Missão integral e contexto social.

Autor: Sergio Ribeiro




Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos, à esquerda; então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? 39 E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. Mt 25. 31-40

O ser humano é tricotónico; composta de corpo, alma e espírito. Alma/espírito encontra-se dentro de uma dimensão espiritual/transcendental; o corpo, está dentro de uma dimensão social, existencial e estrutural. Por causa de uma herança negativa dos missionários puritanos norte americanos, da filosofia platônica sobre os mundos das idéias, filosofia gnostica, e da contribuição negativa da teologia sistemática, o ser humano foi dividido, desfragmentando literalmente. O qual comprometeu o ministério solidário da Igreja de Cristo. Assim como a Trindade não pode ser dividida literalmente, assim também o ser humano, não pode ser divido literalmente, apenas teoricamente.
Um dos problemas do protestantismo da América Latina, como diz Dr. René Padilha, está na formulação de uma eclesiologia espiritualista ao extremo. A qual dividiu ser humano em corpo, alma e Espirito literalmente. Após está desfragmentação, deram mais valores as questões espirituais, desprezando assim, a dimensão humana, existencial, social e estrutural do ser humano. Como se fosse possível ao ser humano viver alienado da sociedade é das questões sociais. Por mais crentes e espirituais que o indivíduo possa ser, ainda assim o mesmo estará dentro de um contexto social e estrutural, sendo acima de tudo cidadão.
A super valorização da dimensão espiritual e o desprezo pela dimensão humana, social existencial e estrutural, fez do o Evangelho de Cristo algo apenas espiritualista, desvinculados da dimensão humana. Ao afirmar que o ser humano é composto de corpo e espírito; o mesmo passou a ser entendido de forma dualista (corpo para kA / espirito para lá).
Com essa divisão literal levado ao estremo, fez o ser humano perder a sua unidade sagrada. Leonardo Boff, René Padilha, Oscar Kümel, Gustavo Guthierrez, Rubnes Alves e outros, através de uma teologia contextual que diáloga coma a realidade, descontruíram esta teologia espiritualista ao estremo, que desfragmentou e dividiu o ser humano literalmente, desprezando a sua dimensão existencial, estrutural e social.
Leonardo Boff enfatiza: “ Que o verdadeiro Evangelho de Cristo, ele produz uma Missão Integral, ou seja, verdadeiro Evangelho de Cristo, ele envolve o ser humano por completo, no espírito, que é dimensão espiritual e salvifica da alma, e no corpo que é a dimensão social, existencial e estrutural. A Missão Integral do Evangelho de Cristo ela envolve o todo do ser humano na totalidade de Deus”.
A Missão Integral, além de preocupar-se com o bem estar espiritual e salvifico do ser humano, também se preocupa com o bem estar social, existencial e estrutural. A desfragmentação do ser humano e a super valorização da dimensão espiritual e o depresso pelas questões estruturais, existenciais e sociais da vida humana, contribuiu para uma eclesiologia egoísta apenas entre EU + DEUS, a qual contribuiu para o esquecimento da espiritualidade que é produzida entre o relacionamento solidário entre EU + TU que é o meu próximo.
Quando se valoriza por demais a espiritualidade entre EU e DEUS e despreza a espiritualidade entre o EU +TU, a uma tendência muito grande de fechar os olhos para as questões sociais, e ficar apenas na esperança da volta de Cristo. À volta de Cristo não um escapismo, uma fuga da realidade. Por isso, enquanto Jesus não vem, nos estamos dentro de um ambiente social, e dentro deste contexto social à igreja, os crentes, devem estar voltados sim! para as questões sociais e solidária para com o seu próximo. Mostrando que realmente ela é portadora de uma mensagem transformadora.
O Reino de Deus não é apenas uma esperança para o futuro, mas o Reino de Deus também e algo real e presente na nossa realidade, Jesus disse o Reino de Deus, além de estar no meio de vós, esta dentro de vós. O Reino de Deus é a expressão máxima da justiça de Deus. E se os valores do Reino de Deus estão inseridos no cristão, logo o mesmo está voltado para as questões sociais, lutando contra as desigualdades sociais e contra as injustiças, no mundo e da própria igreja.
80% das Ong, não esta, mas mão da igreja, 70% dos projetos de ação sociais realizados nas periferias e nas favelas, está não esta nas mãos das igrejas, companhas como Natal sem fome, doe um agasalho, Ceará sem fome, campanhas contra as drogas, campanhas contra a violência, além de não serem feitas pelas igrejas também não tem participações das igrejas. Aonde esta a igreja? Esta vivendo um evangelho super espiritualista, que está desassociado das questões sociais.
O Evangelho da Missão Integral, além de libertar o ser humano da opressão espiritual e dar a salvação à alma/espírito, também proporciona a libertação do ser humano das estruturas e das opressões do contexto social, dando ao ser humano uma vida mais digna, enquanto estiver neste mundo. “Busquei a Deus e não achei, busquei a mim mesmo e não encontrei, mas quando busquei meu próximo e encontrei nos três”.Frase do Teólogo Poll Thilic.

BIBLIOGRAFIA
CRUSEMANN. Frank. Torá: Teologia e História social da lei do Antigo Testamento. São Leopoldo Sinodal, 2000.
REINER, H. Tempos de graça: O jubileu e as tradições jubilares na Bíblia. Petropolis: Editora Vozes, 1999.
BOFF, L. Graça Libertadora do Mundo. Petropólis: Ed. Vozes, 1976.
GUTIËRREZ, Gustavo. A Força Histórica dos Pobres. Petrópolis: Ed .Vozes, 1981.
ALVES, Rubens. Da Esperança. Campinas. São Paulo: Papirus. 1987 .
BOFF, Leonardo. Jesus Cristo Libertador. Rio de Janeiro Ed. Petrópolis. Ed. Vozes, 1980.
BOFF. Leonardo. Teologia do Cativeiro e da Libertação. São Paulo: Circulo do Livro Petrópolis: Ed. Vozes. 1998.
PIXLEY, Jorge e Clodovis Boff. Opção Pelos pobres. Petrópolis: RJ. Vozes, 1986.
PIXLRY, George. Êxodo. São Paulo. São Paulo: Ed. Paulinas, 1987.
SUNG M. Jung. O capitalismo e a morte dos pobres. São Paulo: Ed. Paulinas, 1989.
WEBER M. A Ética do Protestantismo e o Espírito Capitalista. São Paulo: Astes,1986.

www.sermao.com.br


Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*