Pesca e frustração

Autor: Juarez Marcondes Filho

A pescaria tornou-se uma grande opção de lazer. Milhões de pessoas buscam nesta atividade um pouco de descanso, um modo de vencer o estresse, independentemente dos resultados em termos de peixes. Esta, no entanto, não é a realidade de um grande exércitos de cidadãos no Brasil e no mundo que vive da pesca e, particularmente, da pesca artesanal. Passam grande parte do dia, ou da noite, no mar ou nos rios, para obter o seu ganha-pão. O êxito da empreitada traz profunda alegria. Mas um resultado negativo provoca uma grande frustração.

Foi justamente assim que Jesus deparou-se numa manhã com alguns pescadores. O relato encontra-se em Lucas 5.1-11. Sua atividade tinha lugar nas dadivosas águas do Mar de Tiberíades, também conhecido como Lago de Genesaré ou Mar da Galiléia. Jesus ainda não havia formado a sua equipe de trabalho, ou seja, não havia convocado os “doze”, mas a sua fama já se tornara bem considerável. E de tal maneira assim o era que Jesus viu-se espremido pela multidão e, acabou improvisando um púlpito justamente no barco de Pedro.

Não temos a síntese da mensagem daquela manhã. Talvez, proclamando o Reino, Jesus tivesse falado sobre frustrações que temos na vida, ou como podemos resolver os nossos problemas quando tudo vai mal. Impossível saber. O que temos muito claro é que terminada a mensagem, Jesus passou a realizar um trabalho eminentemente pastoral com Pedro. E isto fez toda a diferença em sua vida. O mesmo acontece conosco: mais importante do que o sermão dominical que ouvimos atentamente, é o que Jesus passa a trabalhar em nossos corações de um modo muito pessoal.

As palavras de Cristo foram claras e objetivas: “faze-te ao largo, e lançai as vossas redes” (v. 4). Em princípio, pode ter soado como brincadeira do Mestre (brincadeira de mau gosto). Depois, Pedro deve ter imaginado que Jesus quisesse efetivamente ajudá-lo, mas definitivamente, Jesus não entendia nada de pescaria, afinal, aquele não era um dia bom para pescar. Mas enquanto pensava nestas possibilidades, lembrou-se da pregação que acabara de ouvir e acabou respondendo de um modo extremamente recomendável: “Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos, mas sob a tua palavra lançarei as redes” (v.5).

A frustração de Pedro começou a ser vencida com o exercício da fé. Fé que é “a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem” (Hebreus 11.1). Pedro não viu os peixes naquela madrugada e ficou frustrado. Agora, ele também não viu os peixes, mas creu na palavra de Jesus e começou a vencer a sua frustração. A fé é só o princípio, mas é fundamental, pois “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hebreus 11.6). “Sob a tua palavra”, não sob as circunstâncias positivas, não sob a possibilidade de bons resultados. É preciso dar crédito à palavra de Cristo, acima de qualquer outra orientação.

Mas a resposta de Pedro esconde outro exercício que é a prática da obediência. Tivesse Pedro exercitado a fé, mas não tivesse efetivamente lançado as redes, a frustração teria pemanecido em seu coração. Com muitos acontece justamente isto; vão até o ponto de professar a fé, mas não se constituem em fiéis obedientes. Pedro poderia alegar um certo cansaço àquela hora do dia, sugerindo uma nova tentativa no dia vindouro, mais ou menos nos seguintes termos: “Mestre, eu verdadeiramente creio em ti, mas vamos deixar para amanhã esta pescaria”. Assim, tem sido a vida de muitos crentes; não têm dúvida nenhuma a respeito do poder e da graça de Deus; somente, não desejam aplicar isto agora em sua vidas, deixando para mais tarde. E aí a frustração permanece em seus corações.

O resultado da fé e da obediência foi fabuloso em termos de peixes: dois barcos abarrotados. Mas o trabalho de Cristo com Pedro não havia terminado, ainda. O atendimento de necessidades materiais, profissionais, não era o todo da questão. Faltava, ainda, o compromisso com o Reino de tornar-se pescador de homens.

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