Autor: Ariovaldo Ramos
Cresçam tenham muitos filhos espalhem-se e dominem o planeta. Essa é a síntese do que os teólogos denominaram “mandato cultural”, o ato oficial em que o Senhor entrega à raça humana o comando da criação, descrito em Gn 1.28. Parece, a princípio, uma designação clara e inequívoca,
entretanto, quando nós nos detemos para analisar a tarefa que o Senhor nos delegou, nos damos conta de que falta um detalhe por demais importante: o modelo. Concordemos, há vários modelos para exercer domínio, o predatório, que, por exemplo, utilizamos, é um deles. E os resultados já nos têm demonstrado que não é o melhor, haja vista o número de espécies extintas ou em extinção. Será que o Criador deu-nos o encargo sem nos dar o caminho? Penso que não, acontece que esse paradigma encontra-se noutro endereço: Gn 2.8, “E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, do lado oriental; e pôs ali o homem que tinha formado.” Um jardim, eis o modelo. Mais do que ordenar um modelo, Deus o implantou. Ao colocar o homem coletivo num jardim, o Senhor ofereceu-lhe o padrão de conduta que faltava. Dominar o planeta tornou-se sinônimo de ajardiná-lo.
De que tipo de dominação fala-nos o jardim? Analisemo-lo: a beleza do jardim é “sinérgica”,
isto é, constitui-se em muito mais que a simples soma das espécies e dos espécimes nele contemplados, é fruto do conjunto conseguido; o objetivo do jardim é a harmonia dos recursos, cada qual dando o melhor de si para obter o efeito desejado no todo; o “modus operandi” do jardim é a solidariedade, pois, é preciso que todos tenham acesso aos nutrientes e à luz do sol, isso, muitas vezes, exigirá o sacrifício imposto pela poda, sem o que as espécies de grandes copas tolherão o crescimento das rasteiras, entre outras; o “modus vivendi” do jardim é a fraternidade, todas a espécies são bem vindas, para todas deve haver adequado espaço e tratamento, e todas são indispensáveis por serem de beleza única.
Essa é a nossa proposta de ecologia, harmonizar o planeta, transformá-lo num grande jardim. Se tivéssemos entendido isso a natureza não estaria gemendo, espécie alguma teria desaparecido, as florestas não teriam sido devastadas (encontraríamos um jeito de adequar o progresso à sua preservação), os rios não estariam poluídos, as pessoas não estariam morrendo de fome (os seres humanos também fazem parte do ecossistema), as cidades não seriam desumanizadoras. Ecologia, para nós, cristãos é “holística”, isto é, envolve tudo e todos. Não é nova religião, é a forma de viver a adoração a Deus. Não é venerar a natureza como se fosse um deus, é tratá-la com a dignidade de criatura do Todo Poderoso.
Será que é tarde para nos envolvermos em algo assim? Penso que Paulo diria que nunca é tarde para fazer o bem: 2Ts 3.13, “E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem.” Deveríamos nos aproximar de grupos ecológicos, uma vez que há alguns que fizeram disso uma nova religião? Há ecologistas e ecologistas, há aqueles para quem, cuidar da Terra, é simplesmente conservar a nossa casa, com esses podemos e devemos trabalhar – estamos na mesma causa, ainda que com ênfase e compreensão diferentes. Mas será que Deus se preocupa mesmo com isso, uma vez que vem aí “novo céu e nova terra”: Ap 21.1, “E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe.”? Olha o que Deus disse ao profeta Jonas, quando lhe expôs o porquê havia decidido poupar Nínive: Jn 4.11 (NTLH), “Então eu, com muito mais razão, devo ter pena da grande cidade de Nínive, onde há mais de cento e vinte mil crianças inocentes e também muitos animais!” Percebeu que a preservação dos animais está entre as causas da disposição de Deus em perdoar aquela cidade marcada pela impiedade? Que nome damos a isso, hoje? Consciência ecológica.
Já deixamos muitas bandeiras escapar de nossas mãos. Essa ainda dá tempo de recuperar. Vamos ao trabalho de jardinagem!
e-mail: ariovaldo@inconformados.com
www.inconformados.com/artigos/artigo28.htm
Faça um comentário