Meu Natal inesquecível

Autor: Nicette Bruno, Gloria Maria, Ziraldo, Elizabeth Savalla e Sérgio Reis.

Natal solidário

Desde as festas na casa da minha avó Rosa, no Rio, quando eu era menina; depois, já casada, na cidadezinha de Olímpia, interior de São Paulo, onde comemorávamos com os avós paternos do Paulo [Goulart]; até hoje, aqui em casa, o Natal é um momento de união, uma data muito festejada por nós.

E um dos mais significativos da minha vida foi o de dezembro de 2001, quando fui convidada para distribuir presentes, vestida de Papai Noel, na Casa Transitória das Aldeias Infantis SOS, lar de crianças em situação de risco social, que ficava no Alto da Boa Vista, no Rio. Estava muito emocionada porque pela primeira vez colocava a roupa de Papai Noel, que para mim representa o espírito da fraternidade, do amor e da esperança.

Quando meus filhos eram pequenos, minha mãe, Eleonor Bruno, hoje com 90 anos, vestia-se de Papai Noel. Era o momento em que todos se aquietavam para ouvi-lo, e aproveitávamos para improvisar um diálogo, com o objetivo de passar para as crianças o verdadeiro espírito de Natal. Por trás da barba branca, mamãe explicava que a troca de presentes surgira no nascimento de Jesus e que era um gesto de amor lembrando as oferendas dadas pelos três Reis Magos ao Deus Menino.

Ao me ver no meio da criançada da Casa Transitória, distribuindo presentes como Papai Noel, lembrei-me da minha mãe e, como ela, procurei passar uma mensagem de esperança para cada uma daquelas 25 crianças, cujos olhinhos brilhavam.

Nicette Bruno, atriz

Longe de casa

Natal em família é sempre maravilhoso, mas tive um a trabalho, fora do Brasil, inesquecível. Em 1995, fui para a Finlândia, terra do Papai Noel. Queria fazer uma reportagem acompanhando o passo-a-passo de uma família típica da Finlândia no dia de Natal.

Encontramos um pai com nove filhos, cuja mulher o havia deixado havia pouco tempo. Ele organizou toda a festa com as crianças. Assisti ao esforço dos meninos arrastando um tronco de madeira pela neve, para depois transformá-lo numa imensa árvore de Natal; e a animação das filhas mais velhas na cozinha, preparando os deliciosos pratos e doces típicos finlandeses.

Passamos uma semana acompanhando a família; então o pai nos convidou a ficar para a festa. Parecia um cenário dos filmes de Ingmar Bergman: aquelas meninas lourinhas, de apenas 6 e 7 anos, lindamente vestidas, tocando músicas de Natal ao piano. Pela janela, olhávamos as árvores cobertas de neve e vimos Papai Noel chegando num trenó puxado por renas, ao som de sininhos.

O velhinho entrou na casa e colocou os presentes embaixo da árvore.

Era uma fantasia de criança que eu estava vivendo. Chorei de emoção, por ter a oportunidade de ver o Natal dos meus sonhos infantis e pelo empenho daquele pai em proporcionar uma noite feliz aos filhos.

Gloria maria, jornalista e apresentadora de TV

Natal sem neve

Na infância eu acreditava mesmo na existência de Papai Noel. As manhãs dos dias 25 de dezembro foram as mais felizes da minha vida de menino. Lembro-me de que, com os poucos brinquedos – tão baratos, tão pobrezinhos! – que ganhávamos, a gente brincava semanas seguidas. E brincávamos também de noite de Natal. Primos e irmãos fingiam estar dormindo e um de nós despertava e avisava, como se fosse um grito de alerta: “O dia amanheceu!” Aí, todos saíam correndo para ver o seu presente no sapato. Não havia meias para pendurar na lareira. Nem lareira. A gente brincava de ganhar presente como se quisesse dizer que a alegria não estava no presente-objeto, mas no ato de ganhar o presente. Depois, fomos crescendo e meu pai fazia questão de conversar conosco em todas as datas mais importantes da Igreja. Recordo-me bem da solenidade que ele emprestava à Semana Santa, principalmente à Sexta-feira da Paixão, e à noite de Natal.

Num desses Natais – eu devia ter uns 10, 11 anos -, estávamos em casa naquela movimentação das noites especiais, fazendo hora para a Missa do Galo (seria uma das primeiras missas de Natal da minha vida). Papai estava em pé à janela, olhando a noite, quando ouvimos num rádio distante uma linda canção de Natal. Não era Noite feliz, eu me lembro. Era o Tannenbaum, uma canção alemã que me comove mais do que Noite feliz.

Papai ficou sério, ouvindo a música em silêncio e, olhando para lugar nenhum, falou, com os olhos brilhantes: “Esta música me dá saudade de uma coisa que eu não vivi.”

Papai era um homem simples, mas entendi a imensidão do que se passava na sua alma, ainda que eu fosse menino e que só viesse a sentir uma saudade imensa deste momento vivido muitos anos depois.

Ziraldo, jornalista e cartunista

O Natal do porquinho

Adoro montar a árvore, enfeitar a casa, fazer aqueles pratos especiais na minha festa preferida: o Natal. Há 17 anos, um deles ficou marcado por ter sido muito engraçado. Eu e Camilo, que hoje é meu marido, estávamos no início do namoro e eu quis organizar a festa na minha casa. Meus pais vieram de São Paulo, a mãe do Camilo veio do Ceará e juntamos toda a criançada: meus filhos Thiago, na época com 10 anos, Diogo, 9, os gêmeos Cyro e Tadeu, 6; mais Mihay, 8, e Igor, 5, filhos do Camilo.

Resolvi fazer um prato especial para aquela noite: Leitão à Mealhada. É uma receita portuguesa, com a qual queria homenagear minha sogra, que tem origem lusitana, e meu marido, que veio de Portugal com apenas 2 anos. Passei o dia me esmerando na cozinha, preparando não só o leitão, como o tradicional peru, a farofa e uma salada que Mihay adorava.

Chegou a hora da grande ceia, estavam todos reunidos e eu, orgulhosa, levei a bandeja para a mesa, com o leitão assado inteiro, dourado e reluzente, com um tomate na boca. Quando as crianças viram o prato, desataram a chorar. Ninguém queria comer o porco.

Em meio à choradeira, percebi o choque visual que foi para as crianças ver um leitão inteiro na bandeja, bem diferente do peru que, sem as penas, não se assemelha ao bicho vivo. Voltei imediatamente com o leitão para a cozinha, onde foi fatiado antes de retornar à mesa.

Esse Natal ficou conhecido como “o Natal do porquinho”, mas também foi o ano das bicicletas. Enquanto todos ceavam, Camilo arrumou um jeito de ir colocar no estacionamento as bicicletas que tínhamos comprado. Depois da tradicional troca de presentes, pedi, como quem não quer nada, que um dos meninos fosse pegar alguma coisa na garagem. E foi aquela surpresa e alegria ver que Papai Noel tinha deixado ali, de uma só vez, as seis bicicletas – uma para cada criança.

Elizabeth Savalla, atriz

O presente

Em 26 de maio de 2002, eu estava viajando de São Paulo para Belo Horizonte, quando, durante o vôo, tive um acidente vascular cerebral. Passei três dias na UTI e, apesar de ser alto-astral e otimista, tive medo de não vir a conhecer o meu primeiro neto, que estava a caminho.

Por conta desse susto, já recuperado, eu quis reunir toda a família no Natal. E foi maravilhoso porque, além de minha mulher, Ruth, com quem sou casado há 33 anos, dos meus dois filhos, Paulo Augusto e Marco Sérgio, havia mais umas 60 pessoas, entre parentes e amigos. Minha maior alegria foi poder estar com meu neto, Vinícius, com um mês de vida, nos braços.

Trocamos presentes e até brincamos de “inimigo secreto”. Dei a meu filho Paulo Augusto, pai do Vinícius, que é corintiano roxo (eu sou palmeirense), um quadro com uma foto do Vinícius, vestido com o uniforme do Palmeiras, e escrevi: “Ser avô é gostoso, mas o melhor é ter um neto palmeirense!” E ainda disse que, se ele quebrasse o “presente”, eu mandaria fazer mil cópias e distribuiria para toda a imprensa! À meia-noite, o padre Borges, outro grande amigo, rezou uma missa em minha casa. Emocionado, agradeci a Jesus o presente de poder ver meu neto e desfrutar, bem de saúde, de mais um Natal com toda a família.

Sérgio Reis, cantor, compositor e ator

Fonte: Seleções

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