, que por sua vez devem servir como Cristo serviu e dessa forma edificar a Igreja. Cristo pastoreou todo o povo de Israel, não apenas seus discípulos. Isso se faz presente em seus discursos aos fariseus, em seu diálogo com a mulher samaritana, na purificação dos leprosos, no contato com os doentes que vinham até ele. Assim a Igreja é chamada para pastorear o mundo.
Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira
Bibliografia
CABRAL, Elienai. Comentário Bíblico de Efésios. Rio de Janeiro: CPAD
OLIVEIRA, Cornélio P. O Poder Pastoral. Londrina: Editora Descoberta