Autor: Autor Desconhecido
Nossos Guardiães Celestiais
Gênesis, 19-20
À tarde chegaram os dois anjos a Sodoma, quando Lot estava sentado às portas da cidade. E ele, tendo-os visto, levantou-se, e foi ao seu encontro…
Hierarquia dos Anjos
Alguns Santos Papas da Igreja distinguiram três grupos divididos em três hierarquias, e cada hierarquia em três coros:
• Os Serafins, os Querubins e os Tronos
• As Dominações, as Virtudes e as Potestades
• Os Principados, os Arcanjos e os Anjos
A distinção dos anjos em nove coros, agrupados em três hierarquias diferentes, mesmo que não conste explicitamente na Revelação, é de crença geral.
Essa distinção é feita em relação a Deus, na condução geral do mundo, ou na condução particular dos Estados, das companhias e das pessoas.
Os três coros da primeira hierarquia, glorificam a Deus, como diz a Sagrada Escritura:
“Vi o Senhor sentado sobre um alto e elevado trono… Os Serafins estavam por sobre o trono… clamavam um ao outro e diziam: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos exércitos (Is. 6, 1-3). “O Senhor reina… está sentado sobre querubins” (Sl. 98, 1).
Os três coros inferiores aos acima enunciados estão relacionados com a conduta geral do universo. E os três últimos Coros dizem respeito a conduta particular dos Países, das instituições e das pessoas.
Os 9 Coros Angélicos, agrupados em três hierarquias
• Serafins – do grego “séraph”, abrasar, queimar, consumir. Assistem ante o trono de Deus* e é seu privilégio estar unidos a Deus de maneira mais íntima, nos ardores da caridade.
• Querubins – do hebraico “chérub”, que São Jerônimo e Santo Agostinho interpretam como “plenitude de sabedoria e ciência”. Assistem também ante o trono de Deus, e é seu privilégio ver a verdade de um modo superior a todos os outros Anjos que estão abaixo deles.
• Tronos – algumas vezes são chamados “Sedes Dei”, (Sejas de Deus). Também assistem ante o trono de Deus, e é sua missão assistir aos Anjos inferiores na proporção necessária.
• Dominações – São assim chamados porque dominam sobre todas as ordens angelicais encarregadas de executar a vontade de Deus. Distribuem aos Anjos inferiores suas funções e seus ministérios.
• Potestades – ou “condutores da ordem sagrada”, executam as grandes ações que tocam no governo universal do mundo e da Igreja, operando para isso prodígios e milagres extraordinários.
• Virtudes – cujo nome significa “força”, são encarregados de eliminar os obstáculos que se opõem ao cumprimento das ordens de Deus, afastando os anjos maus que assediam as nações para desviá-las de seu fim, e mantendo assim as criaturas e a ordem da Divina Providência.
• Principados – Como seu nome indica, estão revestidos de uma autoridade especial: são os que presidem os reinos, as províncias, e as dioceses; são assim denominados pelo motivo de que sua ação é mais extensa e universal.
• Arcanjos – São enviados por Deus em missões de maior importância junto aos homens.
• Anjos – Os que têm a guarda de cada pessoa em particular, para desviá-la do mal e encaminhá-la ao bem, defendê-la contra seus inimigos visíveis e invisíveis, e conduzi-la ao caminho da salvação. Velam por sua vida espiritual e corporal e, a cada instante, enviam as luzes, forças e graças que necessitam.
(*) “Assistir” ante o trono de Deus tem dois significados: um é quando recebem Suas ordens; quando Lhe oferecem as orações, boa obras e votos dos mortais; quando defendem contra os demônios as causas das pessoas no Tribunal Supremo; quando fixam seu olhar nos raios da luz divina para perceber as delícias inefáveis que constituem sua felicidade. “Neste último sentido, todos os Anjos, sem excetuar nenhum, são “assistentes diante de Deus”, porque todos gozam, sem interrupção, da Visão Beatífica, inclusive quando se ocupam do desempenho de alguma missão no governo do mundo. Porém, em outro sentido estrito, a expressão “assistir ante o trono de Deus designa os Anjos da primeira hierarquia, e que não podem ser empregados nos ministérios exteriores” (cfr. Corn. A Lapide, in Tob. XII, 15; apud Mons. Gaume, Tratado del Espíritu Santo, Granada, Imp. Y Lib. Española de D. José Lopez Guevara, 1877, p. 137 ).
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São Tomás de Aquino (1225-1274), este grande e indiscutível mestre de teologia, autor de tantos escritos filosóficos e teológicos, na sua obra fundamental Summa Theologica, dedicou grande atenção aos anjos e a todas as questões teológicas ligadas a eles. Falou com tanta acuidade e profundidade e soube exprimir-se de modo tão convincente e sugestivo que seus contemporâneos atribuíram-lhe o epíteto de Doctor Angelicus, Doutor Angélico.
São Tomás afirma que a natureza dos anjos é puramente imaterial e espiritual, que seu número é incalculável e eles têm graus diferentes de sabedoria e perfeição, estando subdivididos em hierarquias. Os anjos nem sempre existiram. Eles foram criados por Deus, talvez antes do mundo material e do homem. São dotados de livre-arbítrio e é exatamente por causa dele que uma parte cai no pecado da soberba, do orgulho e da inveja, tornando-se anjos decaídos, demônios incapazes de amar a Deus e ao homem criado por Ele. Tomás de Aquino, portanto, estava perfeitamente habilitado para explicar o problema dos anjos, falar de sua natureza, de sua missão. Ele dedicou aos anjos as questões 50 a 64 da Summa Theologica I.
Quase todas as páginas da Bíblia atestam a existência desses puros espíritos. Basta recordar os querubins que guardam o Paraíso terrestre (Gn 3,23), os três anjos que aparecem a Abraão (Gn 18,19 etc.), o arcanjo Rafael, que acompanha Tobias e o liberta (Tb 5,1ss.), o arcanjo Gabriel, que anuncia a Encarnação do Verbo, os anjos que anunciam o nascimento de Jesus aos pastores, a sua Ressurreição (Lc 1; 9,28; 24,4ss. e par.), os inúmeros anjos do Apocalipse (1; 11; 8,4ss.). O termo arcanjo só aparece em São Judas e 1Tes., 4, 15; porém São Paulo nos dá outras duas listas de nomes das cortes celestiais. Nos diz (Ef 1, 21) que Cristo está “por cima de todo Principado, Potestade, Virtude, Dominação”; e, escrevendo aos Colossenses (1, 16), diz: “porque nele foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, os Tronos, as Dominações, os Principados, as Potestades”. Há que assinalar que São Paulo usa destes nomes para mostrar tais poderes quando (2, 15) diz que Cristo havia “despojado os Principados e as Potestades… incorporando-os a seu cortejo triunfal”. Baseando-se na Escritura e na Tradição, a Igreja definiu como “verdade de fé” não apenas a existência dos anjos, mas também a sua criação. Na Bíblia fala-se muitas vezes de fileiras inumeráveis, de imensos exércitos celestes. Tudo isso faz pensar numa ordem, numa hierarquia celeste, no topo da qual se reconhece o arcanjo São Miguel (Ap 12,7-9).
Em Daniel 10, 12-21 vários anjos estão designados a vários lugares, e que os chama seus príncipes, e esta mesma situação reaparece de maneira mais notável no Apocalipse “os anjos das sete Igrejas”, contudo é impossível dizer o significado preciso deste termo. Geralmente estes sete Anjos das Igrejas são considerados os Bispos que ocupam estas sedes. São Gregório Naziazenzo em sua carta aos bispos em Constantinopla em duas ocasiões diz “Anjos”, segundo o idioma do Apocalipse.
O tratado “De Coelesti Hierarchia” atribuído a São Dionisio Areopagita, e que exerceu uma grande influência entre os escolásticos, trata com muitos detalhes as hierarquias e ordens dos anjos. Geralmente se considera que este trabalho não pertence a São Dionisio, e que foi escrito alguns séculos depois. A seguinte passagem de São Gregório Magno (Hom. 34, em Evang.) nos dá uma idéia clara do ponto de vista dos doutores da Igreja acerca deste ponto:
Sabemos pela autoridade da Escritura que existem nove ordens de anjos: Anjos, Arcanjos, Virtudes, Potestades, Principados, Dominações, Tronos, Querubins e Serafins. Que existem Anjos e Arcanjos quase todas as páginas da Bíblia nos diz, e os livros dos Profetas falam de Querubins e Serafins. São Paulo, também, escrevendo aos Efésios enumera quatro ordens quando diz: “sobre todo Principado, Potestade, Virtude, e Dominação”; e em outra ocasião, escrevendo aos Colossenses diz: “nem Tronos, Dominações, Principados, ou Potestades”. Se unirmos estas duas listas, teremos cinco Ordens, e agregando os Anjos e Arcanjos, e Serafins, teremos nove Ordens de Anjos.
São Tomás (Summa Theologica I:108), seguindo São Dionisio (De Coelesti Hierarchia, VI, VII), divide os anjos em três hierarquias cada uma das quais contém três ordens. Sua proximidade ao Ser Supremo serve como base para esta divisão. Na primeira hierarquia estão os Serafins, Querubins, e Tronos; na segunda, as Dominações, Virtudes, e Potestades; na terceira, os Principados, Arcanjos, e Anjos. Os únicos nomes que nos dão as Escrituras de anjos em particular são os de Rafael, Miguel, e Gabriel, nomes que significam seus atributos. Os livros judeus apócrifos, como o Livro de Enoc, nos dão o de Uriel e Jeremiel, enquanto que outras fontes apócrifas nos dão muito mais, como por exemplo Milton em seu “Paraíso Perdido”.
Nas Sagradas Escrituras, alguns dos Anjos têm nomes próprios: O do Arcanjo Miguel é mencionado pelo Profeta Daniel, Ap. Judas e no Apocalipse (Josué 5:13, 12:1; Jud. 9; Apoc. 12:7-8). O nome Miguel, em hebraico, significa “Quem senão Deus?” Nas Escrituras Ele é Chamado “chefe do Exército do Senhor” e é representado como principal Guerreiro contra o diabo e seus seguidores. Habitualmente é representado com uma espada de fogo na mão. O nome Gabriel significa “Forte de Deus”. O menciona o Profeta Daniel e o Evangelho de Lucas (Dan. 8:16; 9:21 e Luc. 1:19-26). Nas Escrituras é representado como mensageiro de Mistérios Divinos. Aparece com um ramo do Paraíso na mão. Nas Escrituras se nomeiam três Anjos mais Rafael – “Ajuda de Deus” (Tov. 3:16; 12:12-15); Uriel – “Fogo de Deus” (3 Ezdra 4:1, 5:20); Sela-fiel – “O que ora a Deus” (3 Ezdra 5:16). Qual é a finalidade dos Seres do mundo espiritual? Aparentemente eles são criados para serem perfeitos reflexos da Grandeza e da Glória de Deus, compartilhando Sua Bem aventurança. Sobre o céu visível se disse: “Os céus farão saber a Glória de Deus”.
Querubins e Serafins
Dois termos de não fácil interpretação para designar os seres entre os que se encontra Deus são os de «querubim» e «serafim». Os serafins aparecem unicamente no capítulo 6 de Isaías rodeando o trono de Deus e servindo-lhe de ministros. O significado etimológico do termo talvez tenha que ver com o hebraico srf e poderíamos traduzi-lo em conseqüência como «os ardentes». São descritos providos de rosto e pés humanos ao mesmo tempo que com seis asas. Com quatro delas se cobrem o corpo e com as duas restantes voam, indicando assim provavelmente a prontidão com que servem a Javé.
Os querubins, que a partir do arcaico karabú havia que interpretar como «os poderosos», aparecem no Antigo Testamento muito freqüentemente para indicar o lugar em que se encontra Javé, o lugar em que habita nesta terra. Javé se senta «entre» ou «sobre» os querubins. São os querubins que custodiam a Arca da Aliança (cf. Ex 25,18; 1 Re 6,23; 2 Cor 5,8). Devemos considerar a Arca da Aliança como o assento que se encontra Javé. Por isso se conserva nela o livro da Aliança do mesmo modo como os reis guardam sob o trono os exemplares de seus tratados e alianças. Os querubins são representados originalmente na forma humana, só que, providos de asas. Estes querubins, guardiães da Arca da Aliança “entre» ou “sobre» os quais se encontra a presença de Javé no Sanctum Sanctorum do templo de Jerusalém, são uma representação terrena da morada celestial de Deus. Deus está sentado no céu sobre os querubins e sobre eles viaja (cf 2 Sam 22,11 e Sal 18,11) e é assim como aparece a Ezequiel (Ez 29,3; Sir 49,8). Javé os utiliza também como servidores. Deus colocou um querubim com espada flamejante na porta do Paraíso para impedir a entrada do homem até a árvore da vida (Gn 3,24).
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