Uma igreja livre: um povo santo

Autor: Roger W. Haskins, Jr.

Orientação dos Bispos Para o Avivamento – 2002
Nossa Visão: Uma comunidade bíblica saudável de pessoas santas multiplicando discípulos, líderes, grupos e igrejas

João 1:14 “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.”

A SITUAÇÃO

Havia escuridão sobre a terra. E violência generalizada. As condições nas ruas à noite eram tão selvagens que as pessoas não ousavam se arriscar fora de suas casas. A imoralidade sexual era flagrante e se alastrava. Os jogos de azar eram um vício crescente. Os políticos eram corrompidos abertamente. O sacrilégio era norma. A pena de morte se tornou um espetáculo público. Quase metade das crianças nascia fora do matrimônio. Em alguns casos, o trabalho infantil começava na tenra idade de três anos e meio. Um em cada dez adultos vendia bebidas alcoólicas. As bebidas alcoólicas eram vendidas e consumidas em um entre cada seis estabelecimentos comerciais. O consumo nacional de gim chegava a onze milhões de galões por ano. O alcoolismo se espalhava, mesmo entre crianças. Os pobres vagando sem destino nas áreas agrícolas, tornavam-se grãos a serem moídos nas rodas da indústria enquanto forneciam mão-de- obra barata para movimentar moinhos e fábricas. O campo sofria a drenagem de trabalhadores e as áreas urbanas ficavam infestadas com hordas de desempregados empobrecidos. Arrancadas de suas raízes culturais e familiares, as pessoas se tornaram presa fácil tanto dos implacáveis capitães da indústria quanto dos vícios morais das tentações urbanas. A lei permitia que qualquer pessoa endividada fosse encarcerada ou segregada. Os ricos desfrutavam de um estilo de vida aprazível e confortável, alheios à triste situação dos pobres que os rodeavam.

E até mesmo os membros do clero haviam se tornado as pessoas mais materialistas daqueles tempos. As igrejas eram subsidiadas pelo governo, e os pastores eram sustentados com receitas de impostos arrecadados pelo estado. Uma pessoa contemporânea dessa época escreveu que após visitar várias igrejas não sabia dizer se os oradores eram seguidores de Confúcio, Maomé ou Cristo. Um pastor anglicano que servia como deão de uma das maiores catedrais era um atleta tão dedicado que lhe restava muito pouco tempo para os deveres religiosos. Ele instruía seus assistentes para realizarem as funções sacerdotais e tinha um fosso que dava para fora da janela da casa paroquial preparado de modo a que ele e seus convidados pudessem se divertir com as brigas de galos enquanto jantavam.

Esta é uma descrição da Londres de John e Charles Wesley, uma descrição não muito diferente das áreas próximas às comunidades globais de nossos dias. Era nesse pântano cultural e religioso que John Wesley resolveu fazer algo para “redimir a terra” e “para propagar a santidade das escrituras pela terra”. Ele levou a mensagem de santidade diretamente às pessoas, à infindável legião de pobres e trabalhadores, analfabetos e sem-religião, da Inglaterra.

UM POVO SANTO

Porquê a ênfase num “Povo Santo” como parte de nossa visão para a Igreja Metodista Livre? Primeiro e acima de tudo, porque é bíblico. João 1:14 nos ensina o valor de uma presença santa. O Verbo se fez carne e habitou entre nós. João está usando uma imagem verbal de Deus assentando Sua tenda, ou tabernáculo, no meio de nós. Esta é uma fala peculiar a João, que a usa outras quatro vezes, todas no sentido de uma estadia permanente (Apocalipse 7:15, 12:12,13:6,21:3).

Deus está para sempre unido à nossa “carne”. Ele entrou nesse tabernáculo para “não mais sair”. Ele estava no mundo, não como um viajante que se demora apenas por uma noite, mas ele habitou entre nós, como se viesse para fixar residência para sempre. Ele aqui habitou em circunstâncias muito ruins. Ele não habitou entre nós num palácio digno de Sua morada celestial, mas numa tenda, como os pastores. Os patriarcas, que habitavam tabernáculos, confessaram que eles eram estranhos e peregrinos na terra e aguardavam um lugar melhor. Este também foi o exemplo de Cristo.

E vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. Aqui, Deus habitou, concedeu sua presença e Sua glória foi vista. Na face de Cristo a glória de Deus é vista. Mesmo através do disfarce terreno da carne de Jesus, os crentes têm acesso e gozam da presença de Deus, e em Jesus nossos sacrifícios espirituais se tornam aceitáveis a Deus.

João fez uma alusão ao tabernáculo quando a Shekinah (a divina presença / do hebraico shekínáh-shákan – habitar) ou a manifesta “GLÓRIA DO SENHOR” estava presente como uma referência à habitação permanente de Deus entre Seu povo. No Velho Testamento Deus habitou no tabernáculo de Moisés, como a Shekinah entre os querubins. Então Deus fixou residência na natureza humana de Cristo, que se tornou a verdadeira Shekinah, o símbolo da presença singular de Deus. João fala de sua experiência na montanha com Pedro e Tiago, em Mateus 17:2, como eles pessoalmente reconheceram Jesus como a glória (doxa) Shekinah de Deus.

Jesus transferiu o conceito judeu de local sagrado para Ele mesmo quando falou a Natanael e disse, “Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem”, em João 1:51. Essa era uma referência à história de Jacó em Gênesis 28. Qualquer lugar que Jesus fosse se tornava Betel (ou a casa de Deus). E da mesma forma, qualquer lugar que você vá, se torna Betel. Conceitos como este mudam nossa visão de comunidades e áreas próximas. Descalce seus sapatos, pois as áreas próximas são terreno santo. Cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. A leitura correta é: “Ele habitou entre nós cheio de graça e de verdade”. Em Jesus, toda a Graça e Verdade que há muito permaneciam flutuando em formas sombrias e atingiam as almas dos pobres e necessitados como varas quebradas, tomaram posse eterna de carne humana e a preencheram completamente. A glória de Cristo não estava na pompa e na grandeza mundana, mas na santidade, na graça e na verdade de Sua vida diária. Jesus tinha uma plenitude de compaixão e uma plenitude de sabedoria. Ele tinha uma plenitude de graça e de verdade para nós.

A nossa visão de sermos um povo santo é o comando de Deus para nós: “… e sereis santos, porque eu sou santo” (Levítico 11:44). Em 1 Pedro 2:9 somos chamados de nação santa. E qual é o caminho para a santidade? Jesus disse “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” e “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”; “Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas” (Mateus 22:37-40).

Como Metodistas Livres, e como parte da tradição Wesleyana, acreditamos que ser um povo santo tem um foco de duas partes – nosso amor por Deus e nosso amor pelas pessoas. É uma disciplina de santidade pessoal e uma compaixão de santidade social. Porquê a ênfase num “Povo Santo” como parte de nossa visão para a Igreja Metodista Livre? É a nossa herança Wesleyana. Winston Churchill disse: “Quanto mais para trás você puder olhar, mais para adiante você provavelmente olhará”. Enquanto avançamos como Metodistas Livres, olhamos de volta para a Lei e os Profetas do Velho Testamento, para a vida e o ensinamento de Jesus nos Evangelhos, para a igreja primitiva descrita nos Atos dos Apóstolos e nas Epístolas. Enquanto avançamos, olhamos de volta para John Wesley e para B.T. Roberts. Enquanto avançamos como Metodistas Livres, prosseguimos a tradição e a herança de buscar a santidade em seu significado mais abrangente de amar a Deus plenamente de todo nosso coração, alma, mente e com todas as nossas forças, e de amar ao nosso próximo como a nós mesmos (Mateus 22:37-40).

O INÍCIO DO MOVIMENTO

Numa manhã de julho de 1738, Charles Wesley observou uma multidão em Londres se amontoando para presenciar o espetáculo popular de um enforcamento público. Uma carroça fúnebre com dez vítimas desfilava pelas ruas apinhadas de gente. Enquanto o cortejo se aproximava dos patíbulos, Charles Wesley abandonou sua carruagem perto da multidão e apertou o passo em direção à carroça fúnebre. Charles Wesley foi calorosamente recebido pelos assassinos condenados quando subiu à carroça para junto deles. Nos dias anteriores, Charles Wesley os havia visitado na cadeia, havia aconselhado e orado com eles, e havia servido a comunhão a todos menos um, após guiá-los a Cristo. Na noite anterior, ele e um leigo concordaram em ficar trancados na cela da ala da morte com os condenados de modo a confortá-los com louvores e orações. E agora, Charles Wesley ficava com eles debaixo dos patíbulos em seus derradeiros momentos terrenos. Charles Wesley escreveu depois: “essa hora passada sob os patíbulos foi a mais abençoada da minha vida”.

John Wesley seguiu o modelo de George Whitfield e começou a pregar ao ar livre. As autoridades religiosas haviam banido este ministério para os pobres dentro das quatro paredes de suas amadas igrejas. Logo eles baniram aqueles que eram como Charles Wesley de suas prisões. E assim aconteceu o fenômeno da pregação ao ar livre. John Wesley admitiu que esse tipo de pregação não era o que ele preferia, mas de modo a salvar almas, passou a praticá-la. Esta missão ao ar livre logo se estendeu para cemitérios, mercados, campos, olarias, minas de carvão, e até mesmo para um gramado de boliche.

Embora a preocupação de Wesley fosse a salvação dos pecadores, seus esforços ajudaram a causar uma ransformação social. Muita gente atribui a Wesley a salvação da Inglaterra da revolução que varreu a França. Na França, a revolução assumiu a forma de uma convulsão sangrenta: os camponeses tomaram de assalto a Bastilha (castelo fortaleza de Paris, transformado em prisão) em 1789 e formaram sua própria república. Na Inglaterra a revolução foi totalmente oposta: foi tranqüila, ordeira e de natureza espiritual. Não foi liderada por rebeldes armados mas por reavivalistas anglicanos. Foi a revolução Wesleyana. A transformação social ocorreu através de uma ênfase espiritual tanto em santidade pessoal quanto social. Wesley disse, “O evangelho de Cristo não se reconhece como religião mas como norma social; nenhuma santidade que não seja santidade social”. Freqüentemente ele pregou e escreveu sobre Gálatas 5:6 “A única coisa que conta é a fé que atua pelo amor”.

Numa determinada aldeia, um vagão inteiro carregado desses “Metodistas” foi levado ao juiz. O magistrado perguntou aos acusadores quais incriminações existiam contra eles, e houve um silêncio pesado. Um dos perseguidores começou a dizer que esses “Metodistas” pretendiam ser melhores que as outras pessoas. Outro acusou esses “Metodistas” de orarem de manhã à noite. Enquanto a justiça pressionava por novas acusações, um velho homem pediu a palavra para se queixar e disse que eles haviam convertido sua esposa, que antes “era uma tremenda linguaruda … e agora ficou mais sossegada que um cordeiro”. O magistrado ordenou, “Levem-nos de volta, levem-nos de volta, e deixem-nos converterem todas as velhas rabugentas da cidade”. Embriaguez, violência e sacrilégio começaram a desaparecer ao mesmo tempo de algumas aldeias. Alguém chegou a relatar que na cadeia de uma dessas cidades não havia mais nenhum arruaceiro.

Wesley prosseguiu seu trabalho estabelecendo dispensários médicos gratuitos, abrindo oficinas para pobres desempregados, organizando uma sociedade beneficente de empréstimos, juntando um fundo de caridade para assistir os necessitados, escrevendo contra práticas comerciais injustas. Wesley promoveu a tolerância, opôs-se à escravidão, condenou a corrupção política, relacionou a pobreza de uns com o luxo de outros, e falou abertamente contra os jogos de azar. Octogenário, Wesley era visto caminhando penosamente pelas frias invernais ruas de Londres, afundando na neve derretida até os tornozelos para juntar dinheiro para comprar agasalhos para os pobres. Apenas seis dias antes de sua morte, Wesley escreveu para William Wilberforce: “Prossiga, em nome de Deus, e na força de Seu poder, até que a escravidão americana (a pior de todas) tenha desaparecido por completo”.

O METODISMO NO CONTINENTE AMERICANO

O movimento Metodista atravessou o Atlântico e começou a avançar pelo continente norte-americano. Nos cem anos de 1784 a 1884, o Metodismo cresceu de cerca de 18.000 para um número estimado em 2.350.000. Os Estados Unidos passaram de um Metodista em cada 200 europeu-americanos em 1784, para um Metodista em cada 20 europeu-americanos em 1884.

Infelizmente, houve momentos em que a luz da santidade cresceu menos, ficou ofuscada e a igreja perdeu a unção de Deus. Peter Cartwright escreveu em sua autobiografia como então os pregadores Metodistas começaram a racionalizar a posse de escravos. No começo, os pregadores Metodistas eram pobres demais para possuírem escravos, mas em pouco tempo alguns deles adquiriram escravos por meio de casamento ou por herança. Primeiro esses pregadores pediram desculpas por terem escravos; depois eles justificaram a propriedade com base na lei; e finalmente, começaram a falar da propriedade de escravos não como uma maldição, mas como uma benção.

Nos debates abolicionistas na metade século dezenove, alguns líderes na igreja escolheram colocar o compromisso acima dos princípios, e a unidade acima da justiça. Em alguns casos a igreja decidiu que “nenhum homem deve falar ou orar contra a grande abominação americana (da escravidão)”. Em um número do Northern Independent (O Nortista Independente), o seguinte relato foi feito:

“Um irmão orava, ‘Oh Senhor, perdoa-nos pelo nosso grande pecado nacional’ – e nesse ponto foi interrompido pelo sino do líder! Após o serviço, o irmão explicou ao líder que estava se referindo ao perdão pelo pecado nacional americano da blasfêmia. O líder se desculpou e explicou que normalmente era a escravidão que significava o ‘grande pecado nacional’ americano. O irmão ficou perplexo, sem entender porque se a escravidão era o grande pecado nacional, as pessoas não podiam orar a respeito!”

Foi fora da escuridão desse tempo que Deus levantou um movimento de avivamento de santidade conhecido como Metodista Livre.

ILUSTRAÇÕES DA NECESSIDADE DE UM MODO DE VIDA SANTO

A seguir temos ilustrações poderosas da necessidade e do impacto do modo de vida santo, de um amor por Deus que é tão grande que leva a pessoa a amar e a alcançar aqueles que estão espiritualmente condenados em nosso mundo, das maneiras mais inusitadas. Mas também mostram que a santidade é necessária nos dias de hoje em nosso mundo. “Aquele era um lugar agradável para visitar, mas com certeza eu detestaria viver ali!” Foram estas as palavras que eu disse a Ellen quando deixamos Boston num ônibus cheio de adolescentes, após havermos participado de um evento regional da mocidade. E justamente poucos meses depois, quando eu estava me preparando para deixar o ministério da mocidade para assumir meu primeiro pastorado, para onde você pensa que o Senhor me enviou? Isso mesmo, para Boston! Fui enviado para uma igreja que ficava geograficamente localizada no terceiro maior projeto habitacional da comunidade de Massachusetts.

E assim que me mudei para uma área próxima, Deus transformou meu coração. Minha atitude passou de “eu com certeza odiaria viver aqui”, para “não existe nenhum lugar como este em lugar algum. Este é o lugar que deve ser!” O Senhor me fez amar a cidade e seus habitantes. Meu coração foi atraído primeiro para os pobres e para aqueles que estavam privados de direitos, aqueles que foram priorizados pelo ministério de Jesus.

Ellen e eu nos mudamos para lá. Desfizemos nossas malas, física e emocionalmente. Fixamos residência nas proximidades, levamos nossos filhos para a escola dali mesmo, e caminhamos pelas ruas do nosso projeto habitacional público. Pedimos a Deus que nos mostrasse como poderíamos levar a Sua presença às pessoas próximas a nós. Tentamos viver vidas transparentes para que as pessoas de nossa comunidade pudessem perceber o nosso amor por Deus. Procuramos conhecer Deus e amá-Lo plenamente de todo nosso coração, alma, mente e com todas as nossas forças.

Procuramos amar quem estava próximo de nós e buscamos as muitas oportunidades de mostrar o amor de Deus. Começamos a ver o valor de uma vida santa, vivida em comunidade, quando isso trouxe a real Presença de Deus para o nosso redor. Muito nos alegramos quando vimos a graça de Deus trabalhando na transformação de vidas e de pessoas próximas a nós.

VISÃO DE SANTIDADE

Como Conselho de Bispos, estamos clamando a Deus por uma visão de santidade que traga a presença de Deus para perto das pessoas de nossos dias. Este clamor por santidade não apenas reafirma nossos valores históricos, mas também aumenta nossa responsabilidade de confrontarmos abertamente o pecado contemporâneo. É por isso que o mundo de hoje precisa da Igreja Metodista Livre.

Como Metodistas Livres nós temos o chamado de visitar cada área próxima de nós. Para buscar primeiro os pobres, os prisioneiros, os cegos e os oprimidos; aqueles a quem o próprio Jesus disse que foi enviado para alcançar. Jesus disse que quando amamos essas pessoas, é como se estivéssemos amando a Ele. E quando recusamos dar amor a elas, é como se estivéssemos recusando amá-Lo.

Porquê a ênfase num “Povo Santo” como parte de nossa visão para a Igreja Metodista Livre? Nosso mundo está observando. A Gandhi é atribuída a frase: “Eu teria me tornado cristão se tivesse encontrado algum”. Ele também é conhecido por ter dito: “Eu preciso me tornar na mudança que eu gostaria de ver”.

PROPÓSITO DE DEUS

Deus continua tendo um propósito para a Igreja Metodista Livre? De todo o meu coração, acredito que sim. O bispo Leslie L. Marston escreveu em 1960 “O Metodismo Livre continua tendo uma mensagem e uma missão”. Acredito que Deus tenha permitido que a Igreja Metodista Livre sobrevivesse para que mais uma vez pudéssemos prosperar como um povo santo a ser usado como um movimento apostólico de Deus para despertar essa cultura e mudar nosso mundo.

Em 1 Samuel 17, temos a história do encontro de Davi com o gigante, Golias. No versículo 48 está dito que “Davi se apressou e, deixando suas fileiras, correu de encontro ao filisteu”. Essa também deve ser história dos Metodistas Livres no mundo de hoje. Somos um povo que se tornou Livre. Tornou-se Livre para ser um povo santo. Precisamos esperar em Deus pela Sua unção, e pelo derramamento de Seu Espírito em nossas vidas e em nosso ministério. Mas uma vez tendo recebido o cuidado do Senhor, e temos a confirmação de Seu Espírito em nossas vidas e em nosso ministério, precisamos correr para as frentes de batalha que nos impedem pessoalmente de amar a Deus plenamente de todo nosso coração, alma, mente e com todas as nossas forças. Também precisamos correr para as frentes de batalha da injustiça e da maldade para que Sua glória seja vista ao nosso redor. Santidade não é agitar cartazes, nem lançar palavras de ódio. Santidade é amar da mesma maneira a criança que vai nascer e a mãe que precisou tomar a difícil decisão de abortar. Santidade é amar da mesma maneira os responsáveis pela adoção e os médicos que realizam aqueles trágicos procedimentos. Nosso clamor por santidade diz que vamos pedir justiça e mostrar misericórdia.

Jesus deixou os esplendores do paraíso e veio para perto de nós para despertar as pessoas dos dias de hoje. John Wesley acompanhou as pessoas de sua época, que vagavam de áreas agrícolas distantes em busca de trabalho na grande cidade de Londres. Logo os Metodistas Livres acompanharam a mudança de camadas da população para o continente americano, trazendo sal e luz para fronteiras violentas e decadentes. Os Metodistas Livres de hoje precisam continuar a acompanhar a mudança de camadas de nossa população para as violentas e decadentes fronteiras urbanas. John Dawson, em seu livro Taking Our Cities for God (Levando Nossas Cidades para Deus) escreve: “por volta do ano de 2010, oito em cada dez pessoas nos Estados Unidos viverá na cidade”. Ray Bakke em seu livro, A Theology as Big as the City (Uma Teologia tão Grande quanto a Cidade) escreve: “em 1900, oito por cento da população mundial morava em cidades”. Esse número virou cinqüenta por cento no ano de 2000. Bakke prossegue dizendo: “pela primeira vez na história americana (a partir de 1990) mais de cinqüenta por cento de todos os americanos vivem nas trinta e nove áreas metropolitanas com mais de um milhão de habitantes. Além disso, não somente três bilhões de pessoas, de uma população terrestre de seis bilhões de habitantes, vivem em cidades, mas os outros três bilhões de pessoas estão sendo urbanizados também. As cidades substituíram as nações. No passado, as cidades ficavam numa nação; hoje em dia todas as nações estão em nossas cidades. Se a cidade for alcançada, os confins da terra ouvirão falar a respeito”. Isso significa que a sua igreja tem menos valor se ela fica numa área rural ou suburbana? É claro que não. Mas nós devemos compartilhar responsabilidade de reunir forças para alcançarmos as pessoas de nossas cidades globais.

Doug Murren sugere que o pós-modernismo pode ser apenas um período de transição, que tanto pode levar a uma era de paganismo ou a um novo avivamento Wesleyano. Você pode imaginar a comunidade na qual vive, agradecendo sinceramente à sua igreja? Você pode imaginar os líderes da cidade valorizando a amizade e a participação de sua igreja na comunidade – e até mesmo pedindo isso? Você pode imaginar as pessoas das redondezas de sua igreja comentando como é bom ter a sua igreja na região por causa do testemunho palpável oferecido a elas do amor de Deus? Você pode imaginar um grande número de membros de sua igreja ativamente comprometidos, e apaixonadamente dedicados, a serviço da comunidade, usando seus dons e talentos de maneiras e em níveis que jamais poderiam pensar que fosse possível? Você pode imaginar a comunidade realmente mudando por causa do impacto do envolvimento da sua igreja? Você pode imaginar muitas pessoas em sua cidade, que antes eram cínicas e hostis em relação à cristandade, realmente orando a Deus pela sua igreja e pela contribuição positiva que seus membros ofereceram em nome de Jesus?

Você pode imaginar a colheita espiritual que naturalmente poderia acontecer se tudo isso fosse verdade? Em Santa Bárbara – CA (Califórnia), o Pastor Denny Wayman e sua congregação iniciaram um programa de construção de um milhão de dólares. O pedido que fizeram a respeito de 9 problemas foi aprovado pois disseram a eles que essa igreja era “uma jóia da cidade” por causa do serviço prestado à comunidade. Em Fênix – AZ (Arizona) o Pastor (e Superintendente Permanente) Joel McLaughlin e a Igreja de Deer Valley (Vale do Veado) só têm um assunto: “Estamos Aqui Pela Vida” (We’re Here For Life / For Life = Pela Vida e Para Sempre). Eles foram até as escolas próximas e perguntaram como poderiam ajudar e agora estão envolvidos diariamente no trabalho com crianças e famílias da comunidade. Eles patrocinam os adolescentes da região em competições da equipe de skate boarding por todo o sudoeste. O Pastor Tom Davis e nossa igreja em Placentia – CA (Califórnia) patrocina os Ministérios de Casas Livres (Home Free Ministries) com três centros residenciais. Os tribunais solicitaram que seus prisioneiros ficassem soltos nesse programa de Casas Livres pois os corações de assassinos e traficantes de drogas e de viciados em drogas e agressores sexuais estavam sendo transformados. O Pastor Derek Isaksen e algumas pessoas de nossa igreja em Clóvis – CA (Califórnia), desceram até a rodovia e adotaram o mais pobre e mais maltratado arranha-céu cortiço na pior zona de Fresno. Eles declararam que esse arranha-céu fazia parte da paróquia e estão abrindo caminho levando o poder de transformação da santidade pessoal e social a esses apartamentos. O Pastor David Banks e a Igreja de Lakeview (Vista do Lago) em Seattle viabilizaram a abertura da igreja todas as noites como abrigo para mulheres e crianças sem-teto. A sua comunidade lamentaria se a sua igreja ficasse fechada e trancada? Alguém perceberia se você fosse embora? Deus está usando a sua igreja para transformar as pessoas próximas e as áreas próximas? Será que ficamos cada vez mais parecidos com Deus quando estamos vivendo em comunidade como um povo santo e trabalhando juntos para a redenção do mundo de Deus? A agenda do reino de Deus busca a salvação pessoal de todas as pessoas e a transformação social de todos os lugares.

Se você acredita que Cristo está com você no meio do seu bairro, então a sua obediência pode começar transformando o seu bairro com a real Presença de Deus. O evangelho libera o poder de transformação ao nosso redor quando estamos vivendo em comunidade bíblica saudável como povo santo. Enquanto formos a cada bairro despertando a cultura ao nosso redor e vivendo em comunidade bíblica saudável como povo santo, Deus renovará o trabalho apostólico entre nós enquanto Ele multiplica discípulos, líderes, grupos e igrejas.

Deus, em Jesus, nos tornou livres para sermos um povo santo. Enquanto buscamos conhecer a Deus diariamente, e torná-Lo conhecido, estaremos preenchidos com a Presença de Deus. Enquanto nos esforçamos para amar a Deus plenamente de todo nosso coração, alma, mente e com todas as nossas forças, somos então compelidos a amar nosso próximo como a nós mesmos. Esse amor é a essência da santidade. O chamado não é para fazermos igreja, mas é preferencialmente para sermos igreja, enquanto vivemos em comunidade bíblica saudável como povo santo. Este chamado não é apenas para contar a história, mas é preferencialmente para nos tornarmos parte da história da graça e da verdade de Deus alcançando as vidas de pessoas e áreas próximas a nós. Irmãos e irmãs, Deus não se impressiona com a nossa capacidade de fazer uma igreja crescer. Deus quer que você seja como Ele. Ele quer que você O conheça. Ele quer que você se sustente Nele. Deus quer desfrutar e aprofundar diariamente a amizade por você. Deus quer preencher a sua vida com a presença Dele, tornando você livre para realizar o propósito Dele para a sua vida. E quando vivemos a vida que se tornou livre preenchida com Sua santa presença, nossas vidas começam a transformar as vidas daqueles que estão ao nosso redor.

A nossa visão não coloca o crescimento da igreja em primeiro lugar. Não coloca em primeiro lugar a multiplicação de discípulos, líderes, grupos e igrejas. Deus é o Senhor da Colheita. A Visão para a Igreja Metodista Livre é de ser uma comunidade bíblica saudável como povo santo, para que Deus possa multiplicar discípulos, líderes, grupos e igrejas. Esta Visão reconhece que ser quem somos é mais importante do que fazer aquilo que fazemos.

Assim, nossa Visão enfatiza sermos igreja acima de fazermos igreja. Ela se formou da profunda e irrefutável convicção de que, enquanto nos tornamos povo de Deus, santo e agradável a Ele, Ele permitirá a nós Metodistas Livres mais uma vez fazermos parte do movimento de Seu Espírito em nossa terra e em nosso mundo. Fazendo isso, a Igreja Metodista Livre torna-se realmente Livre e vai experimentar o mover de Deus de uma nova maneira, enquanto Ele multiplica discípulos, líderes, grupos e igrejas.

Mensagem do Bispo Roger W. Haskins, Jr no encerramento do Concílio Anual de 2002.

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