Autor: Paulo Lockmann
“Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo.” (Mt 4.23).
1. Introdução – O Evangelho: Boa Nova para todos.
Um autêntico mensageiro de Boas Novas é que o mundo está precisando. Os mensageiros atuais anunciam as Casas Bahia, o novo Pálio, a prisão do Sadam Hussein. Este Brasil do desemprego precisa desesperadamente de Boa Nova, de esperança.
O Evangelho de Marcos é claro, ao apresentar Jesus anunciando: “… O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no Evangelho.” (Mc 1.15). Nós não temos bradado esta mensagem com o ardor que João Batista pregou o novo tempo de Deus, e Jesus declarou a irrupção deste tempo, o tempo do reino de Deus, o tempo da graça. (cf. Is 55.1-3). O Reino de Deus é uma potência e um poder presente. Muitos cristãos desconhecem isso, e vivem sem esta evidência do poder presente. E é claro que, quando a realidade do Reino não é crida e experimentada, a vida tem outro significado, diferente da proposta cristã. O novo de Deus, ainda, não é conhecido, e, por isso, o amor esfria rapidamente; há uma sede de ter, de ser, é uma corrida atrás do vento, mas sempre há um vazio, medo, angústia, infelicidade; a plenitude do Evangelho não afetou a vida humana em todos os níveis; há mero rito, credo, mas não há o ardor da Missão.
Mas no momento em que cremos, tal como Jesus, tornamo-nos sinais da presença do Reino. Jesus, mais do que o pregador das Boas Novas, era as Boas Novas; n´Ele o reino era visto. Nosso desafio, hoje, é sermos mais do que pregadores(as) das Boas Novas, precisamos com, o Ardor da Missão, transformar-nos nas próprias Boas Novas. Como? Você pergunta. Eu não vejo outra resposta, senão na própria vida de Jesus. Precisamos viver a vida de Jesus em nossas vidas; aí, então, a força e o poder do reino em nós será cada vez mais uma Boa Nova.
2. O modo de Jesus viver a Missão
Com Jesus, foi ficando evidente a presença do reino anunciado, à medida em que Ele ministrava, como no caso do possesso na sinagoga de Cafarnaum que era libertado. (cf. Mc 1.24-26), e, como conseqüentemente, o povo exclamava: “Todos se admiraram, a ponto de perguntarem entre si: Que vem a ser isto? uma nova doutrina, com autoridade ele ordena aos espíritos imundos, e eles lhe obedecem!” (Mc 1.27). Noutros momentos, conforme o texto de Mateus 4.23, eram muitos enfermos que eram curados. Em João, no episódio da mulher samaritana, Jesus surpreende, quebrando inúmeros preconceitos; prova disso foi a reação dos discípulos. (cf. Jo 4.27); a admiração deles estava no fato de que um mestre em Israel não dirigia a palavra a uma mulher, muito menos a uma samaritana, a ponto de ela se transformar numa apóstola, por ter sido “enviada apóstola”, por Jesus, a sua aldeia. Nessas atitudes, está a Boa Nova, o irromper do reino, o mensageiro, Jesus, se confunde com a mensagem.
Cabe dizer, ainda, que a evangelização desenvolvida por Jesus era conceitual, intelectual, bíblica (cf. Mt 7. 28-29; Lc 24.27, 44-48), mas existencial, pois afetava a vida: “Imediatamente a menina se levantou e pôs-se a andar; pois tinha doze anos. Então ficaram todos sobremaneira admirados.” (Mc 5.42). Era uma palavra espiritual, que falava ao coração das pessoas, promovia sincera conversão: “Entrementes, Zaqueu se levantou e disse ao Senhor: Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma cousa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais.” (Lc 19.8).
Sim, o modo de Jesus fazer a missão precisa ser nossa permanente referência, pois o seu anúncio do reino, como pregação e prática de vida, aponta uma evangelização concreta e equilibrada, pois afeta todas as dimensões da vida humana. A salvação é histórica, pois acontece durante a vida e se projeta para além da morte; é vida eterna com Deus. Jesus é e apresenta um Deus próximo, interessado na vida das pessoas, e disposto a alimentar, inspirar e fortalecer a luta do povo por um tempo novo, de justiça para todos, especialmente os pobres e marginalizados de toda as espécies.
O reino, conforme anunciado e vivido por Jesus, teve outro referente histórico, nosso fundador, o rev. João Wesley, o qual tinha paixão pelas vidas, porque tinha paixão por Cristo. Sim, a chama do Espírito Santo que ardia em Jesus e em Wesley incomodava, fazia deles mensageiros e a própria mensagem.
3. O desafio: Testemunhar o Ardor da Missão
É desafio da evangelização metodista voltar a acender, nas pessoas e igrejas, esta chama de paixão e amor pela vida dos que sofrem sem Cristo. É uma paixão pela vida, “…para que todos tenham vida…” (Jo 10.10). Uma luta a favor dos marginalizados, dos deserdados, dos que sofrem, dos miseráveis. Wesley queria que o Evangelho alcançasse a todas as pessoas. Mas deu mais ênfase àqueles que, além da pobreza espiritual, sofriam também da pobreza material. Eram, certamente, os mais necessitados das Boas Novas de vida, salvação e libertação de Deus. Sim, Wesley fez sua opção por aqueles que eram miseráveis duplamente. Espiritualmente, por serem pecadores, e socialmente pelos pobres e deserdados dos recursos deste mundo: evangelizou prioritariamente a eles.
E, fazendo isso, mudou a vida dos pobres de seu país. Amou-os como irmãos e irmãs, ajudou-os a serem companheiros e fraternos, a não aceitar o pecado e a injustiça, a serem cidadãos dos céus e cidadãos na terra. Wesley influenciou a história de seu país. Questionou com seu testemunho, a ponto de afetar os poderes instituídos. É nessa esperança que, em nome de Deus e no poder do Espírito Santo, podemos fazer o mesmo na nossa cidade, no Rio de Janeiro, no Brasil e na América Latina em geral. Para isto precisamos:
3.1. Empenhemo-nos em criar um “padrão de visão e ação missionária”. Um tipo de projeto missionário que oriente toda a Igreja, propondo-nos a um objetivo maior, unificador de um comum compromisso. Tal projeto, antes de ser um plano ou uma estratégia, deve ser a expressão de nossa incondicional obediência ao Espírito Santo, na unidade e na comunhão do Pai e do Filho.
Que este ardor evangelístico e missionário leve ao real crescimento da Igreja, Corpo vivo de Cristo. Tanto em seus aspectos quantitativos, quanto qualitativos, como estilo de vida de cada um de nós. Isso deve ter como nascedouro a igreja local como agência base da Missão.
3.2. Vivemos uma espiritualidade que expressa a “dimensão vertical” (através da participação na Ceia do Senhor, leitura e estudo devocional da Bíblia, prática da oração e jejum, participação nos cultos, etc.), bem como a “dimensão horizontal” (solidariedade ativa junto aos pobres, necessitados e marginalizados de toda a sorte), isto é, a aproximação de cada um, e de todos perante Deus, juntamente com o serviço e proclamação voltados para as pessoas e a comunidade.
Uma espiritualidade que seja fé em ação. Aqueles que dizem “andar no Espírito” devem mostrar. E os que buscam um evangelho libertador devem viver, pessoal e comunitariamente, a mística da experiência do Espírito. O reestudo criterioso da revelação de Deus, contida nas Escrituras, aliada à experiência da Igreja contemporânea, devem nos conduzir a uma espiritualidade comprometida, autêntica e equilibrada. A vida de oração, meditação da Palavra e jejum, com a unção do Espírito, são condições fundamentais para a vivência da piedade, santificação, comunhão, unidade e a prática da misericórdia e da solidariedade, que podem nos tornar uma Igreja de discípulos e discípulas de Cristo.
3.3. Buscarmos a cada dia na dinâmica do Espírito e no anúncio e vivência do Reino, nos organizarmos em grupos pequenos de santidade, para, como queria João Wesley, nos estimular à prática do jejum, da oração, do estudo da Palavra, da prática da justiça, das boas obras, para que, cada vez mais, a vida do povo metodista assemelhe-se à bela mensagem do reino de Deus, conforme ensinado e vivido por Jesus. Desse modo, mais e mais, seremos discípulos e discípulas de Jesus Cristo.
Bibliografia:
Jeremias, Joachim – Teologia del Nuevo Testamento – Salamanca: Sigueme, 1977.
Schottroff, Luise, Stegemann W. – Jesus de Nazaret – esperança de los pobres – Salamanca: Sigueme, 1981.
Schweizer, Eduard – Das Evangelium nach Mathäus – Göttingen: Vaudenhoech, Ruprecht, 1981.
Bovon, François – El Evangelio Segun San Lucas – Salamanca: Sigueme, 1995.
Bispo Metodista
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