Movimento G12

Autor: Convenção Batista Brasileira
A Diretoria da Convenção Batista Brasileira, a Ordem dos Pastores Batistas do Brasil e os Secretários Executivos das Convenções Batistas dos Estados da Federação, vêm participando dos debates e acompanhando com interesse as experiências com relação ao chamado Movimento G12, ou Igrejas em Células, ou Modelo dos Doze. E neste momento da vida denominacional entendem necessário fazer o pronunciamento a seguir, visando à saúdo doutrinária e à unidade das igrejas, à sustentação dos princípios bíblicos e teológicos que informam nossas doutrinas e práticas, à eficácia de nosso testemunho nesta virada de século e milênio e, sobretudo, à glória de Deus.

NOSSAS CONVICÇÕES

Como preliminar à nossa avaliação e posição sobre o G12, é mister recordar e afirmar algumas de nossas convicções:

Cremos nas Escrituras Sagradas, e canônicas, compostas de Antigo e Novo Testamento, como registro fiel da revelação de Deus, e como única regra de fé e conduta, para o crente e para a igreja de Jesus Cristo, no mundo.
Cremos que a Bíblia deve ser interpretada por firmes princípios hermenêuticos, dos quais ressaltamos o de que a Bíblia deve ser interpretada pela Bíblia, o texto, pelo contexto, mas sempre à luz da Pessoa e dos Ensinos de Jesus Cristo.
Cremos no Deus trino, Pai, Filho e Espírito Santo, cujas obras contemplamos na Criação e na História e que se revela de maneira gradual e progressiva, nas Escrituras e, plenamente, na Pessoa de Jesus Cristo, Verbo encarnado.
Cremos na Igreja como entidade temporal e atemporal, fundada por Jesus Cristo e que tem por missão a redenção dos homens e o fazer discípulos em todas as nações, a formar uma nova criação, a humanidade deuteroadâmica.
Cremos na suficiência de Jesus Cristo como Senhor e Salvador, e na eterna salvação dos que nele crêem. Cremos que no ato de sua fé em Cristo, o novo crente recebe o Espírito Santo como penhor da herança eterna, iniciando-se, então o processo da santificação cujo alvo é tornar o crente semelhante a Cristo.
Cremos, como cristãos, evangélicos e batistas, que a revelação chegou à plenitude em Jesus Cristo e que toda alegação de novas revelações e novas verdades, por sonhos e visões e outros meios, deve ser cotejada com as Escrituras, corretamente interpretadas.
Cremos que a igreja do Novo Testamento, especialmente a de que dá conta o livro de Atos, constitui modelo para as igrejas de nossos dias, já no compromisso com a proclamação, a adoração, a comunhão, a edificação e o serviço; já em seu funcionamento pendular, no templo e nas casas, a promover o reino de Deus.
Cremos serem permanentes e de valor universal e transcultural (a valer, portanto, em todas as culturas), os princípios bíblicos de organização, vida, ministério, proclamação e serviço da igreja, porém os métodos e modelos de sua atuação podem e devem variar, de acordo com a sociedade e a cultura em que a igreja se insere e desenvolve a missão.
Cremos, como biblicamente fundados, os princípios do sacerdócio universal dos crentes, de livre exame da Bíblia e, portanto, de livre acesso a Deus, por meio de Jesus Cristo. Por isso rejeitamos o sacerdotalismo, o sacramentalismo e o ritualismo, qualquer tipo de hierarquia na esfera espiritual e eclesiástica, e a pretensão humana de interpor-se entre o crente e Deus.
Cremos, outrossim, no princípio de autonomia da igreja local e de seu governo congregacional, sob a liderança de Jesus Cristo, seu único Cabeça.
Cremos, à luz de Efésios 4.11, que o Senhor provê pastores/mestres para suas igrejas, a eles incumbindo pregar e ensinar a Palavra, sem mescla de erro, sem distorções, com fidelidade, dedicação, simplicidade e clareza (2 Tm.4.2-4).

NOSSA PERCEPÇÃO SOBRE O MOVIMENTO G12

Percebemos, pela leitura dos escritos do originador do Movimento e de seus discípulos em nosso país, algumas características ou elementos que o fazem contrastar e chocar-se com a posição batista que acabamos de descrever no formular de nossas convicções.

Vejamos algumas:

· Perfil neopentecostal e neocarismático, com ênfase na experiência pessoal e mística, em detrimento da Palavra escrita.

· Misticismo em todas as áreas da vida e do funcionamento do programa.

· “Marketing religioso” que até entendeu de eliminar da igreja nascente o próprio nome evangélico ou cristão.

· Visão empresarial da igreja.

· Forma episcopal de governo da igreja, e de pirâmide hierárquica e centralizadora de poder.

· A pretensão de terem a última palavra da revelação de Deus para a igreja do século 21.

· Desprezo aos valores estéticos e à riqueza teológica da hinódia cristã, formada por longos séculos.

· Sacralização do número 12, como se fora paradigma para o novo modelo de grupos.

· Pretensão de santificação instantânea, obtenção e liberação do poder como resultado do Encontro proposto como condição fundamental para habilitação dos discipuladores.

· Crescimento numérico, como único critério de legitimidade bíblica e evangelicidade, em detrimento da clareza e de formulação de sólidas bases teológicas.

· Ênfase na salvação temporal.

· Evangelismo de resultados e não de compromisso com a verdade. Em que conta pragmaticamente o número.

· Construção do movimento sobre a experiência pessoal de visão de um líder.

· Ênfase demasiada nos métodos, na estrutura pragmática que há de ser seguida à risca, quando sabemos que Deus não unge métodos, mas pessoas.

· Participação (no Encontro) como fonte única de autoridade crítica.

· Emoção humana, como evidência incontestável da presença do Espírito Santo.

· Evidências de manipulação psicológica e espiritual, especialmente, no Encontro, que é parte essencial do Movimento G12, não restando aos dele participantes as condições e o tempo necessários à reflexão crítica, à atitude bereana.

NOSSA POSIÇÃO SOBRE O MOVIMENTO G12

À luz das convicções que explicitamos, do exame criterioso e objetivo de testemunhos, relatórios, pronunciamentos e documentos de líderes evangélicos em geral e batistas em particular, e das características que acabamos de assinalar, chegamos à seguinte posição:

1. Não julgamos o espírito ou as intenções dos fundadores e pais do Movimento, mas nos atemos aos fatos e escritos a que tivemos acesso.

2. Reconhecemos que ao longo dos séculos, e especialmente no nosso, têm surgido propostas, modelos e métodos de “fazer igreja” e de evangelizar ou “fazer missões”, alguns com a pretensão de serem a “última revelação” a “última palavra”, “o método perfeito”, mas todos têm sido marcados pela temporalidade e impermanência. Afinal de contas, os métodos variam, e não são eles que contam, mas a pessoa humana. Diz, com propriedade, um autor estrangeiro, que “o homem é o método de Deus”.

3. O G5, o G12, as “koinonias”, os “grupos de ECO”, os NEBs (Núcleo de Estudos Bíblicos nos Lares) constituem todos modelos humanos, e têm o propósito (ou devem ter), de promover a eficaz atuação da igreja no mundo. Mas nenhum deles pode arrogar-se o “status” de revelação final ou método perfeito; todos esses modelos são marcados pela falibilidade humana. Quanto ao número 12, por exemplo, não há registro bíblico de que cada apóstolo tenha preparado doze discípulos, e estimulado estes a discipular mais doze.

Nem há registro de as igrejas dos primeiros séculos da história cristã haverem criado grupos de 12, ou qualquer outro número fixo e definitivo.

Reuniam-se nos lares, sim. Mas sem definição de um número fixo de pessoas, ou pretensão de outra homogeneidade que não a da fé, do grupo eclesial que se reunia.

4. É verdade que nossas igrejas, para cumprirem efetivamente o mandato do Senhor, de “fazer discípulos de todas as nações”, precisam extroverter-se, conforme a igreja de Jerusalém. Lá os crentes reuniam-se “no templo e de casa em casa”. É mister adotar estruturas leves e simples, mediante pequenos grupos nos lares. Isso, entretanto, sem perder de vista a unidade e integridade da igreja. Para tanto os grupos nos lares, ou células familiares, seja qual for o nome adotado,

a) devem ser dirigidos por pessoas com capacidade espiritual, moral e intelectual;

b) os líderes devem ser bem preparados pelos pastores;

c) os líderes devem ser orientados a conduzir estudos sobre os mesmos temas, a comunicar as mesmas doutrinas, a conduzir o povo de Deus à firmeza na fé, à comunhão, à santidade, e ao serviço;

d) os líderes dos grupos ou das células devem formar discípulos maduros não vindo a torna-los, à moda dos gurus, dependentes inaptos a buscar por si próprios a direção de Deus em Sua Palavra.

5. Rejeitamos o Movimento G12 quanto ao modelo e conteúdo dos Encontros alvitrados em sua filosofia (Pré-Encontro, Encontro, e Pós-Encontro), pois seus métodos e procedimentos vêm ao arrepio dos princípios e ensinos das Santas Escrituras. Com efeito, ensinos e práticas por ele adotados opõem-se claramente à Palavra de Deus.

Destacamos, a propósito:

a) A ênfase na maldição hereditária, com esquecimento do teor geral da Bíblia, sobre o assunto;

b) A prática da chamada confissão positiva;

c) Práticas de regressão psicológica;

d) Ensino e prática da chamada “nova unção”;

e) Prática do sopro espiritual;

f) Ensino do batismo do Espírito Santo como “segunda bênção”, tendo línguas como evidência;

g) Prática do segredo;

h) Unção com óleo;

i) Urros e palavras de ordem nos cultos.

6. Exprobramos o orgulho espiritual, a forma não cristã de desprezar os que não aceitam a “visão” – como a denominam – ou outros métodos ou modelos de “fazer igreja”, fatos que temos comprovado em relatos do movimento e mensagem de alguns de seus dignatários.

NOSSA EXORTAÇÃO E RECOMENDAÇÃO AOS PASTORES E IGREJAS

No espírito de Jesus Cristo, e buscando a edificação, crescimento e a firmeza das igrejas e seus obreiros.

1. Exortamos pastores e igrejas a cumprirem o que ordena Paulo aos tessalonicenses e a nós também: “Examinai tudo; retende o bem”. Mas que nunca venham a adotar com açodamento ou a pregar como definitivo e de valor absoluto, qualquer método, modelo ou programa de igreja que eventualmente tenha produzido frutos noutras culturas e noutros lugares. Por outro lado, cada método ou modelo de ser examinado criticamente em seus fundamentos bíblicos, e antes de seus princípios serem experimentados ou aplicados, é mister haver conhecimento da realidade da igreja e da comunidade em que ela se insere.

2. Alertamos que nenhum método ou modelo tem legitimidade, para uma igreja verdadeiramente evangélica e batista, se conflitar, em suas bases ou práticas, com as Escrituras em que cremos e a teologia e eclesiologia que adotamos.

3. Proclamamos a necessidade de um avivamento, do quebrantamento do povo de Deus, de abandono do pecado, do compromisso com Jesus Cristo. Por isso, conclamamos o púlpito de nossas igrejas a confrontar o pecado, a pregar o arrependimento, a convocar com a pureza, a santidade, a integridade e a fidelidade a Cristo em todas as áreas da vida pessoal, familiar e profissional.

4. Recomendamos que nenhum modelo ou método seja adotado na igreja por imposição do pastor, e nem seja implementado e forçado um modelo que venha a produzir divisão, amargura e prejuízo à paz no Corpo de Cristo. Se é de Deus, a visão não só será do Pastor, mas há de ser comunicada à igreja como comunidade do povo de Deus.

5. Finalmente, concitamos o povo de Deus a receber, examinar e praticar boas opções que existem para o crescimento das igrejas; a incorporar em seu programa práticas que se conformem com a doutrina, os princípios bíblicos e de nossa fé, que não prejudiquem nossa identidade batista, e se coadunem com a decência e a ordem que devem caracterizar o culto e a vida da igreja (1 Co.10.31; 14.40).

Rio de Janeiro, 23 de outubro de 2000

Diretoria da CBB
Presidente:
Fausto Aguiar de Vasconcelos
1º Vice-presidente:
Norton Rikes Lages
2º Vice-presidente:
Miquéias da Paz Barreto
3º Vice-presidente:
Ábia Saldanha Figueiredo
1º Secretário:
Júlio de Oliveira Sanches
2ª Secretária:
Mércia Neto Madeira e Silva
3ª Secretária:
Lia dos Santos
4º Secretário:
René Diné Lota

Diretoria da OPBB
Presidente:
Aloísio Penido Bertho
1º Vice-presidente:
Edgar Barreto Antunes
2º Vice-presidente:
Sebastião Ferreira
3º Vice-presidente:
Gerson Luiz de Brito
1º Secretário:
Linaldo S. Guerra
2º Secretário:
Arlenio Alves Machado
3º Secretário
Silvio Franco

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