O Homem que Orava

Autor: Francisco A. McGraw

Este texto é um resumo do primeiro capítulo do livreto "O Homem que Orava" (Praying Hyde), de Francisco A. McGraw, editora CPAD. Você pode encontrá-lo nas livrarias evangélicas deste Brasil. Tradução de Orlando S. Boyer, em 1953/58.

Nota do Tradutor Talvez, depois da Bíblia, o relato da vida de João Nelson Hyde tenha sido a história que mais inspirou os cristãos dos nossos tempos.

Este livro trata da vida de João Hyde, que partiu dos Estados Unidos em 1892 para ser missionário na Índia, país de língua difícil e árduo campo de evangelização. Morou numa vila de Punjab, em uma choça de taipa. Em sete anos, contou-se somente nas cem vilas circunvizinhas 1.200 pessoas que foram salvas! Hyde também trabalhava nos grandes centros urbanos da Índia, onde "multidões foram constrangidas a cair de joelhos pelas orações que pronunciou quando cheio do Espírito Santo". Hyde não pregou muito sobre sua experiência de santificação, mas tinha uma vida santa. Sua vida era um sermão.

Não falou muito sobre oração, mas uma coisa ele fazia: ele orava. Preparação: Cristo no lar Em Lucas 19:5, Jesus diz: "Hoje me convém pousar em tua casa". Que dia abençoado no lar de Zaqueu! Mas no lar dos Hyde, Jesus era hóspede permanente! O senhor Smith Harris Hyde, pastor da Igreja Presbiteriana em Carthage, Illinóis, era um homem de alma robusta e alegre, de estudos esmerados, de ânimo transbordante e, sobretudo, de propósito fixo em servir a Deus de todo o coração. Sua esposa era apaixonada pela música, e neste lar carinhoso e feliz, achavam-se seis filhos. O Dr. Hyde costumava orar – tando de púlpito como nos cultos domésticos – pedindo ao Senhor da seara que mandasse ceifeiros para a sua seara. Não admira, portanto que Deus tivesse chamado três de seus seis filhos! Alguns dizem que a sua denominação carece de pastores… Um dia ouvi um ministro dizer que seu filho nunca seguirá seu exemplo porque sabe o que é sofrer nas mãos do povo…

Mas o Dr. Hyde dignificava seu ofício, e regozijava-se em entregar seus filhos para uma vida de lutas e provações. Fico pensando: por que milhões de perdidos em outras terras morrem sem a salvação? Por que talvez somente seus bisnetos tenham a oportunidade de ouvirem a voz de algum homem a proclamar a boa-nova eterna do Filho de Deus? Por que estes povos esperam tanto tempo? Por que leio no jornal, de punho do ex-missionário W. B. Anderson, que na Índia existem cem milhões de pessoas que jamais ouviram falar de Jesus Cristo, e que, nas atuais circunstâncias, morrerão sem O conhecer? E por que há outros tantos milhões assim perecendo na África e em outros países, simplesmente por ignorância acerca de Cristo? Qual é a razão? São os quartos de oração vazios. São os cultos domésticos abandonados. São as orações sem vida e cheias de formalismo proferidas nas igrejas. Quero que saibam que as escolas bíblicas e os seminários nunca produzirão os obreiros de que o mundo carece. Minha mãe orava, quando ainda jovem, pedindo para que as portas dos países pagãos se abrissem. Depois, já com dez filhos, orava pedindo que obreiros entrassem por essas portas, e Deus enviou um de seus filhos à Índia e duas filhas à China! Na Bíblia lemos que a avó Lóide e a mãe Eunice oravam! Quando Paulo – o Apóstolo dos Gentios – começava suas viagens missionárias, podia contar com Timóteo, o fruto daquelas orações! João Hyde foi uma resposta à oração, e, anos mais tarde, quando orava no idioma da Índia, Deus levantou dezenas de obreiros nacionais em resposta às suas orações! O Grande Cabeça da Igreja tem um meio para levantar obreiros: "vejam as terras… elas estão brancas para a ceifa… os trabalhadores são poucos… ROGUEM!" Dá-me almas ou morrerei! No tabernáculo judaico havia um compartimento tão sagrado que somente o sumo-sacerdote poderia entrar uma vez por ano. Podíamos ver diariamente em cena este quadro na vida de Hyde, quando ele encontrava-se com Deus. São cenas demaisadamente sagradas para olhos comuns, e hesito em relatá-las aqui.

Mas ao lembrar-me de Jacó no vale de Jaboque, de Elias no Carmelo, de Paulo em agonia espiritual por Israel e, especialmente, do querido Mestre em agonia no Getsêmane, então sinto que estou sendo impelido pelo Espírito de Deus a relatar tais experiências, para admoestação e inspiração. Colocando-nos ao lado do quarto de Hyde, podemos ouvir suspiros, sentir gemidos e contemplar o querido rosto banhado, repetidamente, de lágrimas. Podemos fitar o corpo enfraquecido após dias sem comer e noites sem dormir. Ali podemos ouvir, entre soluços, o insistente clamor: "Ó Deus, dá-me almas ou morrerei!" Hyde foi levado a trabalhar na Índia impressionado pela morte de seu irmão mais velho, que preparava-se para ser missionário no exterior. Decidiu-se ir somente um ano depois, quando, ao término do seminário, pediu a um colega seu que lhe apresentasse todos os argumentos que pudesse sobre o trabalho missionário no estrangeiro. Seu colega retrucou que ele não precisava de argumentos, mas de prostrar-se de joelhos diante de Deus e assim permanecer até resolver em absoluto a questão. Na manhã s eguinte, o brilho no seu rosto refletia a decisão que tomara! Embarcou no outono de 1892 rumo à Índia. Os dias seguidos de somente água o levaram a um exame próprio e à oração. No início da viagem, ele recebeu uma carta de um amigo de seu pai, que muito desejava ser missionário mas que era impossibilitado de fazê-lo. Ela instava em que Hyde buscasse o batismo com o Espírito Santo como habilitação essencial na obra missionária.

Isto aborreceu Hyde, pois insinuava que ele ainda não havia recebido o Espírito Santo. Irritado, amassou a carta e jogou-a no convés, mas, mais tarde, com mais juízo, apanhou-a e releu, reconhecendo então que carecia de algo que ainda não havia recebido. Assim, entregou-se por toda a viagem à oração, para que fosse, de fato, cheio do Espírito Santo e soubesse, por uma experiência autêntica, o que Jesus queria dar a entender quando disse: "Recebereis poder, ao descer sobe vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra" (Atos 1:8). E, a essas orações a bordo, veio maravilhosa resposta. Os primeiros anos na Índia A princípio Hyde não era um missionário conceituado. Era pesado de língua e não ouvia bem. Quando acontecia de ouvir e também entender a pergunta formulada a ele, demorava em formular a resposta. Os amigos receavam de que não aprendesse a língua nativa. Era, por natureza, calmo e quieto, e parecia faltar-lhe o fundamental em um missionário: entusiamo e iniciativa. Mas os seus olhos azuis pareciam penetrar as profundezas do íntimo das pessoas. Pareciam brilhar da alma de um profeta! Chegando na Índia, descuidou-se um pouco no estudo da língua, a ponto de ser reprovado num exame lingüístico. Ele dizia: "o que é de primeira importância deve ocupar o primeiro lugar". Explicava que tinha ido à Índia para ensinar a Bíblia, e, para tanto, era necessário conhecê-la. E o Espírito Santo abriu-lhe o entendimento de modo maravilhoso! Mas não desprezou o estudo, chegando a falar muito bem o urdu e o punjabi. Sobretudo, aprendeu a falar a língua dos céus, deixando auditórios de centenas de indianos boquiabertos perante as verdades da Palavra de Deus.

Em todo avivamento sempre há duas partes: a divina e a humana. Em alguns, como no de Gales, a parte divina foi mais acentuada, e praticamente não havia organização e pregação. Mas o avivamento de Sialkot, apesar de também vir do alto, não parecia tão espontâneo: havia – sob a direção de Deus – organização, e planos eram realizados, além de longos períodos de oração. Antes de continuar a mostrar a importância da parte humana, quero descrever os princípios da Associação de Oração de Punjab. Eles foram criados mais ou menos no tempo da primeira convenção em Sialkot (1904), e foram redigidos em forma de perguntas, que eram assinaladas pelos que desejassem tornar-se seus membros: 1. Estás orando, pedindo um avivamento para a tua vida, para a vida dos teus companheiros de trabalho e para a Igreja? 2. Estás anelando mais poder do Espírito Santo na tua própria vida e serviço, e estás convicto de que não podes avançar sem esse poder? 3. Orarás pedindo graça para não te envergonhares de Jesus? 4. Crês que a oração é um grande meio de alcançar um despertamento espiritual? 5. Reservarás trinta minutos diariamente, logo após o meio-dia, para orar pedindo esse despertamento, e estás pronto a orar até que venha o despertamento? Os membros da associação erguiam os olhos da fé – conforme a ordem de Cristo – e contemplavam os campos brancos para a ceifa. No Livro liam as imutáveis promessas de Deus. Percebiam que o único método de adquirir tal despertamento era por meio de oração. Então mantinham em seus corações deliberada, definitiva e determinantemente o propósito de usar a oração até alcançarem o resultado. O avivamento de Sialkot não foi por acaso, nem um sopro que veio do Céu, sem ninguém o buscar. Carlos Finney disse que um avivamento não é maior milagre do que uma colheita de trigo. Em qualquer lugar pode-se obtê-lo quando almas valentes entrarem na luta determinadas a vencer ou morrer – ou, se for necessário, vencer e morrer. "O reino dos céus é tomado à força e os que se esforçam são os que o conquistam" (Mt.11:12). -/-

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