Autor: Paulo Pancote Lacerda
Tomo emprestado o título para o texto da coluna originalmente criado pelo escritor A. N. Wilson, que publicou nos EUA um livro chamado God´s Funeral. Esse título chamou minha atenção, ao vê-lo num artigo que Philip Yancey publicou recentemente, na revista Christianity Today. A revista Eclésia, na sua edição de novembro/02, também abordou o assunto, com a reportagem “Uma sombra no Velho Mundo”.
A primeira vez que li algo sobre a decadência cristã na Europa foi na revista Ultimato, em 1998, no artigo “Igrejas também morrem”, do Pr. Ricardo Gondim, que falava sobre o declínio da fé cristã na Inglaterra. Em 2001, a revista Veja publicou a matéria “Europa sem Deus”, onde mostrava o declínio da fé cristã na Europa Ocidental. No segundo semestre de 2001, publiquei em O Jornal Batista um artigo, em duas partes, chamado “Igrejas que podem morrer”, analisando o declínio cristão na Europa, Canadá e o seu início nos EUA.
Agora novamente, com estes artigos, a questão retorna com toda a força, porque os fatos estão saltando aos olhos. Tanto que a revista Eclésia enviou um repórter para escrever essa matéria sobre a Europa, e o escritor Philip Yancey, numa recente viagem ao Velho Continente, percebeu o dramático declínio da fé cristã e resolveu escrever sobre ele.
Se refletirmos sobre os fatos, eles são estarrecedores. Yancey disse que cristãos holandeses lhe contaram que há um século, 98% do povo holandês frequentava a igreja regularmente. Em duas gerações, a porcentagem caiu vertiginosamente, principalmente entre os adolescentes, estando agora abaixo de 10%. Yancey escreveu ainda que quase a metade dos prédios que serviam de igrejas na Holanda têm sido destruídos e transformados em restaurantes, galerias de arte ou condomínios. Philip Yancey conta que foi assistir a um culto noturno com sua esposa, em uma igreja na Bélgica, e eram apenas dez pessoas, contando com eles, que, por sinal, eram únicas pessoas presentes com menos de 70 anos.
A reportagem de Eclésia mostra que na Alemanha, apesar de 37% dos habitantes professarem ser protestantes, a principal denominação do país, a Igreja Luterana, anda com os seus templos vazios. Segundo o artigo, os alemães que são sem religião, já atingem quase 20% da população e a maioria dos que se confessam luteranos são apenas nominais, não frequentando a igreja a não ser em ocasiões muito especiais. A mesma reportagem diz que na França, já existem 30% de ateus na população; com 60 milhões de habitantes, o país não conta nem com um milhão de evangélicos. Isso representa apenas 1,5% de evangélicos no total da população (porcentagem menor do que em muitos países africanos) e mostra a franca hostilidade dos franceses quanto ao Evangelho. Eclésia fotografou um grande templo evangélico à venda, na cidade de Manchester, na Inglaterra, e informou que, na Espanha, dos 40 milhões de habitantes, somente 0,5 % da população (200 mil pessoas) são evangélicos. A realidade é tão aterradora que, das 8.500 cidades espanholas, 7.500 não possuem sequer um templo evangélico.
Diante desses relatos, a pergunta óbvia que surge é: será que isso irá acontecer em outras partes do mundo, inclusive no Brasil? A Europa já tem sido chamada de sociedade pós-cristã, por causa de todo esse declínio do Evangelho. O Canadá também está nesse processo de queda. Há sinais de que os Estados Unidos iniciaram a decadência espiritual, de uma forma ainda não significativa. A. N. Wilson, em seu livro, admite que duas perdas profundas já ocorreram. Pela primeira vez na História, muitas pessoas não sentem mais a necessidade de orar ou de participar de um culto de adoração. Também, de modo único, muitos não vêem valores além daqueles que cada um estabelece para si próprio.
É evidente que essa realidade já está trazendo consequências dramáticas para a sociedade européia e para qualquer lugar onde este processo vier a acontecer. Sentimos que o texto de Lucas 18.8, que diz: “contudo, quando vier o Filho do Homem, achará porventura fé na terra?” está se tornando real em nossos dias, antevendo o que poderá ainda estar por vir.
Creio que, no espaço desta coluna, não é possível nos aprofundarmos sobre as causas e os alertas que precisamos ter, para fugirmos de cair na mesma armadilha que a sociedade européia e outras estão caindo, mas é importante reproduzir as palavras do Pr. Martin Elsässer, que é ministro da Igreja Casa de Lutero, em Sttugar, no sudoeste da Alemanha: “Muitas pessoas não abandonam a fé, mas não são mais praticantes, o que provoca o esvaziamento de muitas igrejas”. O mesmo pastor diz ainda: “A prosperidade material é como um veneno: as pessoas já não sentem mais necessidade de Deus”.
Refletindo sobre esta declaração, temos que reconhecer que o enriquecimento do povo o tem afastado de Deus. Isto é verdade, mesmo em nosso país, onde um pouco mais de estabilidade financeira é quase sempre seguido de um esfriamento para com Deus. Assim sendo, está explicado por que o Evangelho hoje está crescendo e se fortalecendo na América Central e do Sul, na África e também em partes da Ásia, onde a prosperidade financeira é um alvo distante para a maioria da população.
Professor da FTB Litoral São Vicente (SP)
Pastor da IB Vila Áurea, Guarujá (SP)
E-mail: prpancote@aol.com
Fonte: O Jornal Batista
Faça um comentário