Autor: Juarez Marcondes Filho
A história bíblica principia com a Criação de todas as coisas, com a Criação de toda a humanidade. Adão não é nem judeu, nem árabe; não é de um país desenvolvido, nem de um país de 3º mundo. Ele é a humanidade em síntese. Com a Queda, a humanidade se distanciou de Deus. No entanto, persiste o anseio divino de interagir com ela.
As genealogias contidas em Gênesis identificam o grande interesse de Deus pelas nações. Não servem, apenas, de contextualização para Israel. Ao contrário, Israel é mais uma nação pela qual Deus se interessa e, a partir dela, quer conquistar todas as nações. “Toda a história de Israel nada mais é do que a continuação do trato de Deus com as nações, e que, portanto, a história de Israel só pode ser entendida na perspectiva do problema não resolvido da relação de Deus com as nações” (Johannes Blauw).
Se o propósito de Deus é a humanidade, qual a razão de ser de Israel, ou da Igreja, ou mais propriamente, do povo de Deus? Primeiro na história bíblica vemos a ação divina vindo do universal para o particular, ou seja, a humanidade em Adão (universal) se relaciona com Deus e, assim, cada segmento (particular) está em comunhão com Deus. No chamado de Abraão a ordem se inverte. Deus vem ao particular para, por seu intermédio, alcançar o universal. “Enquanto o objeto final de Deus é universal, seu meio para atingir esse final é específico. Deus entra em um relacionamento especial com um povo específico” (Timóteo Carriker).
O ministério do povo de Deus no mundo é revelar o caráter de Deus aos homens. A doutrina cristã parte da revelação divina. Importa não a iniciativa do homem de conhecer a Deus, mas em que Deus se dá a conhecer aos homens. “Se Deus não tivesse se dado a conhecer, o homem não teria nenhum conhecimento de Deus e por si mesmo não chegaria a descobrir a Deus” (Luis Berkhof). Deus se revela de um modo geral, ou universal, não deixando nenhum indivíduo de fora de sua revelação (Romanos 1.19). Há também um modo em particular de Deus se revelar; chamamos esta modalidade de revelação especial (teofanias, comunicações diretas, milagres).
Deus se revela a todo o homem, mas a eficácia desta revelação se comprova no desejo do homem em conhecê-lo, íntima e pessoalmente. A revelação, neste sentido, é mais do que conhecimento teórico. É relacionamento amistoso e frutífero entre o Criador e a criatura redimida. A revelação de Deus não esgota a compreensão do seu ser. Sabemos de Deus aquilo que dele é possível conhecer. Em Cristo temos uma expressão sincera e evidente de Deus. O Filho de Deus é o revelador do Pai. (João 1.18). Aqueles que desejarem conhecer mais de Deus deverão buscar mais saber de Cristo, pois quem o vê, vê o Pai. (João 14.9)
Não estamos à busca da figura física de Deus, mas, sim do seu caráter. Caráter manifestado através dos seus atos na história. O acompanhamento do desenrolar da história da salvação nas Escrituras irá nos fornecer um retrato do agir de Deus com os homens, revelando-nos o caráter divino.
Partindo, agora, do particular para o universal, cabe ao povo escolhido de Deus revelá-lo a todos os povos. Somos herdeiros e receptáculos da revelação divina, porém, não o somos, simplesmente, para nós mesmos, senão, para tornar o seu nome conhecido de todos os povos e nações. Este é o entendimento do Salmo 67: “Seja Deus gracioso para conosco, e nos abençoe, e faça resplandecer sobre nós o seu rosto (revelação de Deus ao povo de Deus), para que se conheça na terra o teu caminho e em todas as nações, a tua salvação (revelação através do povo de Deus). Louvem-te os povos ó Deus; louvem-te os povos todos (o culto universal a Deus).”
O povo de Deus precisa sempre estar se auto-examinando e indagando se, porventura, muitas vezes não está sendo uma fotografia às avessas, por causa do seu testemunho equivocado. Quando apregoa uma boa doutrina, mas não põe em prática em seus atos os valores decorrentes desta doutrina, a Igreja compromete a revelação de Deus ao mundo. Foi, assim, com Israel em vários momentos de sua história, não menos, tem sido deste modo com a Igreja em muitas ocasiões.
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