Uma breve conversa sobre sexo

Autor: Jonathan Menezes

Sexo antes do casamento é pecado? Masturbação é pecado? Se “tocar”, um ao outro, antes do casamento é pecado? Estas são perguntas corriqueiras entre jovens cristãos, e que, de modo geral, na igreja são tratadas de forma pouco profunda, evasiva e, na maioria das vezes, sob ponto de vista legalista fundamentalista. Dúvidas surgem, as respostas são vagas e farisaicas, e a tendência é que o jovem caminhe em um ou outro extremo: ou de forma dissoluta e libertina, ou em um puritanismo “castrante” e recluso.

Uma certa vez, em uma destas conversas sem convenção – estas que a gente tem só pelo prazer de estar com o outro – um camarada fez perguntas semelhantes a mim, e minha resposta, com toda franqueza e liberdade que tenho no Senhor, e com base na Lei do Amor, foi que tanto pode ser pecado como não, dependendo de quem faz (do ponto de vista da consciência e compreensão da Graça de Deus), com quem faz, em que circunstâncias e com que motivação faz. Aqui me refiro ao Amor, com “A” maiúsculo mesmo, sem o qual o sexo ou qualquer outra coisa que diz respeito a uma relação perde o sentido, tornando-se um mero acessório de um projeto falido e sem futuro profícuo, pelo menos aos olhos de Deus. Quando falo de amor, falo pensando que todos os atos que  o incluem demandam em responsabilidade.

Lembra daquele conselho que o tio do Homem-Aranha disse pra ele no filme: “Um grande poder exige uma grande responsabilidade”. Eu aplico isso ao amor. O amor é mais do que sentimento, prazer ou curtição momentânea, e o sexo também. Quando você decide fazer sexo, ou melhor, “amor”, com outra pessoa, deve ter em mente que você está assumindo uma responsabilidade para com ela, até porque, como diz Paulo, em Efésios 5:31, “vocês se tornarão os dois uma só carne”. O Reverendo Caio Fábio diz que ali, no ato sexual, é que se engendra o casamento, ou seja, algo que vai marcar vocês dois para o resto da vida, enquanto uma só carne. O lance da cerimônia na igreja, da noiva de branco (que representa a pureza), da benção do pastor, das famílias, da igreja, todos representando a benção e o consentimento de Deus, seguido da noite de núpcias (a “primeir! a vez” dos noivos), tornou-se algo tão canonizado que se a ordem dos acontecimentos, por um motivo ou por outro, muda, o escândalo e a desaprovação são gerais, com raras exceções. Por essas e por tantas outras coisas que é, para tantos, difícil falar sobre sexo na igreja, ou qualquer outro lugar, que dirá tomar alguma posição.

Quando não há educação e o ensino de um evangelho que não oprime ou aprisiona, mas que, pelo contrário, liberta, você cria pessoas cativas: a um pensamento doutrinário fraco, à vigilância do pastor, do líder de jovens, dos outros membros da igreja, etc. Em conseqüência, esta pessoa (a “vítima”), quando estiver sozinha e tiver que lidar com situações como esta que estamos tratando, de sexo, masturbação, etc, ela não vai conseguir segurar a barra, pois tudo o que ouvira, até então, foram respostas negativas e evasivas, e quando o corpo e a mente dizem “sim” e a “coisa” acontece, ela se enche de complexo de culpa e, dependendo do que vai ouvir de quem souber o que aconteceu, ela adoece, e acaba entrando num círculo vicioso muitas vezes sem volta.

Tudo que vicia e/ou aprisiona é pecado. Tudo que não provém de fé é pecado. Quando eu disse, lá atrás, que depende da pessoa que faz, quis dizer que nem todos têm a oportunidade de desenvolver uma mente aberta e consciente de que “tudo” é Graça de Deus, de crer que nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Desta forma, o sexo se torna um peso, enfado da carne, e não benção de Deus. Eu já vi casos de casais de namorados, inclusive de amigos meus, que optaram pelo sexo antes do casamento, e, por não terem nenhuma preparação anterior (a “coisa” aconteceu de repente, num repentino ardor), tanto dentro da igreja como dentro do próprio relacionamento, e nenhum esclarecimento das implicações que isso tem para o presente e para o futuro deles, acabou com o relacionamento por não agüentarem as brigas e a péssima convivênci! a, fruto da pressão gerada pela consciência fraca e despreparada de cada um. Ex: A menina, sem pensar, sede aos apelos do namorado, que diz que a ama, mas que no fundo está louco por outras coisas, e no fim das contas, depois de perceber que aquilo não era amor coisa nenhuma, mas desejo apenas, se desilude, termina o namoro, às vezes adoece, e, dependendo das circunstâncias, demora a vida toda pra se recuperar. Isso quando não vira escrava sexual do namorado.

Esse apenas é um caso, dentre tantos outros, uma possibilidade, dentre tantas outras. Porém, conheço também um casal de amigos meus, que fizeram a mesma opção no namoro e hoje estão casados e firmes em Deus, ele é pastor e ela professora, têm 3 filhos lindos e são super felizes. Isto pode ser relativo? Sim, pode. Mas a incidência de sucesso, a meu ver, é maior quando o casal se prepara antes, com leituras, conversas esclarecedoras, como se faz em um casamento. É preciso que os dois estejam conscientes e certos do que estão fazendo e do que isso implica. Surpresas podem vir? Sim. Mas, neste caso, elas serão menos dolorosas e penosas para os dois, que serão responsáveis e saberão enfrentar as conseqüências, juntos. A vida é menos “romântica”, em certos momentos, quando ela nos encara com a realidade. Não obstante, eu creio muito nisso que e! stou te falando, e assumo diante de Deus o que penso e falo.

Não vejo mal algum no fato de se optar por não fazer sexo antes do casamento, mesmo que se tenha a consciência de que não há um grande mal nisso, dependendo daquelas circunstâncias que mencionei e tantas outras, pois, na prática, a coisa é sempre mais difícil. Não é só você que tem de tomar a decisão, não é só você quem vai fazer, são os dois, sempre os dois. E isto implica em dupla responsabilidade, compromisso e consciência quanto ao ato ou “atos”. Quando o que rola é diferente disso, a coisa geralmente não anda mesmo.

Do contrário, eu acho muito positivo quando você chega a um patamar em que tem de reconhecer que, dentre tantas opções, a melhor é ficar como está, até que se tenha plena segurança do que está se fazendo, seja antes ou depois do “casamento”. Isto sim, acima de tudo, ainda que sem o embasamento bíblico desejado, é uma atitude madura, pois reflete sua comunhão e temor a Deus. Na dúvida, é sempre melhor optar por não arriscar. Lembre-se: Tudo que não provém de fé É PECADO, já diria Paulo, um profundo entendedor da Liberdade e da Graça em Cristo Jesus. Quando falei que para mim TUDO É GRAÇA, me referia a todas as coisas que são boas e agradáveis aos olhos de Deus, inclusive o sexo. Mas eu não posso pensar que, porque é bom e agradável, vou então fazer da maneira que achar melhor, quando achar melhor.

Tenho experimentado uma porção de coisas nestes últimos tempos, recebido tanto e dado tão pouco, e, por isso, em todas essas coisas não vejo mérito humano, nem meu, nem de outros, mas sim pura Graça Divina. Quando eu disse TUDO, foi pensando de uma forma ampla mesmo, pois a Graça é ampla, maior do que a gente pensa ou vê. Não se estresse muito com o fato de não achar muita justificativa na bíblia para o sexo antes do casamento, pois de fato não há, nem para antes, nem para depois do casamento, não da forma tão específica que se prega e se espera que haja. Na minha opinião, dois livros são muitos legais de se ler quanto a tudo que temos dito: Romanos e Gálatas. São meus livros prediletos da bíblia.

Há diferenças entre fornicação e sexo, no que diz respeito à concepção de pecado, se este é maior ou menor em alguns casos?

Não vejo diferença entre uma coisa e outra, isto pensando nos dois pressupostos aqui discutidos: daqueles que acreditam que o sexo antes do casamento não é pecado, bem como dos que dizem ser pecado. Ora, pecado é pecado, portanto se sexo é pecado, a fornicação e seus atributos também são. De outra maneira, se sexo, do jeito como discutimos, não é pecado, outras “formas” também não são. Sejamos claros e objetivos, o que entendemos por fornicação? As “passadas” de mão, os beijos mais “calientes”, inclusive em outras partes do corpo, o sexo oral (sim, pois não há penetração vaginal), etc. Para mim, tudo isso é tão sexo quanto é o “fazer sexo”, guardadas as devidas proporções. Uma diferença básica é que ninguém engravida só passando a mão.

A meu ver, tudo depende do nível de intimidade que você tem com a pessoa, e aí atingimos um ponto interessante: até que ponto o que eu faço à minha (meu) namorada (o), fere sua integridade física, moral, espiritual? Se você tem certeza de que não fere, e ela também, então não há o que temer, até porque você precisa e quer tanto quanto ela. Há uma passagem na bíblia em que Paulo diz assim: “é melhor que se casem do que vivam abrasados”. Veja bem: ele não está dizendo aqui que É PROÍBIDO viver abrasado, até porque ele não trabalha com esse tipo de afirmativa. Grosso modo, ele apenas está dizendo que o casamento é o melhor lugar para se viver essas experiências, provando, nada mais nada menos, que conhecia bem nossa natureza humana, suas necessidades e limitações.

É um conselho Sábio e Divino, pois, se vivemos pela Graça, somos livres e maduros o suficiente para escolher o melhor caminho para nossas vidas (ainda que, no final das contas, cheguemos à conclusão de que aquela não foi uma boa decisão, pois isso acontece, quase sempre). Então, não há erro que não possa ser consertado, se reconhecermos que nossa vida sempre será essa constante entre erros e acertos, e a permanente Graça de Deus nos assistindo e salvando.

* Seminarista da Faculdade Teológica Sul Americana – www.ftsa.edu.br

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