O Senhor é o meu pastor e o meu hospedeiro

Autor: José Roberto Cristofani
O Salmo 23 é um destes salmos bem conhecidos. Acho que o mais conhecido de todos. Não apenas muito conhecido, mas sabido decor. De coração. De memória. Declamado muitas vezes e em inúmeras ocasiões. O Salmo 23 é o salmo preferido de muitos de nós. Talvez por causa da figura do pastor. Por comparar Deus a um pastor.

O Senhor é o meu pastor

De fato, a figura do pastor de ovelhas é bastante clara no salmo. A metáfora pastoril utilizada no salmo é bem conhecida. A imagem evoca um pastor cuidadoso. A expressão “Nada me faltará” é um resumo. Ela resume todo o salmo. Essa expressão revela confiança. E este é o gênero do Salmo 23: um “Salmo de Confiança”. Todo o texto é uma expressão de confiança.

O Senhor é o pastor cuidadoso. Isso nos mostra sua ação pró-ativa em nosso favor. “Ele me faz repousar” (v.2a); “Leva-me” (v.2b); “Refrigera-me” (v.3a) e “Guia-me” (v.3b). Todos os quatro verbos têm como sujeito o Senhor. O meu pastor. Todas as quatro expressões mostram um Deus interessado. Um Deus presente. Um Deus que se importa com seu rebanho.

A seqüência das palavras no texto é importante. “Me faz repousar em pastos verdejantes”. Ao ler essa frase seria natural pensar em alimentos, pois “pastos verdejantes” sugere um bom alimento. Uma boa comida. Contudo, o salmo fala em “repousar”. Isto é, descansar. Uma ovelha só repousa depois de saciada. E a relva verdejante é o lugar apropriado para o repouso. A ovelha do Salmo 23 é uma ovelha bem alimentada. Ela é levada para descansar.

A mesma idéia confortadora de descanso aparece outra vez no salmo. Em perfeito paralelismo temos as palavras “Leva-me para junto das águas de descanso”. É um paralelismo que realça a mesma imagem. O pastor conduz seu rebanho para as águas tranqüilas. Não exatamente para dessedentar a sede de suas ovelhas. Porém, para que elas encontrem descanso, repouso.

Na seqüência temos “Refrigera-me a alma”. O texto faz uma clara ligação com as “águas de descanso”. Esta ligação amplia e aprofunda o sentido de repousar e descansar. Acrescenta “refrigério” ao descanso.

Quanto cuidado expressa este salmo! O cuidado do Senhor sobre os seus. Cuidado demonstrado também no “Guia-me pelas veredas”. Aqui, ainda, é o Senhor que age. É ele quem conduz. É ele quem vai à frente. Por isso são “veredas de justiça”. Veredas de vida abundante. Veredas de descanso. Por tanto amor, por tanto cuidado, o Senhor se fez assim: um Deus cuidador de mim.

Ainda que eu ande

A metáfora do pastor atinge seu ponto mais alto aqui: quando a ação passa do pastor para a ovelha. “Ainda que eu ande” mostra uma ovelha agindo. Ao agir, ao andar por conta própria, a ovelha pode ir para o “vale da sombra da morte”. Sem o guia seguro, ela pode trilhar caminhos ameaçadores. Vagar por trilhas inseguras. Caminhar por veredas do mal.

Todavia, há uma declaração de absoluta confiança: “Não temerei mal algum”. Tal confiança se funda em uma certeza: “pois tu estás comigo”. O pastor é companhia constante: me faz repousar, me leva ao descanso, refrigera-me, guia-me. E faz mais: “consola” pela ação pastoral (bordão e cajado). É como o dizer do salmo 139.10 “Ainda lá me haverá de guiar a tua mão e a tua destra me susterá.”

Preparas-me uma mesa

Neste ponto o salmo 23 muda a metáfora. Até o final do verso 4 era a figura do pastor. Agora, a partir do verso 5, é a figura do “hospedeiro” que ocupa o restante do salmo.

A hospitalidade na bíblia é muito importante. É importante tanto para o hóspede quanto para o hospedeiro. Para o hóspede o acolhimento importante, pois lhe dá abrigo, alimento e proteção. Para hospedeiro, acolher é importante, pois tem a oportunidade de oferecer abrigo, alimento, e proteção.

A hospitalidade ocupa lugar de destaque entre o povo de Deus. Sua importância se baseia na própria palavra do Senhor: “lembra-te de que foste forasteiro na terra do Egito”.

O hospedeiro acolhe o peregrino e prepara uma mesa para ele. Unge-lhe a cabeça com o óleo. Oferece-lhe abundância que faz seu cálice transbordar. Ao receber um forasteiro em sua hospedaria, o dono oferece abrigo com banho quente. Oferece alimentos e bebidas. E oferece também, proteção contra os inimigos. “Na presença dos meus adversários” significa proteção contra eles. A hospitalidade bíblica tem essa exigência: se alguém está em sua tenda você é responsável pela vida do seu hóspede.

Assim, o Senhor é apresentado como o hospedeiro que acolhe seu povo peregrino. Sua hospedaria é “sua casa”. Seu serviço é o acolhimento. Seu diferencial: bondade e misericórdia.

O salmista pode exclamar com total confiança: habitarei na casa/hospedaria do Senhor por um tempo indefinido. Pois está certo da bondade do Senhor. Confia na misericórdia do Senhor.

O Senhor meu Pastor e Hospedeiro

O Salmo 23 une duas metáforas: a do pastor e a do hospedeiro. Ao juntar as duas figuras, o salmo revela duas faces do Senhor. Uma face “Pastoral”. E uma face “Hospitaleira”.

Como o pastor, o Senhor cuida do seu povo. Leva-o para repousar em verde relva. O conduz ao descanso e refrigério das águas tranqüilas. Guia o seu povo por justas veredas. Mesmo no vale de ameaças, o pastor está em companhia do seu rebanho para cuidar em amor.

Como hospedeiro, o Senhor acolhe o seu povo. Põe a mesa. Prepara o banho. Dispõe o cálice. Providencia a proteção. E o Senhor o faz com bondade e misericórdia. Transforma sua casa em uma hospedaria para cuidar de seu povo.

Duas metáforas, uma lição. Seja como pastor ou como hospedeiro, a lição é uma só: podemos confiar sem reservas no Senhor. E exclamar: “Nada me faltará”.

Rev. Dr. José Roberto Cristofani é Pastor da Igreja Presbiteriana Independente, Doutor em Bíblia e Educador.
Leia outros textos do Dr. Cristofani em: www.sapiencial.com.br

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