Autor: Jubal Neves
Qual a verdadeira razão de ser da alegria do Natal? Queremos voltar a esta questão, em busca de uma pedagogia da repetição.
É difícil esconder uma boa dose de irritação e inconformidade com decorações natalinas repletas com o velhinho em trajes de inverno (Papai Noel), pinheiros cobertos de flocos de neve, trenó puxados por renas…
É verdade, pouco pode ser feito contra a força da mídia, das vitrines, das propagandas em outdoors, enfim, há gente que tem no Natal uma enorme oportunidade de promover o consumismo e, portanto, de ganhar dinheiro. Muitos também querem anciosamente poder pagar as suas contas, ainda que outros gananciosamente desejam enriquecer mais e mais.
Certamente que as igrejas cristãs contribuíram para a implementação desse processo todo, e eu me lembro da minha infância recheada de sonhos com o Papai Noel e seus presentes, as promessas para compensar um “bom comportamento”, as canções de Natal importadas do hemisfério norte, as lendas envolvendo meias e sapatos nas lareiras (e não havia lareira em minha casa, tampouco lidava com trenó, nem conhecia neve…).
Na verdade, o fato é que “trabalhamos” tão pouco o presépio, iniciativa do querido São Francisco de Assis… Temos sido tão pouco criativos em inculturar a expressão desta grande festa, fundamental na compreensão do cerne da nossa fé e prática cristã. Nem ao menos procuramos resgatar para a nossa cultura as verdades por trás desses símbolos, que tem sido manipulados por outros interesses.
E encontramos uma grande briga: “Jesus Cristo x Papai Noel”. E se perguntarmos a 10 crianças sobre a primeira imagem que têm quando pensam no Natal, o “bom velhinho” ganha de goleada. Em muitos lares é gerada uma despesa desenfreada que faz de uma celebração de humildade e simplicidade uma festança de gastos e comilanças. Em outros gasta-se tanto dinheiro em luzes e cores, num desejo imenso por “estrelato”.
Fico sempre me perguntando se não haveria um jeito mais cristão de celebrar o nascimento de Jesus, a quem os anjos anunciaram dizendo “paz na terra aos homens e mulheres de boa vontade”… “Eis um motivo de grande alegria para todos…” (São Lucas 2, São Mateus 2). Um dia comentei que o texto bíblico (Lc 2.10-11) parecia ter sido alterado para “…motivo de grande alegria…nasceu o Salvador de vocês,- o Papai Noel, – o senhor…”
Claro que reconheço que é uma data em que a família se reúne, os amigos confraternizam, e isso de per si é um dos grandes símbolos do Natal de Cristo… (e alguns ficam tristes porque lembram pessoas queridas que não mais estão celebrando juntos…). Mas, lamentavelmente, uma semana depois é comum o esquecimento de tudo, e passam a pensar somente em férias e carnaval.
Proponho que descubramos as origens do “Papai Noel” fazendo uma pesquisa em torno de São Nicolau, bispo de Mira (Lícia, na Ásia Menor), que viveu de 271 a 341 AD. Descobrir o Natal na Idade Média – São Nicolau, o “Santo das Crianças”, – na Inglaterra especialmente, com a tradição que se desenvolveu na Igreja Anglicana, envolvendo teatro, música, drama, usos e costumes. Isso vai ajudar a perceber certas coisas que foram deixadas de lado nesse processo de exportação/importação. Mudar a imagem comum de “agente de vendas” do Papai Noel, passando a re-descobrir o seu verdadeiro significado original. Pesquisar a origem do pinheiro nas Festas Natalinas, árvore européia diferente da nossa araucária (temos aqui pertinho, no Parque Pinhal, em Itaara (RS). Deixar de lado a beleza exótica do pinheiro coberto de neve, e passar a re-descobrir na vegetação brasileira regional o sentido da “árvore da vida”.
E convido para uma reflexão, aproveitando toda a propaganda comercial e o uso indiscriminado de figuras sócio-culturais de outra geografia:
· Vamos neste Natal “trabalhar” com mais atenção e ênfase o relacionamento dos idosos com as crianças, valorizando quem tem sido tão desprezado por nossa sociedade, sem ter acesso às três dimensões fundamentais da vida em sua plenitude, – a material, a afetiva e a espiritual.
· Vamos celebrar a alegria da caridade e da partilha, começando por pequenas e simples coisas, na convivência fraterna.
· Vamos cultivar na criança a capacidade saudável de sonhar e fantasiar. A palavrinha “saudável” é imprescindível! Há quanta criança sem chance de pelo menos sonhar, sem esperança, sem afeto…
· E vamos redescobrir a história do santo cristão que viveu o Evangelho de amor do Cristo de forma tão concreta, partilhando os dons e riquezas que recebeu, como dádiva de Deus não apenas para si próprio. Tudo seria diferente se os senhores e senhoras deste nosso mundo fossem como São Nicolau de Mira… A visão do Profeta Isaías 2.1-5 estaria sendo história!
Um abençoado Natal para você e sua família! Que Jesus Cristo, Deus-Menino, brilhe e ilumine sua caminhada em 2002.
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