Onde você estava?

Autor: Pr. Paulo Cesar Ramalho
Nesta noite eu tive um sonho. Sonhei que estava andando pelas ruas da cidade em uma das noites de carnaval. O som das músicas era ensurdecedor. As pessoas estavam como que em transe, pulando e dançando freneticamente. De repente, comecei a encontrar pessoas desnorteadas e abatidas. Não conseguia entender o que se passava com elas. Apesar de jovens, andavam como se estivessem muito cansados e sem esperança.
Conversei com uma jovem. Ela mal olhava para mim. Seu rosto estava molhado por suas lágrimas. Ela me contou que havia sido abusada sexualmente por um “amigo” que havia lhe dado bebida misturada com remédios, que lhe tiraram a consciência. Temia ficar grávida ou pegar alguma doença. Só o que sabia fazer era chorar. Pedia ajuda, mas ninguém queria lhe dar atenção. Inconformada com a indiferença das pessoas, ela se foi atrás de novas aventuras e desesperanças.
Mais à frente, encontrei um jovem sentado na sarjeta. Seus olhos estavam vermelhos e sua voz estava fraca. Sentei-me ao seu lado, mas ele nem se mexeu. Após algum tempo ele me pediu algum dinheiro para comprar um pouco de droga. Disse-me que estava a dias se dopando e que agora não tinha mais dinheiro para comprar “pó”. Disse que queria se livrar daquela vida, mas não havia ninguém que lhe desse a mão. Como ninguém foi ajudá-lo, uniu-se a um grupo de viciados que passava e logo estava novamente se drogando.
Continuei minha caminhada e logo encontrei uma mulher andando desesperada pelas ruas. Ela me disse que estava à procura de seu marido. Naquela noite ele havia bebido muito e saído para as ruas a fim de aproveitar a alegria da festa. A mulher estava preocupada pois o marido levara para a rua todo o dinheiro das despesas da família e ela temia que ele gastasse tudo nas farras, deixando a mulher e os filhos passando fome em casa. Queria ajuda, mas ninguém lhe dava atenção. Inconformada, ela passou em um bar e passou a se embriagar e a festejar com os presentes, deixando seus filhos ainda mais desamparados.
Aquilo tudo me fez ficar perturbado. Onde estariam aqueles que poderiam dar algum tipo de ajuda para aquelas pessoas? As ruas estavam cheias de pessoas fazendo coisas erradas. Onde estariam os filhos de Deus? Enquanto os bares e clubes estavam lotados, as igrejas estavam vazias, de portas fechadas. O que teria acontecido?
De repente, fui levado para um lugar muito bonito, onde havia uma música muito agradável. Percebi que era um retiro de jovens cristãos. Mas algo me chamou a atenção. Havia ali muitos jovens com expressões parecidas com a dos que havia encontrado nas ruas. Alguns demonstravam estar contrariados. Contaram que estavam ali por ordem dos pais que queriam tirá-los do meio da bagunça do carnaval. Todavia, apesar de estarem ali, suas mentes estavam nas ruas. Desejavam estar se drogando e se prostituindo, mas como não podiam fazer isso, ficavam o tempo todo bagunçando, sem prestar a atenção em nada do que se falava ou se cantava, à espera de uma oportunidade de fazer alguma coisa errada. Outros haviam substituído os bailes pelos momentos de cânticos do encontro. Usavam as canções para extravasar seus sentimentos, sem pensar em momento algum em louvar a Deus. Foram até lá apenas para encontrar alguém para “ficar” por algum tempo, sem compromisso e sem amor próprio. Apesar de estarem cercados de pessoas de bem, parece que ninguém percebia o que se passava com eles. Na verdade, ninguém se importava com eles. Só os criticavam pelo fato de fazerem bagunça, mas ninguém sentou-se ao seu lado para saber o que se passava nos seus corações. Estavam mais preocupados em “louvar a Deus” do que em estender suas mãos para aqueles jovens tão carentes de tudo, principalmente de amor.
Sai dali e fui levado para a praia. Novamente encontrei alguns cristãos aproveitando as maravilhas que Deus criou. Após meses de trabalho e estudos, aproveitavam o feriado para descansar alguns dias longe da bagunça da cidade. Mas eles nem percebiam que perto deles haviam muitas pessoas desesperadas para conhecer o amor de Deus. Mas como ninguém lhes mostrava o caminho para Deus, preferiram buscar ajuda dos macumbeiros que estavam na praia oferecendo suas oferendas ao “exús”, sob os olhares críticos dos cristãos, que continuavam sentados em suas cadeiras de praia, bebendo seus refrigerantes e aproveitando da linda paisagem.
Foi nesta hora que ouvi atrás de mim uma voz que dizia: “Quem vai fazer alguma coisa em favor destas pessoas que estão se perdendo?” Quando olhei para trás, vi um Homem com um olhar muito triste. Suas mãos e pés traziam as marcas de pregos que os traspassaram. Sua testa estava toda perfurada por espinhos. Suas costas estavam marcadas pelas chicotadas que levara. Ele olhou para mim com olhar de ternura, mas também com severidade. Disse-me que estava desapontado com a maioria dos Seus filhos. Ele havia feito tudo o que era necessário para libertá-los, mas agora eles estavam mais preocupados consigo mesmos do que em ajudar outros a se libertarem dos males que os oprimiam. Disse-me também que não aceitava os louvores cantados, pois o verdadeiro louvor consiste em fazer a vontade do Pai, e eles não queriam fazer isso.
Eu estava paralisado. Não conseguia nem ao menos falar qualquer coisa. Temia o que Ele poderia ainda me dizer. Conhecendo minhas preocupações, Ele me mostrou que nem tudo estava perdido. Levou-me novamente para as ruas onde me mostrou uns poucos cristãos evangelizando. Apesar de sofrerem muitas zombarias por parte das pessoas da rua, eles não desistiam de sua missão e começavam a atrair para perto de si alguns daqueles que estavam se perdendo, mostrando-lhes que existe um Deus de amor que pode dar a alegria permanente aos Seus filhos. Levou-me depois para o retiro, onde vi que alguns jovens haviam decidido sair de suas “panelinhas” para ajudar aqueles que estavam ali completamente desnorteados. Depois me levou também para a praia, onde pude ver alguns cristãos se levantando e falando do amor de Deus àqueles que faziam suas oferendas, mostrando que o Senhor já nos deu a oferenda maior, ou seja, o amor de Seu Filho Jesus Cristo.
Foi ai que eu acordei e percebi que tudo não passara de um sonho. Mas será que foi mesmo um sonho? Não será esta a realidade de muitos filhos de Deus hoje? Não estaremos nós procurando mais aquilo que nos agrada do que a vontade de Deus?
Aquela pergunta do Senhor para mim no sonho um dia será feita para nós no céu. Jesus vai nos perguntar: “Onde você estava quando Eu coloquei no seu caminho pessoas que precisavam conhecer o Meu amor? O que você fez por todos aqueles que pediram a sua ajuda?”
Pense nisso e, se perceber que tem falhado, peça perdão a Deus e coloque-se nas Suas mãos, a fim de que Ele o ajude a levar o Seu amor a todos quantos precisam d’Ele.
“Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim” – Isaías 6:8

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