Autor: Alcione Alves do Nascimento
Desde o início, manifestaram-se diferenças básicas nas maneiras em que a fé cristã foi encarada no Ocidente e Oriente. Estas diferenças revelam-se claramente nos conflitos teológicos dos séculos quarto e quinto, quanto a questão da Salvação que envolve os dois fatores, o pecado e a graça, as controvérsias foram maiores nos séculos quarto a sexto, questão que contribuíram sensivelmente para a ruptura dentro da Igreja Ocidental do Século dezesseis.
A questão não foi se Cristo salva o homem do pecado; Cristo redimiu o homem do pecado, mas qual a parte dos homens, agora, na apropriação desta salvação? Qual a natureza do pecado, e até que ponto ele influencia o homem? E, partindo de Deus, qual a natureza da graça? A salvação do homem é determinada, em última análise, pela graça divina? Ou por algo no homem? A História eclesiástica mostra como se pode confessar Cristo como único Salvador do pecado e, ao mesmo tempo, cair no moralismo, ainda hoje os teólogos preocupam-se muito com diversas questões teológicas, e falta-lhes ainda um conceito profundo a respeito do pecado e da graça. Pelágio, natural da Bretanha, um leigo muito capacitado e de gênio prático, sistematizou as opiniões que haviam sido pronunciadas a respeito do pecado e a graça, considerava-se a si mesmo totalmente ortodoxo, mas foi atacado por Agostinho, que o julgava herege. Pelágio, cuja maior preocupação não eram as doutrinas, mas a vida diária do Cristão, foi contestado por Agostinho, um dos maiores pensadores em toda história da Igreja. Os conceitos de pecado e da graça forma aprofundados por este expoente, quer foi bispo de Hipona no litoral africano. Para Pelágio, Adão era somente um mau exemplo; todo homem começa sua vida semelhante a Adão no Éden, sendo espiritualmente São, a salvação vai depender somente dele mesmo, ou seja não havendo herdado a natureza corrupta de Adão, a vontade tem que ser livre, o que demonstra que ele baseou-se na razão humana, ou seja na lógica: Deus só pode pedir o que o homem pode fazer. Pelágio fundamentou o seu pensamento que o batismo serviu para apagar todo e qualquer pecado anterior, comprometendo o cristão não incorrer em novos pecados, portanto, ensinou a possibilidade de viver uma vida isenta e pecados. Para Pelágio, a graça, significa não somente o perdão dos pecados, mas também os fatos do homem ser dotado da vontade livre racional, e de Deus o homem herdou a lei, portanto, o homem que é salvo por si mesmo.
Mas, Agostinho contrapôs-se a Pelágio afirmando que o homem diante de Deus está morto. E, em virtude deste fato, a salvação só pode ser realização de Deus. Somente Deus é capaz de libertar o homem da sua escravidão do pecado que é um ato incidental da livre vontade. Adão, inicialmente, possuía uma vontade livre, inclinada para o bem; aceitando a assistência graciosa de Deus ele era capaz de preservar no bem, isto é podia não pecar, era livre, mas pecou, e como conseqüência deste triste fato, seus descendentes não nasceram não livres, tendo suas vontade corrompidas que se manifesta como um anseio por novos pecados. É Deus quem salva, não simplesmente torna a salvação possível, mas salva mesmo, renovando soberamente a vontade humana. É fácil compreender como Agostinho é conduzido a afirmar a predestinação divina, pois seria só assim que explicaria como um homem, espiritualmente morto, cuja vontade é escravizada pelo pecado, pode ser salvo.
Mas entre Agostinho e Pelágio, surgiu um meio-termo, o semi-pelagianos, discordavam de Pelágio e de Agostinho ao afirmar que o homem, diante de Deus não está nem morto nem São, mas doente; a vontade, apesar de enfraquecida, continua livre. Para ser salvo, pois, o homem deve aceitar a graça que Deus lhe proporciona, assim a salvação é o resultado de uma cooperação entre Deus e o homem. Quem vai cooperar com Deus é conhecido de antemão, portanto a idéia de predestinação também foi aceita pelos semi-pelagianos.
Uma espécie de semi-agostinianismo tornou-se doutrina oficial da Igreja. Orange deixou claro que, na salvação, e a graça que goza de primazia, graça que não simplesmente coopera, mas que toma a iniciativa, mas desde que a vontade humana não é morta, e sim, apenas enfraquecida, o homem pode resistir a graça, assim a graça irresistível ensina por Agostinho foi abandonada, segundo Orange é pelo batismo que o homem recebe a graça,, graça que o capacita para, em cooperação com Cristo, fazer tudo o que é necessário para a sua salvação. A Igreja oficializou uma doutrina que se situa entre agostinianismo e o semi-pelagianismo ou seja semi-agostinianismo que prevaleceu em toda a Igreja medieval. Esta linha teológica fora seguida por doutores como: Pedro Lombardo, Anselmo e Tomás de Aquino, e no Século dezesseis pelos reformadores.
Em 1604 iniciou-se uma controvérsia entre dois professores na Universidade de Leyden, na Holanda: Jacó Arminius e Franz Gomarus. Arminius criticou o ensino de Gamarus a respeito da predestinação. Este último, como os calvinistas em geral, ensinava que a predestinação divina não leva em conta nada da parte do homem, mas é incondicional, enquanto que Arminius afirmava que a predestinação pressupõe a fé da parte do homem, ou seja a predestinação é condicional. Para tratar desse polêmico assunto foi convocado um Sínodo Nacional da Igreja Reformada, em Dort, no Sul da Holanda, que condenou a doutrina da predestinação condicional de Arminius. Alcionismo!!!
Todos são chamados à salvação. Vivo Eu, diz o Senhor Deus, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos. Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Ide, pois, às saídas dos caminhos, e convidai para as bodas a todos os que encontrardes. Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. E Eu, quando for levantado da terra, Todos atrairei a mim. Deus quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade. Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens. O Senhor não retarda a Sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se. e quem quiser, tome de graça da água da vida.
Deus chama todos ao arrependimento. Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados. E fé. crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e tua casa.
Deus chama paulatinamente, cada vez mais fortemente através: da criação, da consciência, da Palavra, dos crentes, do Espírito Santo; as vezes pela Sua bondade, as vezes trazendo julgamento. Se o homem se endurecer durante o chamamento, Deus pode parar definitivamente de chamá-lo; se o homem atender a um nível de chamamento, Deus o levará a outros níveis superiores.
Todos são habilitados para Salvação. Deus, ao chamar o homem para a salvação, o habilita a atender a benignidade de Deus que leva ao arrependimento. Porque Deus é o que opera em nós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade. É por isso que podemos pregar exortando a todos os pecadores a receberem Cristo, e o fazemos…
O problema não é o homem poder ou não poder salvar-se, mas sim querer ou não querer salvar-se. Estamos perfeitamente de acordo, só com uma ressalva. Por que razão não quererão alguns a salvação? Na verdade, embora a frase seja bonita e constitua até um êxito retórico, nada acrescenta ao problema de fundo, pois o que a Bíblia ensina é que o homem não quer, nem na verdade pode querer seja o que for que agrade a Deus enquanto estiver na carne, isto é, escravizado pelo pecado. Além disso, não quer salvar-se porque não compreende, nem pode compreender com a sua mente natural, as coisas de Deus, visto estas só se tornarem compreensíveis pelo Espírito Santo de Deus. Assim, só pela soberana intervenção do Espírito de Deus o pecador será convencido do seu pecado e, libertada a sua vontade, quererá também voltar-se para Deus em arrependimento e fé.
Alcione Alves do Nascimento
Teólogo e Filósofo.
Allan40_@hotmail.com
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