Autor: Antonio Carlos Barro
Estamos no limiar de uma nova década, novo século e novo milênio, o terceiro da era cristã. Muitos são os motivos que temos para louvar a Deus nesta caminhada da igreja cristã pelas trilhas do mundo. Muitas foram as lutas, mas muitas foram também as conquistas. Vimos a igreja sair da Reforma com uma pujança e determinação sem igual. Vimos uma igreja que se aproximou do povo, proclamando ser o sacerdócio um privilégio de todos os cristãos. Vimos uma igreja missionária que não mediu esforços para proclamar Jesus Cristo ao mundo, vimos a igreja sendo implantada na regiões mais distantes do globo terrestre. Temos, portanto, incontáveis motivos para louvar a Deus por dois milênios da história do cristianismo.
Olhamos agora para um novo milênio que já bate às nossas portas. O frase que serve de fundamento para esta reflexão é: Com quais olhos contemplaremos o futuro?
Gostaríamos primeiramente de analisar estas duas palavras: unidade e diversidade. Unidade, segundo o Novo Dicionário Aurélio é: “4. Qualidade do que é um ou único ou uniforme. 5. Qualidade daquilo que não pode ser dividido. 6. Homogeneidade; igualdade, identidade, uniformidade”. O mesmo dicionário define diversidade como: “1. Diferença, dessemelhança, dissimilitude. 2. Divergência, contradição, oposição”. Vemos nestas definições que unidade e diversidade são palavras antagônicas. Em tese, uma milita contra a outra. Como ser, por exemplo, homogêneo onde existe dessemelhança? Devemos levar em consideração esta dificuldade ao elaborarmos sobre o tema “Unidade na Diversidade”.
Não existe mais diversidade entre todos os membros da igreja do que a diversidade entre um homem e uma mulher. São diferentes física e emocionalmente. São diferentes quanto aos cargos que ocupam na igreja, são diferentes nas funções que realizam. Estas diferenças são culturais (a nossa cultura e a cultura bíblica), são bíblicas e teológicas. Não existe tanta diversidade entre jovens e adultos, ou crianças e jovens, tanto quanto existe entre os homens da igreja e as mulheres da igreja.
Quem são as mulheres da nossa igreja? São pessoas que possuem o mesmo sentimento que os homens. São pessoas que igualmente foram lavadas no sangue do Cordeiro e guardam em seus corações a mesma esperança quanto ao reino vindouro. São pessoas amadas e restauradas por Jesus Cristo. São novas criaturas (nova criação) tanto quanto são os homens. Em Jesus Cristo, elas e os homens são iguais em tudo, porque em Cristo não há homem ou mulher, e ele é tudo em todos.
O que fazem as nossas mulheres? Elas, motivadas pelo amor a Deus e a igreja, costuram, fazem bordados, promovem chá de criança, ensinam culinária, cozinham bolos, promovem bazares de caridade, angariam roupas para os necessitados, limpam a igreja na falta do zelador, votam para cargos de liderança que serão ocupados pelos homens.
O que aconteceu com as nossas mulheres? Segundo Dorothy Dahlman a mulher passou por quatro estágios no desenvolvimento da igreja. O primeiro estágio começa com a vinda dos chamados peregrinos ao novo mundo (Nova Inglaterra). As mulheres organizaram as sociedades auxiliadoras femininas para dar apoio ao trabalho das igrejas. Faziam costuras, bolos, sorvetes que eram vendidos e a renda destinada a igreja. No segundo estágio, entre as duas guerras mundiais, as mulheres começam a ter envolvimento com as missões. Escrevendo cartas aos missionários, enviando presentes em datas especiais e preparando para recebê-los quando viessem em férias. No terceiro momento encontramos as mulheres sendo equipadas para o ministério, percebem que possuem dons e talentos que podem ser usados para Deus e o seu reino. Finalmente, no último estágio a mulher adquire consciência de que pode realizar o ministério de forma total e plena. São e estão aptas para toda a boa obra.
Agora, quando olhamos para as nossas mulheres, é difícil fugir da tentação de pensar que aqui no Brasil elas ainda se encontram no primeiro estágio. Operando ao redor da igreja, auxiliando os pastores na promoção dos muitos chás e bazares para a arrecadação de fundos para a construção de alguma coisa. Fazendo sempre alguma coisa, alguma atividade. Mas, alguns argumentarão, elas realizam trabalhos com as crianças, são professoras da Escola Dominical, dirigem o coral da igreja? O que mais querem elas?
Devemos honestamente afirmar que os trabalhos que as mulheres desenvolvem hoje nas igrejas são trabalhos que elas já realizam em seus lares. Não são elas as responsáveis pela educação dos nossos filhos? Se elas já tomam conta deles em casa, nada mais natural do tomar conta deles na igreja, enquanto nós os homens estamos ocupados com as grandes questões da liderança da igreja. Se elas já cozinham em casa, porque não cozinhar na igreja? Se elas costuram em casa, porque não costurar na igreja?
As mulheres, alguns podem afirmar, estão contentes do jeito que está. Elas mesmas não querem cargos de liderança ou pastoras. Será que isto é mesmo verdade? A questão é que as nossas mulheres não foram acostumadas a pensar que um dia elas poderiam ser presbíteras, líderes ou pastoras. Tal pensamento nem passa por suas mentes. Elas foram radicalmente doutrinadas que na igreja elas são subordinadas ao homens. Esta doutrinação tem sido vitoriosa desde que o evangelho chegou no Brasil. Ela tem sido perpetuada por homens que não possuem vontade cristã de afirmar que em Jesus Cristo as mulheres são capazes, porque elas também receberam dons do Mestre.
Estamos mesmo com vontade de pensar em unidade na diversidade? Estamos mesmo querendo entrar no terceiro milênio livres do pecado da opressão que tem sido imposto sobre as mulheres da nossa igreja? Gostaríamos de imitar uma das mais importantes organização cristã de todos os tempos, o Exército da Salvação, quando afirma:
No Exército da Salvação as mulheres são tão qualificadas quanto os homens para anunciar o evangelho. Uma mulher pode preencher qualquer função, desde a de oficial até a de general. Esse princípio de igualdade dos sexos se justifica não somente pelos textos bíblicos, mas tem sido confirmado através da história do Exército da Salvação pela influência notável deixada pelas mulheres.
Como então podemos ter unidade na diversidade? Podemos encontrar unidade somente se alguém estiver disposto a dialogar, a buscar um debate franco e enriquecedor. Não sendo assim, cada um continua na sua diversidade e prossegue a sua caminhada. Isto é melhor e mais honesto do que ficarmos proclamando um interesse na busca da unidade na diversidade que nunca se materializará, porque a unidade que se busca somente se concretizará se outro abandonar os seus pensamentos. O resultado não será unidade e sim opressão.
As mulheres precisam reconhecer por elas mesmas os seus valores e não devem esperar que este reconhecimento venha dos homens. Elas devem ter consciência de seus papeis na história e consciência de que em Cristo elas são tão importantes quanto os homens. Se elas não fizerem isto, ninguém fará por elas, pois são os homens que fazem as leis para elas, lêem a Bíblia para elas e escrevem a história para elas. E eles fazem, lêem e escrevem da perspectiva dos homens, naturalmente e lógico. As mulheres não podem aceitar como palavra de Deus qualquer coisa que é dita pelos homens. Elas devem comparar estes dizeres com as Escrituras. Isto é bíblico.
Unidade na diversidade. Não existe maior diversidade do que a encontrada na história do cristianismo entre homens e mulheres. Poderá haver unidade? Sim, se cada um de nós “calçarmos os sapatos do outro”.
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