Autor: Jaqueline Schneider
Hoje acordei com aquela sensação que de vez em quando bate à porta de nossa humana existência para soprar aos nossos ouvidos que somos mortais. Mas ao contrário do que alguns poderiam pensar, esta não foi uma sensação triste, foi antes como se uma espiral de nova vitalidade percorresse o meu corpo e com voz suave e firme me chamasse para singularidade de cada dia vivido e de cada experiência sentida. Fui tomada pela sensação de descortinar-me, ou seja, de deixar a vida em toda a sua força pulsar dentro deste meu ser que por ser templo do espírito também é sagrado. Levantei-me da cama e fui contemplar o dia, não como quem espia sorrateiramente por detrás da janela, mas como quem percebe que o mundo a sua volta é tão seu quanto da mais pequenina borboleta que entre uma flor e outra busca o néctar para nutrir a sua existência e que sem perceber se torna portadora de vida para outras tantas flores que desabrocham por terem sido polinizadas pelo toque suave de suas pequeninas e ágeis patinhas.
Acordei sedenta e tranqüila. Sedenta por degustar a vida como um presente divino que só pode ser recebido. Tranqüila por saber que para viver não se precisa ter pressa, somente profundidade.
Acordei livre e alegre. Livre porque quem tem olhos para contemplar o invisível percebe no visível, no corriqueiro, no humano, na natureza expressões magníficas da ternura e da compaixão do nosso Criador. Alegre porque descobri há tempo que uma existência feliz não é aquela onde se encontrou todas as respostas, mas sim aquela que faz da pergunta o estímulo para a descoberta e que compreendeu que a vida sem o mistério seria como um quebra cabeças sem as suas peças mais coloridas.
Hoje acordei com a expectativa renovada de redescobrir o valor de cada palavra, sensibilizada para sentir o mundo à minha volta. Encorajada para expressar o meu carinho por cada pessoa de minha família…(mesmo que morem à uma porção de quilômetros longe de mim e ainda que eu os veja muito raramente), por cada ser humano que passe pelo meu caminho.
Acordei com gratidão pelos dias idos…e o rio que corre diante da minha janela sempre de novo me ensina que a vida segue sempre adiante. Algumas vezes mais depressa, quando a chuva que rega a terra faz inchar o volume das águas e as margens se tornam estreitas demais…outras vezes, mais lentamente, quando o turbilhão cessa, o volume das águas diminui e ao rio resta a leveza de uma tranqüila, tênue e contínua corrente a caminho do mar.
Acordei com o desejo de simplicidade. Com a esperança refeita e com a certeza de que a vida só tem sentido quando centrada no amor e no desejo mais profundo de recobrar a fé na humanidade. Ou você acha que Deus não sabia o que estava fazendo quando nos trouxe a vida ou que Ele havia perdido a razão ao perceber após cada dia da criação que tudo, tudo o que Ele havia criado era muito, muito bom?
“Vital é redescobrirmos os laços humanos que nos tornam a todos uma grande e mesma família.” Amém!
* Jaqueline Schneider é teóloga e pastora da IECLB em Resende
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