Medo de tudo

Autor: Daniel Rocha
“…ora, o medo produz tormento…” (1Jo 4.18b)

Medo de ser rejeitado, medo de ficar sozinho, medo do escuro, medo de perder o controle, medo de perder o amado, medo de mortos, medo de vivos, medo de feitiço, medo de mau-olhado, medo de ouvir as verdades, medo de enxergar as verdades, medo de decidir, medo de ser livre, medo de casar, medo de “não casar”, medo de ter doenças, medo de ser feliz, medo de ser infeliz, medo julgamento do outro, medo do julgamento de Deus… medo…medo….medo.

O medo repercute no equilíbrio da saúde e provoca inúmeras alterações no corpo. Vejamos algumas delas:

1. Cérebro: os estímulos amedrontadores enviam um sinal ao hipotálamo, para que seja intensificada a produção de adrenalina, noradrenalina e acetilcolina. Em uma fração de segundo, a descarga dessas substâncias causa alterações no funcionamento de diversas partes do corpo.

2. Olhos: a química do medo faz com que as pupilas se dilatem. Isso diminui a capacidade de a pessoa reparar nos detalhes que a cercam.

3. Coração e pulmões: o aumento do nível de adrenalina eleva os batimentos cardíacos. O fato de o coração bater acelerado exige maior oxigenação ­ daí por que a respiração se torna mais curta, ofegante.

4. Estômago: muitas pessoas, em situações de medo, sentem dor na região estomacal devido ao aumento na produção de acetilcolina.

Pode ocorrer também excesso de suores, contraturas musculares, dores na nuca e ombros, cefaléia, diarréia, mãos frias, manifestações de gastrite, que poderão agravar-se dependendo da freqüência.

A palavra “medo” aparece inúmeras vezes na Bíblia. É um dos primeiros sentimentos desenvolvidos na vida do ser humano. Ele pode ser um mecanismo útil na sobrevivência, mas a sua presença constante e excessiva em nossa vida pode causar um afastamento social, retraimento, desenvolver ansiedade, isolamento, excesso de preocupação e um comportamento rígido.

Deus se preocupa com as consequências que o medo traz na vida do cristão. O seu resultado é devastador – “o medo produz tormento”, afirma João. Ser um atormentado significa não ter paz, é não dormir bem, é não viver bem, é ficar paralisado, é ser incapaz de reagir, de interagir, de confiar….

A primeira vez que aparece a palavra medo na Bíblia é logo no início do livro de Gênesis, quando Adão, depois de ter pecado, foge e se esconde de Deus entre as árvores do jardim. O Senhor o procura e chama: “Onde estás?”. E Adão não podendo mais se esconder, responde: “Ouvi a tua voz no jardim e tive MEDO” (Gn 3.10).

O medo nos põe em fuga, mentimos, por medo da verdade, nos escondemos de nós mesmos e dos outros, perdemos a alegria, a espontaneidade. O medo traz uma vida de sobressaltos, e uma sensação onipresente de que “algo ruim vai acontecer”….

Os discípulos tiveram medo em muitas ocasiões. Jesus dizia: “Não temais”, e completava – “homens de pequena fé”. Porque Jesus relacionava o tamanho da fé dos discípulos com o medo? Certamente para nos ensinar que uma das raízes do medo é a insipiência de nossa fé.

Talvez a parte da Bíblia em que Deus mais insiste na fé e na coragem foi quando Josué estava para assumir a liderança do povo de Israel. Moisés havia morrido, e ele, Josué, era o seu sucessor. Com certeza Josué teve medo – senão o Senhor não precisava se preocupar em exortá-lo à confiança e à coragem. E Deus insistiu: “Assim como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei, nem te desampararei” (Js 1.5).

Quantas vezes tememos porque esquecemos a promessa de que Deus nunca e jamais nos desamparará, nem nos deixará lutando sozinhos. E o Senhor prossegue: “Tão somente sê forte e mui corajoso… não tenha medo nem te espantes, porque o Senhor teu Deus é contigo por onde quer que andares”.

A presença de Deus junto a nós é que vai nos dar a segurança, porém a decisão de “ser forte e corajoso” é nossa. E por uma razão muito simples – Deus não pode fazer isso por nós.

João afirma em sua primeira epístola que “no amor não existe medo, pois o perfeito amor lança fora o medo” (1Jo 4.18). Isso significa que quanto mais me encho com o amor que vem de Deus, não sobra espaço para medo algum. Deduzimos daí que o medo ocupa os espaços vazios que deixamos em nossa alma, e a sua tendência é expandir, crescer e nos dominar. A única forma de impedir que isso aconteça é permitindo que o amor esteja no centro de nossa vida, seja a nossa maneira de viver. E quando isso acontece, ele lança fora o medo.

O crente não pode ser vítima de seus medos, e muito menos ser dominado por eles. Há cristãos que não têm uma vida plena porque se esconderam e se fecharam em sim, com medo de tudo, vendo o Mal em tudo, e esquecendo que a Bondade e a Presença de Deus estão junto a nós todos os dias de nossa vida.

Encha-se de AMOR e estarás lançando fora o medo, e o tormento.

Pastor da Igreja Metodista em Itaberaba, e psicólogo
dadaro@uol.com.br

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