O Ecumenismo

Autor: V. Kurgánov
A história do ecumenismo começou a partir de uma tentativa de colar os cacos e estilhaços em se que fragmentou o mundo Protestante, desde a própria Reforma colocado ao sabor das forças centrífugas. O que era, por assim dizer, uma questão interna do Protestantismo, teve a sorte de ganhar outra dimensão ao coincidir com o alastramento de uma mentalidade servil à tendência de homogeneização cosmopolita em detrimento aos valores culturais genuinamente nacionais, estes assentados sobre ensinamentos ético-religiosos precisos e insofismáveis.

O ecumenismo é uma promiscuidade em pecado, já que pretende agremiar numa só confissão seitas cujo próprio surgimento e a “raison d’être” são desvios do caminho reto da tradição cristã original. É uma tentativa insólita de se chegar à Verdade através da aceitação simultânea de várias deturpações desta.

A expressão “o Deus é o mesmo,” habitualmente usada por aqueles que defendem esta promiscuidade não tem sentido. Evidentemente, existe Um só Deus. O Criador do mundo, Que independe de qualquer definição. Porém, neste caso trata-se de Um Absoluto, “Deus absconditus” , – uma noção sem nenhum significado de valor ético.

O conhecimento de Deus pelas criaturas é um fator importante, que Ele Próprio considerou, revelando-Se ao mundo desde o começo. Enfim, tanto o Cristianismo como o Judaísmo, de cujo seio ele emergiu, são essencialmente religiões de revelação, onde as relações entre a criatura e o Criador dependem do conhecimento correto Dele. É evidente que este conhecimento não pode ser preciso, dada a limitação inerente à natureza humana. É entretanto, maior ou menor na medida individual.

A revelação não é um ato unilateral, ela tem de ser recebida como uma imagem correta, existindo sempre o perigo de ser deturpada devido à receptividade espiritual defeituosa, um sensor falho. Como os critérios individuais são de validade precária por serem passíveis de influências temporárias, resta aceitar a premissa de que, sendo dirigida por Deus aos homens ela deve ser perfeitamente condizente com o que é genericamente comum para todos, – para um “Homem, portador da imagem e semelhança de Deus.” Exatamente, este sentido de identificação nos valores espirituais entre, teoricamente, um número infinito de indivíduos, produzindo uma fusão entre os seus espíritos nos pontos de aceitação comum, é o que perfaz o conteúdo do termo russo “ssobórnosti,” – este de difícil tradução para as línguas que através de séculos serviram para expressar noções de escolástica ou meras especulações filosóficas. Em resumo, teríamos que aderir à fórmula de São Vicente de Lira, que definiu por aquilo que deve ser cuidadosamente mantido como universal, (“magnopere curandum est, ut teneamus”) que é válido em todos os lugares, todos os tempos e para todos (“quod ubique, quod semper, quod ab omnibus creditum est”).

Ademais, são as próprias palavras do Nosso Senhor Jesus Cristo que nos mostram inequivocamente quão infundadas e destituídas de qualquer valor são as afirmativas sobre os benefícios espirituais para a humanidade que o ecumenismo possa trazer. São elas: “…E eu digo-te que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mat. 16:18).

Assim, não pode haver nenhuma dúvida sobre o fato de o Salvador ter deixado a Sua Igreja, – Uma e Una, pronta, por assim dizer, e não algo a ser feito. Pode, – isto sim existir a dúvida se alguém, em particular, pertence a esta Igreja e pode se também encontrar dificuldades para se chegar ao consenso sobre a sua identidade. Porém, é óbvio, que esta Igreja já existe e que existe há dois milênios e que é uma só, independentemente do número e da distribuição geográfica dos fiéis por Ela congregados.

Lembremos ainda, que ao ser fundada, a Igreja de Cristo coube num recinto modesto no dia de Pentecostes (Atos. 2:1) e as palavras do Divino Fundador não acenam com as mesmas promessas dos pregadores do ecumenismo de ampliar a “igreja” às custas da massificação indiscriminada. Pelo contrário, Ele disse: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição e muitos são os que entram por ela. Que estreita é a porta, e que apertado é o caminho que conduz à vida, e quão poucos são os que dão com ele” (Mat. 7:13-14). “…Mas quando vier o Filho do homem, julgais vós que encontrará fé sobre a terra?” (Luc. 19:8).

É de se acreditar que o dito foi suficiente para tornar evidente a vacuidade espiritual do ecumenismo. Não é, pois, de se estranhar que cada vez mais, ele está perdendo os seus vínculos com o Cristianismo original, ou, – o que talvez seria mais correto, – com o próprio Cristianismo. Por outro lado o ecumenismo está contribuindo para tornar mais eficiente o processo da massificação dos seres humanos aniquilando o que chamamos sensu latu – de alma.

V. Kurgánov

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