Autor: Crystal Kirgiss
Tudo que eu queria esta manhã era uma meia hora sozinha, trinta minutos de paz e silêncio para preservar minha sanidade. Nada de mamãe-faça-isto, mamãe-preciso-daquilo, mamãe-ele-me-bateu, mamãe-derrubei-suco-no-sofá.
Apenas eu, um banho quente de espuma e nada mais. Eu não devia sonhar tão alto. Depois de enviar os dois mais velhos para a escola, coloquei o menor sentado em frente a TV e disse, -Querido, ouça com atenção.Sua mamãe vai explodir. Ela está perdendo a cabeça. Esta à beira de um ataque de nervos. Tudo isto por ter filhos. Está me entendo?
Ele acenou vagarosamente enquanto cantava, – O Barney é um dinossauro em nossa imaginação…..
-Está bem. Se você quiser ser agora um garoto bonzinho, vai ficar aqui sentado assistindo o Barney enquanto a mamãe toma um banho gostoso, quente, pacifico, relaxante. Não quero que me perturbe. Quero que me deixe sozinha durante trinta minutos. Não quero ver ou ouvir você. Certo?
Aceno.
-Bom dia, meninos e meninas… – Ouvi o apresentador dizer na televisão. Fui para o banheiro com os dedos cruzados.
Fiquei olhando a água encher a banheira. Vi o espelho e a janela ficarem cobertos de vapor. Observei a água tornar-se azul com os sais de banho. Entrei.
Ouvi uma batida na porta.
-Mamãe. Mamãe ? Você está aí, mãe?
Aprendi há muito tempo que ignorar meus filhos não faz com que vão embora.
-Sim, estou aqui. O que você quer?
Houve uma longa pausa, enquanto ele tentava decidir o que queria.
-Olhe, posso comer alguma coisa?
-Você acabou de tomar café. Não pode esperar um pouco?
-Não. Estou morrendo. Preciso comer agora!
-Está bem. Coma uma caixa de passas.
Ouvi os passos dele indo para a cozinha, ouvi enquanto puxava cadeiras e banquinhos, tentando alcançar a prateleira das passas, senti o chão vibrar quando pulou o balcão, e o ouvi correr de volta para a sala de TV.
-Oi, Susie! Você sabe de que cor é a grama?….
Toc, toc, toc.
-Mamãe? Mamãe? Você está aí, mamãe?
Suspiro. – Sim, ainda estou aqui. O que você quer agora?
Pausa.-Olhe,….eu também preciso tomar banho.
-Queridinho, você não pode esperar até que eu termine?
A porta se abriu levemente.
-Não. Preciso tomar banho agora. Estou sujo.
-Você está sempre sujo. Desde quando se incomoda com isso? A porta se abriu inteira.
-Eu preciso mesmo tomar banho, mãe.
-Não, não precisa. Vá embora.
Ele ficou de pé no meio do banheiro e começou a tirar o pijama.
-Vou entrar com você e tomar banho também.
-Não! Você não vai entrar comigo e tomar banho! Eu quero tomar banho sozinha! Quero que vá embora e me deixe em paz! – Comecei a parecer o garotinho de três anos com quem argumentava.
Ele subiu na beirada da banheira, balançando-se cuidadosamente, e disse: – Vou entrar com você, está bem, Mamãe?
Comecei a berrar, – Não! Não está bem! Quero tomar banho sozinha! Não quero dividir! Não quero ninguém comigo!
Ele pensou um pouco e disse, -Tudo bem. Vou só sentar aqui e você pode ler um livro pra mim. Não vou entrar, mãe, até que você acabe. –Deu-me um sorriso charmoso, de derreter corações.
Passei então minha manhã-sozinha lendo, Um Peixinho, Dois Peixinhos, para um garotinho nu sentado na borda da banheira, com o queixo apoiado nos joelhos, os braços em volta das pernas curvadas, um sorriso leve nos lábios.
Por que lutar? Não demora muito até que eu tenha todo o tempo-a-sós que quiser. E irei então provavelmente sentir falta de não ter mais tempo juntos.
Extraído do livro Histórias para o Coração da Mãe.
…Tomar a decisão de ter um filho , é importante. É decidir para sempre ter o coração andando do lado de fora do seu corpo
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