O profeta da graça

Autor: Mauro Lima
A graça de Deus é um conceito revelado de forma detalhada no Novo Testamento. Entretanto, esse dom eterno de Deus aparece em diversas oportunidades nos livros do Antigo Testamento. Jonas é um dos profetas precursores da graça de Deus. Seu livro foi escrito provavelmente por volta de 760 a.c. Sua missão era anunciar a destruição iminente da cidade de Nínive, a capital da Assíria. Jonas era profeta de Israel e como nacionalista não nutria simpatia pelos cidadãos de Nínive, pela consciência das destruições que a Assíria havia promovido em Israel (II Reis.15:29). Ele foi um profeta mandado por Deus a pregar aos gentios, razão pela qual se pode compreender sua recusa, entendendo que aquela cidade não merecia o perdão de Deus.
As controvérsias a respeito da história de Jonas e o respaldo sobre os fatos narrados no livro que leva seu nome devem ser sanados com base nas palavras de Jesus: “porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do homem estará três dias e três noites no coração da terra” (Mateus 12:40).
O livro de Jonas demonstrou a graça eterna de Deus para com os homens. A palavra graça quer dizer “favor imerecido”. Na história de Jonas, Deus demonstrou sua graça despontando para salvação de uma cidade inteira: Nínive (Jonas 1:2). Jonas entendeu que aquela cidade não merecia o perdão de Deus e consciente da intenção de livramento da parte do Senhor preferiu fugir a cumprir a ordem divina (1:3; 4:1-2).
Mesmo na sua fuga, Jonas o porta voz da graça de Deus, sem querer colaborou com a salvação de homens pagãos que não conheciam ao Senhor (1:16). Deus se manifestou a Jonas, segundo a sua fé (1:9). A linguagem de Deus é adequada à nossa crença. Jonas citou o mar e a terra seca, mas esqueceu o homem. O Deus criador de toda a natureza escolheu o homem como a coroa da criação (compare com 1:4, 12, 15 e 17; 2:3, 5 e 10; 4:6,7 e 8). Repare que Deus usou a natureza para demonstrar o quão importante é a alma humana.
Deus insistiu com Jonas em favor de Nínive (3:1-2). A intervenção divina em favor de Nínive é uma figura da intervenção de Deus na história em favor do homem. Assim como Jonas permaneceu três dias no ventre do peixe por uma ação deliberada de Deus para a salvação de Nínive, Jesus ficou três dias no “coração” da terra (Mateus 12:40), de lá ressuscitando para salvação de todo o mundo.
Jonas é o retrato da incapacidade humana de propagar a graça de Deus, sem a correta compreensão do que ela representa: ele se recusou a anunciar a palavra de Deus por acreditar no privilégio da salvação apenas para um grupo “especial” de pessoas, os hebreus (1:9). No livro pode-se ver o poder da palavra de Deus para salvação de todos os homens (3:5-10). O poder da mensagem de Deus que Jonas levou não fora reconhecido até então pelo próprio Jonas.
Jonas fez a declaração pontual da presença da graça de Deus no contexto da sua trajetória como profeta (…pois eu sabia que és Deus compassivo e misericordioso, longânimo e grande em benignidade, e que te arrependes do mal. 4:2b). O egoísmo do profeta ao ver o arrependimento do povo de Nínive (4:1), a ponto de pedir sua própria morte (4:3), indica quanta incompreensão pairava em seu coração a respeito da graça de Deus (esse mistério era incompreendido pelo profeta Efésios 3:1-6).
No livro, a graça de Deus se manifestou em várias ocasiões: (1) Para os navegadores; (2) para Jonas no ventre do peixe; (3) para Nínive; (4) para o próprio Jonas quando quis morrer. Deus desejava que Jonas compreendesse que a sua intenção era abrir os olhos de toda uma cidade que estava cega pelo pecado (4:11). Se uma alma humana vale mais que todo o mundo perdido e Deus usou as forças da natureza para demonstrar essa verdade, qual é o valor de uma cidade? A história de Jonas foi um sinal precioso de Deus para que os Hebreus compreendessem a mensagem de Jesus no futuro.
Lições do livro de Jonas
1. Assim como fez com Jonas, é possível que Deus coloque a nosso encargo a salvação de pessoas que julgamos não serem dignas da graça de Deus.
2. Quando privamos as pessoas da graça de Deus podemos estar condenando nossa própria vida a também perder a graça. Jonas quase a perdeu!
3. O homem só pode propagar a graça de Deus, se a graça tiver se manifestado em sua própria vida. A graça é uma dádiva divina por meio da fé.
4. A graça de Deus é um composto fundamental do nosso trabalho:
a) Viver a graça;
b) Anunciar a graça.
5. Se vivermos a graça, somos capazes de compreender quão poderosa ela é e como pode alcançar as pessoas.
6. Podemos assim anunciá-la não como uma teoria espiritual distante, mas como uma experiência especial de Deus na nossa vida (há uma grande diferença quando a nossa pregação reflete a nossa própria experiência com Deus).
7. Quanto mais a graça abundou na nossa vida, mais gratidão nós temos diante de Deus e mais desejo de que ela alcance outras pessoas (Lucas 7:40-47).
Apesar de ter ouvido a mensagem de Deus mediante a pregação de Jonas, Nínive se afastou de Deus e foi destruída em 612 a.c. Nesse ano, a cidade foi tomada por uma coalizão de medos e caldeus em uma dinastia independente chamada “Neobabilônia”. Seu fundador, o general caldeu Nabopolassar conquistou e destruiu Nínive definitivamente.

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