Autor: Sérgio Fonseca Cruz
“Por que me mostras a iniqüidade e me fazes ver a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim…” (Hc 1:3). Estas palavras do profeta Habacuque traduzem com fidelidade o contexto em que vivemos – quer seja no mundo de forma geral, quer seja em nosso país de forma mais específica. Na semana passada quem não ficou sensibilizado com aquele incidente na Rússia, envolvendo a vida de centenas de pessoas, que culminou na morte de adultos e crianças, como resultado de uma cruel ação terrorista? Como têm sido difíceis os dias nas grandes metrópoles do nosso país, no que diz respeito à segurança pública. Andamos atentos nas ruas, blindamos os carros, fechamos os vidros no trânsito, desconfiamos daqueles que se aproximam de nós, há um aumento no quadro de fobias sociais… Vivemos uma espécie de paranóia urbana. Não é a toa que muitas pessoas têm escolhido viver nas cidades interioranas, num ritmo menos frenético e menos exposto a violência dos grandes centros urbanos.
Semana passada eu ouvi um testemunho maravilhoso do socorro e proteção divina na vida de um homem de Deus. Ele, ao dirigir-se para o seu trabalho, foi seqüestrado por engano. Chegando no cativeiro o líder dos seqüestradores percebeu que eles haviam seqüestrado o homem errado. Foi quando alguém disse: “É fácil… agente dá um teco no coroa e joga ele numa vala”. A vítima por sua vez se mantinha calma e orava incessantemente com base no salmo 121:1-2 que diz: “Elevo os meus olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra.” Por volta das duas horas da madrugada disseram-lhe: “Vamos dar uma volta”. Após circularem de carro por um tempo, os seqüestradores pararam e disseram à vítima que esperasse quinze minutos e tirasse a venda, pois encontraria seu carro em tal lugar. Um deles fez questão de dizer: “Você foi salvo por Deus”. Ele respondeu: “Eu sei”. Quando o seqüestrado chegou no lugar designado pelos bandidos, encontrou o carro aberto, documentos, talões de cheque e a sua Bíblia aberta no salmo 121.
Apesar da falta de segurança pública, da sensação de caos reinante presente em nossa sociedade, de um possível sentimento de insegurança diante do atual contexto social e das balas perdidas, precisamos nos valer das palavras do salmista no versículo 5 do referido salmo: “O Senhor é quem te guarda; o Senhor é a tua sombra à tua direita”. A semelhança do salmista é a partir da nossa relação com Deus que nós poderemos resgatar confiança para viver; experimentar segurança em meio ao caos social; desfrutar do cuidado e da proteção divina, já que estes são uma constante em nossa vida; em Deus é possível reencontrarmos equilíbrio e saúde emocional diante de uma sociedade adoecida, sintomática e fóbica. Apartados do Senhor, nos tornaremos prisioneiros de nós mesmos e reféns dos nossos medos e das nossas inseguranças.
Contudo, a nossa fé em Deus não pode ser confundida com uma postura conformista e alienada em relação a este “estado de coisas” que percebemos no cotidiano social. Enquanto cidadãos responsáveis que somos devemos pressionar o Estado; é fundamental exercermos de forma consciente o nosso papel diante das urnas ao votar; precisamos utilizar os instrumentos devidos para exercermos pressão política que redunde em segurança, saúde, educação, alimentação e dignidade para todo povo brasileiro. Meu irmão (ã), pode ficar tranqüilo: eu não sou candidato a nada! Sou apenas um cidadão como você – se é que você partilha desta santa indignação.
Que o Senhor nos abençoe e nos guarde de todo mal ao qual nos vemos expostos no dia a dia. Mas que ele nos livre também do mal da indiferença em relação aos que choram, aos que sofrem, aos que morrem por falta de oportunidades, aos que nada tem.
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