Autor: Michele dos Santos
O período histórico do ministério de Jonas é narrado com detalhes em II Reis 14 e 15. Ele viveu durante o reinado de Jeroboão II e, nesses tempos, a Assíria exercia seu poderio no Oriente Médio. Era uma nação cruel e era detestada por suas práticas desumanas.
Jonas era o típico judeu que nunca entenderia como seria possível que Deus viesse a amar os assírios. Ao contrário, ele esperava que o Deus Javé se voltasse contra eles e os destruísse.
A cidade de Nínive era a capital da Assíria, e quando Deus mandou Jonas pregar àquela cidade, ele recusou-se a ir, por causa do ódio que sentia pelos assírios. Jonas é um indivíduo preconceituoso e seu livro mostra a
resistência desse profeta ao propósito divino de evangelizar a raça mais cruel do mundo. E o que vamos verificar é que o inexplicável amor de Deus para com Nínive não encontra eco no coração de Jonas.
Foram os preconceitos de Jonas que o levaram a fugir da Missão que Deus lhe havia ordenado. Preconceitos políticos: pois os ninivitas eram velhos inimigos de seu povo. Preconceitos raciais: os ninivitas eram gentios e não
pertenciam ao povo escolhido. Preconceitos religiosos: um povo tão perverso, tão mau, tão grosseiro, não podia nem devia ser perdoado.
Quantos hoje não são como Jonas. Quantas vezes os nossos preconceitos nos impedem de sermos úteis a Deus. Quantas vezes os nossos preconceitos sufocam o amor às pessoas; aniquila nossa compaixão; obscurece nossa visão; seca as
fontes da nossa espiritualidade e empobrece nossa mensagem.
Nós nos parecemos muito com Jonas. Podemos ver nele nossos preconceitos contra aqueles que não confessam a mesma doutrina, ou que pensam diferente de nós. Jonas é uma figura intrigante. Ele assiste a uma cidade inteira se
converter e ao invés de se alegrar, ele se irrita. E mais do que irritado, ficou deprimido a ponto de desejar morrer. Jonas é uma figura desconcertante, mas veremos que muitos de nós agimos exatamente como ele.
CAPÍTULO PRIMEIRO: FUGA INÚTIL
“… veio a palavra do Senhor a Jonas.” É assim que tudo começou: um dia estava Jonas em sua casa, lá peno ano 750 AC, quando Deus lhe disse: “Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive e clama contra ela … “. E aqui as coisas começam a se complicar, pois Jonas não tem a mínima vontade de ir àquela cidade.
Por quê? Porque Jonas conhecia muito bem Nínive e a odiava, e também conhecia muito bem a Deus, e sabia que Ele é misericordioso e grande em benignidade (4:2) e com certeza iria dar uma oportunidade a Nínive de se converter. E como nosso profeta não quer a conversão desta cidade, e para
evitar que tal acontecesse, “Levantou-se, mas para fugir da presença do Senhor, para Társis.” (v. 3).
Se corremos os olhos pelo Mapa Bíblico, vamos observar que Nínive ficava diametralmente oposta a Társis, Nínive está no leste, Társis no oeste.
Társis era o lugar mais longínquo de todo o planeta naqueles dias. A viagem para lá durava, pelo menos, um ano.
Lá se vai Jonas para a sua viagem rumo a Társis. Seus planos foram bem arquitetados, no entanto, vai se meter em uma tremenda enrascada. Aquela enrascada em que se envolve todos os desobedientes.
“Mas o Senhor lançou sobre o mar um forte vento, e fez no mar uma grande tempestade” (v.4). Deus, valendo-se da natureza, levanta uma tempestade para corrigir o profeta fujão.
“Então os marinheiros cheios de medo clamavam cada um ao seu deus…” (v.5).
Os marinheiros conhecedores e experimentados no mar, sabem que a situação é perigosa. A sensação de medo os domina. A morte está às portas e por isso eles “clamavam cada um ao seu deus”. Estes homens são pagãos e apegados a várias divindades. Contudo, enquanto eles dirigem suas preces aos seus deuses, Jonas dormia profundamente.
Aqui temos uma lição: no processo de fuga de Deus, corremos o risco de nos tornarmos menos cristãos do que os pagãos. Que ironia! O único homem no navio que podia fazer uma oração de verdade ao Deus verdadeiro, não quer orar.” Ao mesmo tempo que é triste, é deveras impressionante notar que não poucas as vezes, os incrédulos que não conhecem a Deus, manifestam mais respeito e fé em Deus do que os próprios cristãos.
Nos versos 6 a 10 percebemos que os marinheiros pagãos têm noção da gravidade dos atos de Jonas. “Que fizeste? Pois sabiam os homens que Jonas estava fugindo da presença do Senhor, porque lhe havia declarado”. (v.10).
Os marinheiros sabiam que havia algo naquela tempestade, além de um fenômeno natural. Havia algo maior ali e por isso eles resolveram “Lançar sortes, para saberem por causa de que lhes sobreveio aquele mal” (v.7).
A sorte é lançada, “e a sorte caiu sobre Jonas” (v.7). Descobriram que o homem de Deus era a causa da desgraça. A desobediência de Jonas estava atraindo maldição sobre todo o grupo.
Precisamos aprender esta lição: As pessoas que desobedecem a Deus, não criam problemas apenas para si. Infelizmente acabam colocando os outros em suas enrascadas também. Homem de Deus em fuga leva problemas onde quer que vai.
Agora algo precisa ser feito, e daí a pergunta: “Que te faremos, Jonas, para que o mar se acalme? (v.11). E a resposta foi: “Tomai-me e lançai-me ao mar e o mar se aquietará…” (v.12). Assim, Jonas assume o fato de que ele era o causa da tragédia.
Antes de jogar Jonas no mar, os marinheiros pagãos se entregaram novamente à oração. Agora, oram não às divindades pagãs, mas ao Deus de Israel. Enquanto
eles oram, os lábios de Jonas ainda permaneciam fechados (v.14).
“E levantam a Jonas, e o lançaram ao mar, e cessou o mar da fúria” (v.15).
Jonas é lançado ao mar, mas Deus não desiste do profeta fujão e ordenou que “um grande peixe engolisse a Jonas” (v.17).
Poucas situações devem ter sido tão angustiosas quanto esta. Jonas está consciente. Sua esperança de continuar vivendo eram mínimas. Que lugar para encerrar a vida, logo na barriga de um peixe, lugar escuro, mal cheiroso e
onde provavelmente nunca encontrariam seu corpo. Mas, embora confuso e teimoso, Jonas é um homem que conhece a Deus. E Jonas faz a única coisa que se pode fazer em um momento de angústia. Ele se entregou à oração.
CAPÍTULO SEGUNDO: A ORAÇÃO NO VENTRE DO PEIXE
“Então Jonas no ventre do peixe orou ao seu Deus” (v.1).
É no ventre do grande peixe que Jonas começa a recuperar a saúde espiritual.
“Na minha angústia clamei ao Senhor.” (v.2).
Jonas começa a entender que a angústia pode ser uma expressão do amor de Deus. A própria tragédia de ter sido “Lançado no coração dos mares” (v.3) e
ter sido engolido pelo peixe, não era obra dos marinheiros, mas de Deus. Por trás de tudo aquilo estava a mão divina. “Quando dentro em mim desfalecia a minha alma, eu me lembrei do Senhor …” (v.7).
Quando estava para morrer, Jonas voltava seus olhos para o Senhor. Que coisa tremenda! A oração ainda é a única e suficiente resposta de que a espiritualidade continua viva. E nesse aspecto nós nos parecemos muito com Jonas. Pois quase sempre deixamos para orar em momentos de extrema
dificuldades (Conferir: 1:3, 4,5,10,11,13,14).
A oração de Jonas foi ouvida. Ele podia ser um crente fraco e remitente, mas sua confiança está em Javé e não em ídolos (v.8). É bom saber que Deus nos ouve, apesar de nossas fraquezas.
“Falou, pois, o Senhor ao peixe, e este vomitou Jonas na terra.” (v.10).
O capítulo dois termina com mais uma ação soberana de Deus. Ele ordena e o grande peixe, obediente, joga Jonas na praia.
CAPÍTULO TERCEIRO: PREGAÇÃO SEM COMPAIXÃO
“Veio a palavra do Senhor segunda vez a Jonas… ” (v.1).
Pela segunda vez, Deus comissionou o profeta à sua missão de pregar aos ninivitas. Uma nova oportunidade é dada a Jonas.
“Dispõe-te e vai à grande cidade de Nínive …” (v.2) A ordem é a mesma da primeira vez. E nisso aprendemos que Deus não muda sua vontade só pelo fato de não gostarmos dela.
Temos a impressão de que Jonas só pregou aos ninivitas, quando enviado pela segunda vez, porque não teve outra opção. Isso porque o v.3 diz que Nínive levava “três dias para percorrê-la”. E no v.4 somos informados que Jonas a
percorrer só “caminho de um dia”. Isto significa que o nosso profeta não completou a caminhada da cidade, demonstrando assim má vontade em sua proclamação. Tipo coisa: “Já falei o suficiente, chega”.
“Ainda quarenta dias e Nínive será subvertida.” (v.4).
“Quarenta dias” é uma expressão que nos lembra o dilúvio (Gn 7:17). É uma expressão muitas vezes usada nas Escrituras para falar de juízo divino.
Jonas com seus preconceitos, odiava os ninivitas. Portanto sua mensagem não é para salvar, mas para condenar. Estava obedecendo uma ordem divina, mas sem a mínima paixão. Pregava o juízo mas sem lágrimas nos olhos.
Que mensagem precária a de Jonas: “Ainda quarenta dias e Nínive será subvertida”. Não havia unção. Não havia vibração. Não havia o óleo da graça que cura e liberta. Havia apenas o tom de condenação, e era o que ele
queria.
Mas algo extraordinário acontece. Mesmo sendo uma pregação sem unção e sem poder, causou um impacto tremendo naquela cidade. E assim, surpreendentemente, Nínive “cidade mui importante para Deus” (v.3) é convertida. Deus é inquestionavelmente soberano. Mesmo que os nossos planos
e projetos limitadíssimos falhem, os Dele são infalíveis. O que Deus quer fazer, Ele faz e “ninguém pode lhe deter a mão”.
CAPÍTULO QUATRO: AMANDO OS SECUNDÁRIOS DA VIDA
“Com isso desgostou-se Jonas extremamente, e ficou irado” (v.1).
Jonas, ao invés de se alegrar, teve um extremo desgosto, por ver a cidade se converter e saber que a sentença da condenação por ele pronunciada, não seria mais aplicada a Nínive. Sua pregação foi um sucesso, mas ele não queria a graça de Deus para aquele povo. Que mentalidade exclusivista!
Os preconceitos de Jonas estavam tão impregnados em seu coração, que a alegria deu lugar a ira, a ponto de entrar num processo depressivo: “Melhor me é morrer do que viver” (v.3).
Jonas fez uma barraca e ali ficou para “ver o que iria acontecer àquela cidade” (v.5).
Tão duro era o coração de Jonas, que ele ainda esperava que Deus mudasse de pensamento e destruísse Nínive.
Para dar uma lição no profeta, Deus fez nascer uma aboboreira para fazer sombra para ele. E esta planta se torna de um momento para outro o tesouro do coração de Jonas. No dia seguinte, Deus manda um verme para ferir e matar a planta (v.7). E aquela planta que dava conforto a Jonas murchou deixando-o exposto ao sol. O que o deixou irado novamente (v.9).
“Tens compaixão da planta …” (v.10).
Que insensatez! Jonas amava mais as coisas do que as pessoas. Conseguia chorar e se sensibilizar por causa de uma planta, por outro lado, nutria ódio pelas pessoas.
Jonas é um retrato de muitos hoje em dia. Hoje nossa aboboreira pode ser um carro, a casa, móveis, nosso conforto, etc.
Devemos nos lembrar que se pusermos o coração nas coisas secundárias da vida, não devemos esperar que a nossa alegria seja mais duradoura do que a de Jonas.
“Melhor me é morrer do que viver”. Nisso devemos concordar com o profeta.
Para quem coloca a vida num nível tão mesquinho, é melhor morrer do que viver.
Jesus disse: “Ajuntai tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não consomem”.
Se o nosso coração estiver nas coisas secundárias da vida, as angústias se sucederão uma após outra, pois estes tesouros são falíveis e efêmeros.
Ponhamos o nosso coração nas coisas imperecíveis e eternas.
“… Não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive?” (v.11).
Finalmente Jonas aprendeu. Deus tem compaixão de pecadores. Por isso, foi que o comissionou para pregar em Nínive. O recado final é no sentido de que ele volte a amar as pessoas. Não coloque os preconceitos acima da salvação.
Volte a amar, mesmo aquelas pessoas estranhas a sua volta.
EM JONAS APRENDEMOS
1 – Deus é soberano e sempre realiza sua vontade
2 – É impossível qualquer tentativa para fugir de Deus
3 – Os pr econceitos nos tornam sem amor pelos incrédulos
4 – Quando estamos em desobediência nos tornamos maldição onde quer que vamos
5 – Quando amamos os secundários, nossa vida se torna mesquinha e sem alegria
6 – O caminho da desobediência sempre nos coloca em enrascadas
7 – O quanto Deus ama os pecadores
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