Autor: Daniela Moraes
Uma proposta de relacionamento para ser escola de amor e serviço na Missão (Integral) da Igreja. Já faz algum tempo que tenho visto muita coisa acontecer em termos de Missões, no Brasil. É inegável que, nos últimos 20 anos, somos “outro Brasil” em termos de amadurecimento da Igreja. Ainda existe muito chão pela frente, mas de país unicamente receptor de missionários, hoje podemos nos ver de maneira diferente. Afinal, estamos crescendo.
A Igreja Brasileira é ainda, contudo, uma Igreja muito nova. Ainda somos muito susceptíveis a erros “adolescentes”. Ainda nos empolgamos com todo tipo de modismo. Ainda deixamos a desejar na capacidade auto-crítica. Ainda somos muito intolerantes com a diferença (e o diferente!). Mas a realidade da Igreja que se nos apresenta em nosso País, os fatos fazem calar os eufemismos e o nosso “triunfalismo” desconfortável e vergonhoso.
Mesmo em processo de aprendizado, temos hoje uma realidade bem visível em termos de avanço missionário. O Brasil tem conseguido a curiosa façanha de ser Campo e Celeiro missionário, ao mesmo tempo. Isso é uma realidade Pós-Moderna e faz parte da nossa vocação tupiniquim. Mas, a pergunta que faço é a seguinte: quais são as tendências da Igreja, hoje, no que diz respeito a consciência de si mesma no cumprimento da sua própria missão?
Temos sido fieis à Escritura? Qual(is) nosso(s) modelo(s)?
O chamado é mais simples do que imaginamos. Somos chamados para Conhecer a Deus e fazê-Lo conhecido, através do discipulado, compartilhando o Evangelho em todos os lugares, com todas as pessoas e com a Pessoa toda.
Mas, no meu entendimento, alguns obstáculos e percepções tendenciosas têm sido barreiras, tanto para o nosso crescimento quanto para o cumprimento da nossa Missão. Quais seriam esses impedimentos?
1) Infelismente, somos demasiadamente alienados. O Brasil é um País que tem capacidade de se “auto-evangelizar”. Calma! Deixa eu explicar… É que nós temos a 3ª maior Igreja do Mundo – tanto em número, como em potencial missionários enviados. Temos aproximadamente 3.000 missionários brasileiros no mundo afora e mais um grande número no Brasil. Mas, com o tamanho da Igreja que temos, mesmo Ela sendo imatura, somos capazes de evangelizar com os crentes que temos, toda a Nação, desde que esses resolvam “por a mão na massa”, sem precisar de ajuda de missionários de outras nações, em termos numéricos.
Repito, essa afirmação é de caráter matemático. É evidente que, em regiões como a Amazônia e o Rio Grande do Sul, esses números são relativos. A porcentagem nesses lugares é bem menor e eles são exemplos à parte. Mas, no nosso “Brasilzão” mesmo, tem crente suficiente para pregar o Evangelho e ainda com condição de “exportar”.
Mas, é aí que temos um problema. Não temos uma consciência clara disso. Achamos que nós devemos evangelizar o Brasil “todinho” e aí, se sobrar dinheiro e gente, é que achamos que é a hora de dar uma “ajudinha” aos outros países. Afinal, somos uma benção! Nossas carências, que existem mesmo, são reais, mas, fazem-nos insensíveis ao que está além das nossas próprias deficiências.
Alguém há séculos atrás já tentou nos ensinar, que dar, é melhor do que receber… E está difícil aprender essa lição.
Não estou dizendo que missionários estrangeiros são dispensáveis. De forma alguma!!! Apenas estou dizendo que temos crentes em quantidade suficiente para exportar, ou seja, temos um potencial evangelizador que daria conta de toda a nação caso fosse eficientemente aproveitada e para evangelizar toda a área que falta testemunho cristão. Somos milhões de crentes no Brasil. Ignoramos o fato de que, na maioria das igrejas do Brasil, temos mais crentes que em nações inteiras! Já imaginou, a Igreja “X” ter mais crentes que o Catar inteiro, que todas as Ilhas Maldivas, que a Mauritânia “toda”?!
Somos demasiadamente alienados. Que coisa triste! Nossa visão, infelizmente, tem às vezes passado pelo princípio da Torre de Babel, o de “não sejamos espalhados (Gn. 11:4)”.
2) Infelismente, somos demasiadamente alienados e institucionalizados. Perdemos a capacidade de colocar o reino de Deus em primeiro lugar. Perdemos a capacidade de cooperação e disposição ao serviço. Perdemos a capacidade de dar, hoje queremos receber. Apreciamos muito a “beleza” do nosso nome sendo espalhado, gostamos muito de ver nossas placas, nomes pomposos, grandes congressos, mídia corporativa e, porque não dizer, “Status”. Tudo tem de ter nome, apostila, data. Tem de ser “institucionalidade” (ou institucional?). Nem sabemos mais o que é a Espontaneidade que o Espirito Santo usava para nos transformar quando éramos simples. Agora somos institucionalizados, “vestimos as camisas” e chamamos isso de “organização”. E ai daquele que tocar nos nossos ídolos.
Nessa caracterização, nossa Missão se contaminou, se perverteu. Fazer missões é significa agora expandir nossos redutos, nossos “guetos”, nossas marcas e patentes, nossa doutrina, jeito, modo de fazer as coisas, nosso prestígio denominacional. Nosso alvo missionário tem por objetivo “tornar o nosso nome célebre” (Gn. 11:4). Nosso campo missionário, hoje, somos nós mesmos!
Perdemos capacidade de ver as pessoas como ovelhas sem pastor, que precisam de referenciais de Graça e Verdade. Hoje elas são os números de que precisamos para cumprir a nossa meta. Que o Senhor tenha misericórdia de nós! Paulo já tinha previsto o comércio que faríamos das pessoas…
Como precisamos amadurecer, não é mesmo?! Abro os olhos do meu próprio coração e percebo que preciso desesperadamente da Graça do Senhor para não sair da sua Palavra e ser consumida pelo “deus deste século”: o Mercado!
3) Infelismente, somos demasiadamente alienados, institucionais e individualistas. Ainda refletindo sobre nós, penso que ainda resta alguma coisa em que precisamos acordar, perceber, crescer, vencer… Eu acredito que também perdemos a capacidade de crescer em relacionamentos.
Como seres institucionais, sem nos apercebermos da realidade ao nosso redor, perdemos a capacidade de nos relacionarmos com outros irmãos e crescermos juntos. Ainda não descobrimos a força da parceria, da sinergia.
Abrir mão das nossas placas, no mundo onde o Comércio define as relações é “perder mercado”. É impossível para nossa mentalidade de Igreja Brasileira uma Igreja “Y” sustentar um evangelista plantador de Igreja “Z”. Isso, para nós, beira a insanidade, pois, não faz o menor sentido. (Será que é igualmente absurdo para Deus isso?)
Vejam só essa ilustração. Não citei nomes pra preservar identidades, claro: Conheço um missionário que tinha um excelente perfil para trabalhar com a agência missionária “W”. E ele até queria. Ele e a esposa eram da área de saúde e a Missão “W” tinha um pequeno hospital dentro de uma área carente. Mas, a denominação dele não permitiu… Viam com reservas a agencia “W” pois ela era interdenominacional e aberta a todos os tipos de cristãos evangélicos. Eles tiveram de começar do nada… e assim, a agência perdeu a possibilidade de expandir os trabalhos com a presença de dois obreiros novos devidamente especializados no hospital e, assim, servir melhor as pessoas.
Fazer Missões deve promover o Evangelho, não os “evangélicos”. Somos chamados para fora! E não para levar nossas placas, nossos modelos pré-estabelecidos para um mundo plural, colorido, cheio de belezas culturais diversas! Por melhor que sejam nossos métodos, eles não se aplicam a tudo.
Propondo…
Poderíamos avançar, criar novos espaços de Ministério (não novas instituições!), economizar recursos e material, alcançar searas que ainda não adentramos – tanto dentro, como fora do Brasil – ter uma experiência de comunhão incrível na qual quem sairia edificado, antes de tudo, seria o próprio Reino de Deus. Poderíamos ainda testemunhar que, o crescimento das nossas searas, nossas denominações e agências, seria uma conseqüência natural de nossa fidelidade a Deus. No Seu Reino, muitas vezes, semeando “fora”, colhemos “dentro”.
Juntos, poderíamos fazer muito mais. Somos um Gigante adormecido. Quando os irmãos se unem, Deus derrama um óleo especial sobre Seus sacerdotes (Sl. 133).
Tenho uma proposta que gostaria de lançar: que tal fazermos um acordo de promoção da Parceria como modelo ministerial nos próximos anos? Que tal nos dedicarmos tão somente ao aperfeiçoamento do que já temos e fortalecermos uns aos outros? Somos todos irmãos! E, para sermos irmãos, não precisamos ser gêmeos!
Eu proponho para a Igreja Brasileira a campanha do Movimento Sinergia.
Sinergia… A força física resultante da verdadeira união. Dizem que um cavalo sozinho pode puxar até duas toneladas de peso. Dois cavalos, juntos, conseguem puxar até vinte e nove toneladas!!!
Precisamos entender e viver esse princípio como Igreja Brasileira. A maturidade nos espera. Não vale a pena nos perder na nossa individualidade, nas nossas instituições. A “tranqüilidade” da nossa ignorância tem um sabor amargo para o paladar do Senhor.
Somos uma Igreja com grande potencial de “impactar” os povos não alcançados no (do) Brasil e, em especial, no (do) Mundo. A Igreja brasileira é “multicolorida”, tem uma grande iniciativa, é criativa quando se abre aos novos horizontes. Poderíamos ir muito mais além…
O Movimento Sinergia é uma proposta de Relacionamento e Ministério entre Organizações Evangélicas com o fim de promover a Unidade e o Serviço na pregação e testemunho da pessoa, obra e ensinamentos de Jesus Cristo. Inicialmente inspirado na unidade de JOCUM Brasil e ABU Brasil em programas de férias, esta “visão” é para a todos aqueles que valorizam a integração entre diferentes grupos evangélicos na promoção do Evangelho. Sem cor denominacional, doutrinária ou ideológica. No Movimento Sinergia, Cristo é tudo em Todos! Promova a idéia de parcerias em Missões, até que todos ouçam… Movimentos, organizações, agencias e Igrejas são bem vindas!
Incentivem sua igreja a trabalhar com outras igrejas e Agências Missionárias, mesmo que isso não resulte em benefícios diretos a vocês mesmos, em primeiro lugar. Incentivem suas bases a fortalecerem os relacionamentos. Tomem a iniciativa de procurarem irmãos de outros ministérios.
Não vai ser fácil… mas não se conformem com este Século.
As Portas do Inferno não prevalecerão contra a Igreja. A Graça triunfará!
Seja uma benção sinergética em nome de Jesus!
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