Teologia Integradora: Igreja e sociedade

Autor: Sergio Ribeiro




A Igreja é uma criação de Deus. Visto que a mesma se constitui o corpo de Cristo, aonde a fé e o elemento central, e a salvação é trinitária, vem do (Pai) através do (Filho) e por meio do (Espírito Santo). Esta Igreja de Cristo além de ser uma nova comunidade que envolve os ser humano (antropológico) e também uma organização do Espírito Santo (Paracleto), onde através de atos visíveis, através do corpo ela se manifesta concretamente, se tornando assim a segunda encarnação de Cristo. Mas para que a Igreja de Cristo possa ser uma expressão concreta do Reino de Deus, uma agência primaria deste reino, se faz necessário que em sua base teológica esteja de forma intrínseca ligada com uma cosmovisão. É necessário que valores teológicos como: Criação, Revelação, Queda, Pós-queda, Redenção, Re-criação, Volta de Cristo e outros sejam princípios imutáveis da Palavra de Deus.

Compreendendo que a missão é de Deus ( Missio-Dei), logo então a igreja é teocentrica e não antropocêntrica. Sendo também portadora de uma ação (centrifuga) que é a característica da Igreja neo-testámentária, que vai de Jerusalém para as nações anunciando a Cristo, implantando igrejas e anunciando o reino de Deus através da comunhão ( Koinonia) da proclamação ( Kerygma), serviço (Diakonia) e do testemunho (Marturia). O pecado como fruto da queda descaracterizou o homem, contribuindo assim para a sua indiciplinaridade para com ele mesmo, para com o próximo, e para com Deus. Sendo assim A igreja precisa ser uma comunidade que em primeiro lugar seja transformada, e em segundo lugar transforme e a realidade do seu contexto.”O crescimento de uma igreja sem discipulado, contribuirá para a perda de membros”. Se a igreja está crescendo, porque os problemas como violência, corrupção, criminalidade, corrupção, injustiça etc, estão aumentando? Se a religião esta em alta, porque a moralidade esta em baixa?

O termo protestante está relativo com o conceito protestar. “Protestante protestam ou pelo menos deveriam fazê-lo para honrar a nomenclatura. A democracia tem sua origem na cultura grega “ governo do povo” tem esta etimologia onde o povo expressa sua vontade, fala, opina, vota, enfim; protesta. Pertencer a uma democracia implica irredutivelmente no oficio de pro-tes-tan-tes; ou seja reivindicadores. Historicamente, sociológica e filosoficamente compreendemos que é de protesto em protesto que se constrói uma democracia, ou um sistema de igualdade e dignidade. Uma sociedade está estruturada por três poderes, político, econômico e religioso, os três estão em esfera diferentes, mas em todos devem ter o principio da democracia. Uma democracia não existe se não dar a liberdade de falar, escrever e opinar através dos protestos. Portanto protestantismo e democracia é uma combinação perfeita. Ou pelo menos deveria ser. A história mostra que em 31 de outubro 1517 o grande reformador Martinho Lutero com ousadia fixou na porta do castelo Witterberg um Texto com as 95 tese, onde o mesmo pro-tes-ta-va contra a figura do papa e contra a venda das indulgências.

Como afirma o historiador Randell em seu livro a “Reforma Alemã” que não devemos entender a reforma apenas como algo espiritual. Embora a esfera espiritual foi o carro chefe da reforma, mas também fatores político e econômico foram de grande importância na reforma. O grito de Lutero era de fato um protesto teológico, mas que teve conseqüências econômicas, sociais e políticas relevantes. Historicamente o termo protestante nasceu em 1521 da Dieta de Worms, quando o rei Carlos V reafirma sua fidelidade estatal ao Vaticano por necessidades políticas. Os seguidores de Lutero, mais por necessidade econômicas do que teológica não gostou e protestou. Desta forma, nesta esfera nasce o terno protestante que se resume “ em um grupo de pessoas em estado de protesto contra o poder do Estado de Roma (sistema religioso e político).Devemos compreender de forma clara simples. Uma das marcas da reforma protestante é a teoria do sacerdócio universal. Essa propagada teologia dizia que cada um independente de classe social clerical, política ou econômica, pode e deve ter acesso direto a Deus. Ora, se o acesso é dado a Deus, por que também ter acesso ao voto, á decisão, ao protesto, á democracia? Não foi coincidência, portanto que o sistema religioso protestante fosse o melhor companheiro para a implantação da democracia moderna.

“Temos que educar as crianças e dissimular os adultos” Orlando Costa. Tendo esta frase como verdade expressiva, o plano de ação para aplicação da teologia relatada acima, seria primeiramente através da oração.

Em segundo lugar o discipulado, através da exposição bíblica teológica sobre os papéis éticos social da Igreja e que a prática da solidariedade se resume em dar um pouco de mim para o próximo, mas isso só e possível por aquele que sabe amar o próximo, pois aquele que ama tem misericórdia, é solidário; como enfatizou Molthann : “aquele que não pode amar não pode sofrer”. Estatística revela que o Brasil e o segundo pais do mundo no crescimento da desigualdade social, ou seja, quem é rico fica mais rico, e quem é pobre fica mais pobre. A onde existe pobreza deve ter missão integral. Mas a teologia da América Latina como enfatizou René Padilha, “ainda é muito espiritualizada ” , Leonardo Boff enfatiza “quanto mais metafísicos formos mais difícil será a manifestação Reino de Deus”.

A centralidade da missão da Igreja esta justamente na pratica da solidariedade, fazer justiça para aqueles que não tem. Isto não é um mandamento novo; isso não nasceu com Jesus, vem deste o Antigo Testamento através da Torá. Através da colocação de Neubaruer, entende-se que a “Torá está voltada para o uso do terno “hanan”, visto que as leis contidas visam uma intervenção nas relações sociais, como afirma Crusemann: “ O que temos na Torá/Lei e a manifestação concreta do evangelho e do Reino de Deus”. A lei e a expressão concreta da graça de Deus para os mais fracos”. Em relação ao contexto civil de Israel, há um conflito de interesse entre senhores e pessoas marginalizadas. Percebe-se que nas formulações das leis, há dois destinatários concretos apresentados como “tu”. Esse “tu” é o sujeito da lei. Ainda no contexto da Lei temos o que podemos chamar de “objeto da lei”, isto são pessoas forasteiras, órfão, viúvas pobres, são vistas como pessoas e grupos que devem receber o valor e a proteção da lei especifica. As leis de Deus tinham como meta promover o bem estar e igualdade social. Visto que na bíblia temos um Deus que julga, condena, permite juízo, quando existem oprimidos e injustiçados. A centralidade da mensagem dos profetas é promover a justiça, como o caso do profeta Amos, “o projeta social”.

Em terceiro lugar trazendo a sociedade/cidade para dentro da igreja. Em ternos práticos isso dar-se-ia em primeiro lugar analisando, mapeando, pesquisado, levantando os problemas da cidade, como pobrezas, injustiças, prostituição, violência, imoralidade, corrupção ao mesmo tempo conscientizando biblicamente e teologicamente a igreja diante da realidade. Tirando assim a igreja desta zona de conforto onde os protestantes estão acomodados. Parecem tranqüilo e feliz desfrutando dos benefícios do presente e das glorias do passado. Não protesta sobre nada e contra nada. Nem contra e men a favor, muitos menos pelo contrario; é o clímax da alienação religiosa como enfatizou Karl Max em seu discurso sobre o “Ópio do Povo”. E na maioria das vezes quando as igrejas se envolvem politicamente não é para protestar, não é para ser uma voz profética, mas sim para ser beneficiada.

Em quarto lugar adotar umas estratégias eclesiásticas do engajamento, que se daria em termos práticos através de parcerias com as instituições, sociais, eclesiásticas, políticas e governamentais conselhos tutelares, Ongs, fazendo parte de campanhas contra a violência, prostituição, drogas, corrupção, lutando pelos direitos humanos, meio ambientes etc. Por isso é necessário que haja uma teologia eclesiológica do engajamento, que parte da igreja para com as estruturas e organizações políticas e governamentais. Uma Igreja que esteja com a cidade e não na cidade, uma igreja portadora de uma voz profética, e que esteja conscientizada que além de ser cristão, fazem parte de uma sociedade como cidadão. E que a partir de uma consciência cristã, política, social e democrática, venham inserir valores do reino de Deus na sociedade.

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